Operação da Corregedoria da PM-SP prende militar acusado de executar delator do PCC, e 13 treze militares
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Operação da Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo prendeu nesta quinta-feira (16) um policial militar da ativa suspeito de ter matado o empresário Vinícius Gritzbach, delator do PCC executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Gritzbach era acusado de envolvimento em esquemas de lavagem de dinheiro para a facção criminosa. Na delação premiada assinada com o Ministério Público, ele entregou o nome de pessoas ligadas ao PCC e também acusou policiais de corrupção.
A prisão nesta quinta é parte de uma operação que mirou policiais militares suspeitos de vazar informações sigilosas para favorecer criminosos da facção. Outros 13 PMs também foram presos e há mandado de prisão contra mais um.
Em entrevista, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse que as prisões mostram que a corporação não admite desvios de conduta e prometeu punição.
“É inadmissível o envolvimento de agentes da lei com o crime seja da polícia militar, da polícia civil. aqueles que tiverem desvios de conduta em especial envolvimento o crime organizado serão severamente punidos”, afirmou.
Até a última atualização desta reportagem, não havia detalhes sobre como era a atuação no esquema junto ao PCC do PM preso pela morte de Gritzbach. Também não estava claro se ele era um dos policiais contratados pelo empresário para fazer sua escolta particular.
Segundo Derrite, ainda não se sabe o motivo do assassinato de Gritzbach.
Vazamento de informações
A investigação começou após uma denúncia anônima recebida em março do ano passado sobre vazamentos de informações sigilosas que favoreciam criminosos ligados à facção. O objetivo era evitar prisões e prejuízos financeiros do grupo criminoso.
Segundo a Corregedoria, informações estratégicas eram vazadas e vendidas por policiais militares da ativa e da reserva.
Um dos beneficiados era Gritzbach, que usava PMs em sua escolta privada, caracterizando a integração de agentes à organização criminosa.
Cronologia da investigação
- Abril de 2024 – a Corregedoria da PM instaura um inquérito para apurar o envolvimento de policiais com o crime organizado. A denúncia dava conta de que PMs faziam segurança e também passavam informações sigilosas para os criminosos.
- Outubro de 2024 – Uma nova denúncia chega à Corregedoria. Fotos mostravam PMs fazendo escolta para Vinícius Gritzbach durante uma audiência no Fórum da Barra Funda.
- 8 de novembro de 2024 – Gritzbach é assassinado no aeroporto em Guarulhos. PMs que faziam a escolta dele são detidos e têm os celulares apreendidos.
- A Corregedoria da PM começa, então, a cruzar as informações e descobre que os policiais faziam parte de uma rede de proteção do PCC. Eles passavam informações para que os criminosos pudessem se antecipar às ações da polícia.
- Dessa forma, a Corregedoria chegou a um dos executores de Gritzbach. Pela quebra do sigilo telefônico, descobriram que ele esteve na cena do crime. Depois, fizeram um minucioso trabalho de reconhecimento, ouvindo testemunhas que viram o homem durante a fuga.
Câmeras de segurança do aeroporto gravaram o assassinato de Gritzabach, cometido por homens encapuzados usando fuzis, que fugiram em seguida.
Um motorista por aplicativo que estava ali no local acabou sendo atingido por um dos disparos e também morreu.
Dois suspeitos de participarem da execução foram presos dias depois por uma força-tarefa criada pelo governo paulista para investigar o caso.
Oficial é investigado
Um dos alvos da investigação foi o capitão Raphael Alves Mendonça, que atuou na APMPGJ (Assessoria Policial Militar da Procuradoria Geral de Justiça) até junho do ano passado.
Ele serviu na Rota durante seis anos, foi comandante de pelotão, chefe da Agência de Inteligência e da PJMD (Polícia Judiciária Militar e Disciplina). O oficial foi transferido para o CPChoque (Comando de Policiamento de Choque) em setembro de 2022, para ocupar a função de chefe da Agência Regional de Inteligência.
O capitão não foi citado pelo autor da denúncia. Porém, a PM apurou que ele é amigo pessoal de diversos investigados no inquérito e responsável pela indicação deles para para trabalhar na AI (Agência de Inteligência) da Rota. O oficial tem contato rotineiro com todos no serviço e até em festas nas casas deles.
Cabos e sargentos são alvos
Entre os militares amigos pessoais e de confiança do capitão estão quatro cabos. As investigações apontam que um deles, Vagner de Deus Leão, o Gato Grande, foi motorista do capitão, quando o oficial trabalhava na Rota e foi indicado por ele para atuar na Agência de Inteligência daquele batalhão.
O autor da denúncia anônima encaminhada à PM contou que Vagner divulgou diversas informações, inclusive dados de viaturas aos narcotraficantes Cara Preta, Django e Cebola, protegendo os negócios e também as pessoas de interesse desses criminosos.
Vagner seria dono do Rota’s Bar e teria como sócio o cabo Jefferson Silva de Rossi, do 8º Batalhão (Tatuapé) que demonstra padrão de vida incompatível com os vencimentos na PM. Ele posta nas redes sociais fotos em barcos, lanchas, carros de luxo e resorts. Ambos teriam recebido quantias expressivas de Django e Cebola.
Na lista de investigados está ainda o sargento aposentado José Roberto Barbosa de Souza, o Mão de Rã, que serviu de 2008 na 2018 na Rota e trabalhou na seção de rádio. Quando era cabo, em 2022, candidatou-se a deputado federal, mas não foi eleito. Ele teria passado informações ao PCC e usado veículos da facção em seu comitê eleitoral.
Ainda na condição de cabo, ele trabalhou no mesmo período com o sargento Alexandre Aleixo Romano Cezário, o Pantera, na sessão de rádio da Rota, onde atuou de 2004 a 2012. Ambos atuaram como segurança na empresa de ônibus Transwolff, da zona sul paulistana, acusada de ligação com o PCC, e teriam passado informações para o narcotraficante Cebola.
Um terceiro sargento investigado, Marcelo Barbosa de Lima, o Barbosinha, trabalhou quase a carreira toda em batalhões da zona leste. Ele teria passado informações ao PCC e contratado PMs para fazer a segurança pessoal do narcotraficante Japa. A última unidade onde o sargento trabalhou foi no gabinete do comandante-geral.
Outro investigado é o soldado Alef de Oliveira Moura, que era da Rota e foi transferido para o 18º Batalhão, na zona norte. Ele foi identificado como um dos nove policiais militares que faziam escolta para Vinícius Gritzbach e desembarcou com ele no aeroporto de Guarulhos, no dia do crime. Eles voltavam de viagem de Maceió.