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Careca do INSS nega na CPI relação com parlamentares: “Ninguém me conhece”

Foto: Reprodução

O lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, que ficou conhecido como “Careca do INSS”, disse nesta quinta-feira (25) em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga descontos irregulares em benefícios previdenciários que não tem negócios com governos e que não conhece o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT).

“Eu não conheço o ministro Lupi”, disse o depoente. “Não tenho qualquer relação com o governo em nenhuma de suas esferas, federal, estadual ou municipal. Jamais foi objetivo da minha atuação empresarial estabelecer parcerias com o setor público”, declarou.

Antunes, negou e chamou de “calúnias” as acusações que pesam sobre ele sobre as fraudes do INSS. Preso desde 12 de setembro, apontado como um dos principais operadores do esquema que desviou milhões de aposentados e pensionistas.

O lobista havia sido convocado a comparecer no colegiado em 15 de setembro, mas conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de não ir. A presença dele na comissão, então, é de forma espontânea.

“Sempre acreditei que a verdade, sustentada em fatos e documentos, seria o suficiente para afastar a mentira, a inveja e a calúnia que vem sendo disseminadas desde o início dessa investigação”, iniciou Antunes, em sua defesa. Quando foi começar a sessão de perguntas, porém, já houve confusão e o deputado federal Zé Trovão (PL-SC) levantou e foi para cima do advogado do Careca do INSS, fazendo com que a sessão fosse suspensa por alguns instantes.Play Video

O depoente chegou a levantar e ameaçar ir embora. A sessão foi retomada, mas Antunes não respondeu as perguntas do relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL).

Após esse bate-boca, os ânimos se acalmaram e Antunes passou a responder as perguntas, sempre negando culpa em crimes e chamando de falsas as acusações contra ele. Questionado sobre ganhos, bens de luxo de mais de 20 empresas em seu nome, tentou justificar dizendo ser “um empresário próspero”.

“Não existe essa rede de relacionamento minha com parlamentares, qualquer que seja, haja vista que vocês são um grupo inteligente, seleto. Pergunte a quem me conhece aqui dentro dessa casa. Ninguém me conhece, eu não tenho interesse, eu não trabalho com o governo, qualquer que seja as suas esferas”, insistiu Antunes.

Ainda segundo ele, o único contato que teve com integrantes do Congresso foi em visita à casa do senador Weverton (PDT-MA) para tratar de produtos à base de cannabis.

“Na época, eu estava com uma representação de uma marca internacional de um produto à base de cannabis”, afirmou.

Diversos integrantes da CPI ligados à direita o questionaram sobre sua relação com o senador Weverton Rocha (PDT). Weverton é o político mais visado pelo colegiado até agora porque pessoas próximas a ele foram citadas nas investigações.

Antunes afirmou que compareceu a um churrasco de costela na casa do senador, quando teria falado com ele sobre a regulação da venda de derivados de cannabis -ou seja, uma atividade de representação empresarial sem ligação com descontos em aposentadorias.

Também disse que esteve no gabinete do senador em outras ocasiões, mas que não conversou com o político. O interlocutor teria sido Adroaldo Cunha Portal, hoje secretário-executivo do Ministério da Previdência, mas que, na época, trabalhava no gabinete de Weverton. A visita também teria sido para tratar sobre o mercado de cannabis.

O depoente negou que tenha tentado obstruir investigações sobre as fraudes, motivo que teria levado à sua prisão preventiva.

Antunes declarou que prestava serviços a entidades investigadas, mas que não era ele quem prospectava clientes ou programa descontos em benefícios. “Não sou responsável, nunca fui, não tenho expertise para esse lado da bandidagem”, afirmou.

“Jamais fui responsável pelo recrutamento de associados, tampouco exerci qualquer ingerência sobre a inserção de dados no sistema do INSS. Todos os serviços contratados pelas associações tinham como destinatário final o próprio associado aposentado, beneficiário direto das atividades desempenhadas”, disse ele.

O depoente também rejeitou o apelido ‘Careca do INSS’. “Induziram pessoas de bem, veículos de comunicação respeitados, profissionais de imprensa e toda a sociedade a acreditarem em uma narrativa fantasiosa, declarou.

Antunes é apontado como peça central de um esquema de descontos irregulares em aposentadorias junto com Maurício Camisotti, que supostamente seria sócio oculto de uma das entidades beneficiadas pelos descontos irregulares.

Apontado em investigação como “epicentro da corrupção ativa” e lobista profundamente envolvido no “esquema de descontos ilegais de aposentadorias”, Antunes recebeu R$ 53,58 milhões de entidades associativas e de intermediárias, de acordo com a investigação da Polícia Federal.

Segundo relatório de investigadores, o pagamento ocorreu por meio de empresas de Antunes, que teria repassado R$ 9,32 milhões a servidores e companhias ligadas à cúpula do INSS.

Empresas de Antunes teriam feito repasses de R$ 6,8 milhões para firmas de altos funcionários do INSS também investigados, segundo depoimento de Rubens Oliveira, apontado como um intermediário do esquema.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, Antunes comprou salas comerciais e pagou R$ 700 mil com Pix. Também deixou de registrar imóveis comprados por meio de uma empresa offshore.

Fraudes do INSS

  • O escândolo do INSS foi revelado pelo portal Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023.
  • Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
  • As reportagens levaram à abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU).
  • Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23/4 e que culminou nas demissões do presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

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