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Minérios raros colocam o Brasil no centro da disputa comercial entre EUA e China

Foto: Reprodução Web

Em meio à crise entre os dois países e à briga por minerais, o Brasil pode surgir como um potencial parceiro estratégico

O anúncio da China de aumentar as restrições às terras raras reacendeu a tensão com os Estados Unidos, que já haviam imposto tarifas adicionais de 100% a produtos chineses. Em meio ao dilema dos dois países e à briga por minerais, o Brasil pode sugir como um potêncial parceiroestratégico dos norte-americanos.

📝Os minerais raros são usados para fabricação de diversos produtos de alta tecnologia, como celulares, computadores, turbinas eólicas, equipamentos médicos e até mesmo mísseis e caças.

O Brasil é o segundo país com maior reserva de terras raras, com 23% das reservas mundiais. Ficando atrás somente da China, que possui 49%. Protagonista no setor, os chineses chegaram a atingir 95% da participação global em 2010.

Neste contexto, o governo norte-americano tenta diversificar as fontes de fornecimento desses minerais, o que pode ser um trabalho complexo devido ao monopólio chines neste setor.

Para especialistas ouvidos pela reportagem, os Estados Unidos tendem a voltar seus olhos ao Brasil como alternativa estratégica.

O coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores, Vito Villar, entende que, apesar de pouco exploradas e com baixa participação nas exportações globais, essas terras podem representar um ativo importante para um entendimento bilateral.

O tema volta com força após a recente aproximação entre Brasil e Estados Unidos. Na última quinta-feira (16), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, reuniram-se na Casa Branca, em Washington, para discutir a situação comercial entre as nações.

“A necessidade do governo Trump de diversificar fornecedores pode se sobrepor à sua disposição de manter tarifas elevadas, especialmente diante do interesse brasileiro em utilizar esse tema como moeda de troca”, explica Vito Villar.

O especialista observa que os dois países podem tratar de temas, como:

📌 Transferência de tecnologia e de processos de beneficiamento das terras raras;

📌 Acordos bilaterais de sustentabilidade, garantindo padrões ambientais e sociais na exploração;

📌 Contrapartidas comerciais, como maior acesso do agronegócio e da indústria brasileira ao mercado norte-americano, além de mecanismos de proteção recíproca a investidores.

Possível impasse

Apesar do interesse estrangeiro, a exploração dessas áreas preocupa ambientalistas. Na China, por exemplo, o modelo para extração dos minerais é altamente poluente, o que fez o país restringir a exportação do material bruto, focando na venda de produtos beneficiados.

Para o diretor do Observatório da Mineração e mestre em desenvolvimento sustentável, Maurício Angelo, não existe mineração sustentável. “Não dá para falar que a mineração é sustentável, porque é uma atividade essencialmente que extrai recursos finitos, que geram um impacto ambiental muito grande, um dano que é irrecuperável na maior parte dos casos”, salienta.

O especialista em comércio exterior Jackson Campos comenta que até mesmo as legislações brasileiras podem dificultar a exploração por parte de empresas estrangeiras, uma vez que os títulos de mineradoras precisam da regulação da ANM (Agência Nacional de Mineração) e o licenciamento ambiental é emitido pelo Ibama.

“Em 2025, houve atualização do marco de licenciamento para dar mais clareza e previsibilidade, mas projetos de maior impacto continuam sujeitos a avaliação rigorosa e judicialização possível. Regras sobre terras indígenas, uso da água e resíduos também se aplicam. Em síntese: o Brasil vem ajustando o rito, porém não é ‘fast-track’ ”, constata.

Em meio à discussão sobre o tema e à reunião com os EUA, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalou o Conselho Nacional de Política Mineral, criado em 2022.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, o objetivo do grupo é discutir minerais críticos e estratégicos, mineração sustentável, segurança energética e alimentar.

Distribuição das terras raras

A China, que segue protagonista, mantém uma posição quase monopolista no refino e processamento de terras raras, controlando de 85% a 90% da capacidade global nessa etapa, que é um ponto crítico da cadeia de terras raras.

Outros países como Rússia, Índia, Austrália e Vietnã também possuem reservas de minerais raros. O mesmo ocorre com a Groenlândia, recentemente alvo de disputa pelo presidente Donald Trump, que queria anexar o território.

Mesmo que o Brasil decida desenvolver o setor, sua participação no mercado ainda é pequena, com apenas 1%, segundo o Ministério da Ciência. Porém, pesquisadores entendem que o país deve realizar maiores investimentos em ciência e tecnologia direcionados para essa área.

Segundo Victor Brandão, consultor de relações governamentais da BMJ Consultores e especialista em mineração, a China é dominante tanto na extração, quanto na fase de melhoramento.

“Qualquer país que tenha uma reserva relevante do minério, começando hoje, demoraria de 20 a 30 anos para ter uma produção expressiva, considerando as fases da etapa mineral (pesquisa, licenciamento, lavra), passando pela cadeia seguinte, que envolve o mais fino estado da arte no campo da indústria, como aplicações em informática, energia e uso militar”, detalha Brandão.

O especialista Jackson Campos, por sua vez, ressalta que, no contexto das negociações entre EUA e Brasil, esse cenário pode acelerar acordos de fornecimento preferencial, investimentos em processamento local e parcerias tecnológicas.

“No entanto, para que esse potencial se concretize, é essencial garantir segurança jurídica, licenciamento ambiental eficiente e regras claras que conciliem exploração e responsabilidade socioambiental. A legislação brasileira permite a participação estrangeira, mas impõe exigências rigorosas, incluindo aprovação do Ibama e estudos de impacto. Se o país alinhar seu potencial mineral a uma estrutura regulatória estável, poderá se posicionar não apenas como fornecedor de matéria-prima, mas como elo estratégico na cadeia global de terras raras“, acredita.

Fonte: R7

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