BC autorizou esvaziamento do Master três meses antes da liquidação

Foto: Reprodução/money report
Autorização para a saída de ativos estratégicos meses antes da liquidação expõe contradições na supervisão e abala a imagem da autoridade monetária
A crise da liquidação do Banco Master ganhou um capítulo incômodo para o Banco Central (BC). Como revelou a colunista do uol Mariana Barbosa, nesta segunda-feira (24), a autoridade monetária autorizou em agosto uma reestruturação que permitiu a saída do sócio e ex-CEO Augusto Lima. Com ele se foram alguns dos ativos mais rentáveis do conglomerado.
Na prática, o aval abriu espaço para um esvaziamento de liquidez e patrimônio antes da liquidação extrajudicial, deixando para trás um rombo ainda maior e um sistema financeiro mais exposto. O que piora o episódio é que, à época, as desconfianças sobre a solidez do Master já eram grandes.
A decisão, agora sob escrutínio, expõe uma contradição. Enquanto o BC barrava a venda do Master ao BRB e monitorava as irregularidades de Daniel Vorcaro em tempo real, também validava movimentos que protegiam determinados sócios e ativos de uma intervenção já considerada inevitável.
O Voiter, antigo Indusval, levado por Lima, escapou do regime de administração especial. Já o Letsbank, destinado ao sócio Maurício Quadrado, não teve a mesma sorte e acabou absorvido na liquidação.
Na avaliação de MONEY REPORT, o episódio reforça um ponto. O BC resolveu um problema que antes deixou crescer. Como bem analisou o publisher Aluizio Falcão Filho, as fragilidades do Master eram conhecidas havia pelo menos dois anos, desde a emissão excessiva de CDBs até as suspeitas de irregularidades agora sob investigação. A demora em agir permitiu que a crise se arrastasse e que parte dos ativos fossem retirados.
É fato que, na reta final, o BC resistiu ao lobby político, negou o socorro articulado no Congresso e liquidou o Master após identificar irregularidades graves envolvendo títulos sem lastro vendidos ao BRB no valor de R$ 12,2 bilhões. O BC tardou, mas não falhou, como resumiu Falcão Filho. No entanto, a autorização do esvaziamento societário deixa arranhões na percepção pública e chama atenção para um ponto sensível: se a supervisão foi contínua, por que a exaustão do Master recebeu sinal verde diante de tanta desconfiança?
Enquanto isso, o Will Bank, pertencente ao Vorcaro, fora da liquidação, mas também sob desconfiança, teve sua venda ao fundo árabe Mubadala por R$ 3 bilhões suspensa pelos interessados. Agora o BC precisa responder ao mercado: a autoridade monetária foi vítima do timing ou alguém lá dentro seria negligente ou omisso?




