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Dr. Mesquita: de carregador de mercadoria a médico dono de hospital 

Era março de 1964, plena revolução militar no País, e, em Goiás, a deposição do governador Mauro Borges. Exatamente nesse mês, uma família de oito irmãos, órfãos de mãe, deixava o interior do Estado para vir morar na Capital. A irmã mais velha, Aparecida Mesquita, então com 21 anos de idade, trouxe todos os irmãos, o caçula com seis anos de idade. Acreditava que seria pelos estudos que teriam vida melhor. E todos foram matriculados em escolas públicas, a maioria no turno noturno. 

Sebastião Mesquita, o número quatro na ordem cronológica dos irmãos, chegou a Goiânia com 15 anos de idade. Arrumou logo emprego em lanchonete, vendendo salgadinhos. Depois foi trabalhar no Supermercado Boca da Mata, como repositor de mercadorias. À noite, ia para a escola, onde fez o ginásio e o científico no Colégio Estadual Pedro Gomes. Novo emprego na então Casa Mesquita, de parente distante, onde esse adolescente fazia qualquer serviço, destacando-se como embalador e entregador de encomendas para clientes, levando os produtos de bicicleta, debaixo de sol ou chuva. Nas horas vagas, servente de pedreiro, balconista e carregador como chapa de caminhão, inclusive viajando para Cuiabá, mas nunca largando a escola.  

Concluído o 3º ano científico, com apoio de sua irmã, Aparecida, que era professora em duas escolas, para cuidar dos demais irmãos, Sebastião se dedicou inteiramente aos estudos durante um ano, com todas as dificuldades que a situação oferecia. Fez aulas no então cursinho Colu, antigo Colégio Universitário, preparatório para o vestibular. Passou para o concorrido curso de Medicina; e, já no primeiro ano da faculdade, voltou a trabalhar para manter os estudos, inclusive ministrando aulas no mesmo colégio onde estudou, o “Pedro Gomes”.  

No 5º e 6º anos de Medicina, deixou  se lado professor e começou estágios em colégios públicos, onde fazia atendimentos aos alunos para as aulas de educação física. Em paralelo, foi monitor de anatomia na Faculdade de Medicina; e, ainda no 5º ano, foi pra Maternidade Nossa Senhora de Lourdes; e atuava, também, como plantonista no Hospital Materno Infantil. A especialização  de residência médica, em Ginecologia e Obstetrícia, foi no Hospital Geral de Goiânia (HGG).  

Juntamente com amigos e colegas de turma, na faculdade e no trabalho,  os médicos Altamiro Campos e José Martins e Maria Ilca Meirelles, criou, em 1977, a Clínica ELA, instalada numa casa à Rua 9, Setor Oeste. Depois de algum tempo, a clínica foi transferida para outra casa alugada, à Rua Rua 6-A, no Setor Aeroporto. Logo, eles compraram área na mesma rua, construiu clínica própria. Nessa época, os médicos Vardeli Moraes e Clidenor Gomes Filho foram integrados ao grupo. Em 1994, a ideia cresceu e resolveram construir a Maternidade ELA, funcionando junto com os consultórios dos sócios. O empreendimento deu certo e foi preciso ampliar a maternidade.  

E, em 1995, a clientela cresceu e, com ela, o empreendimento. Já como diretor geral, Mesquita e seus sócios adquiriram outra área em frente a maternidade, onde construíram a ELA Centro de Medicina, então com 29 salas. Com a demanda crescendo na área de ginecologia, foi necessário ampliar o prédio que, hoje, conta com 60 consultórios. A Maternidade ELA, atualmente, tem 56 leitos e uma UTI neonatal. 

A dedicação de Sebastião Mesquita ao trabalho sempre foi intensa. Não se importava com horários para dormir ou comer, primordial sempre foi sua clientela, formada ao longo de 40 anos de profissão. Afinal, um bebê é quem escolhe a hora de nascer – não importa se dia ou noite. Até aqui, o Dr. Mesquita já somou mais de 20 mil partos e 10 mil cirurgias ginecológicas; e nunca assinou sequer um atestado de óbito de pacientes.  

O conhecimento, a dedicação e o carinho à profissão o fez muito conhecido em Goiás. É um dos 49 fundadores da cooperativa de médicos Unimed (na época União de Médicos). Entre cursos, congressos e seminários no Brasil, Itália, Estados Unidos e Argentina (o último curso foi realizado há um ano, em cirurgia robótica), já participou de mais de 500. No consultório, fotos dos quatros filhos, os certificados ficaram bem guardados nas gavetas.  

Dr. Mesquita foi o precursor, em Goiás, de cirurgia de instalação de telas para incontinência urinária e tela de prolapso genital (queda de útero e bexiga). Ele também trouxe para Goiás o Balão de Bakri – utilizado para conter hemorragias pós parto, equipamento que conheceu em um congresso, em São Paulo, oportunidade em que aprendeu o seu manuseio; e, aqui, na Capital, já salvou inúmeras vidas com o mesmo. “O que mais me emociona, na minha profissão, é salvar vidas de mulheres com hemorragias e realizar a correção de prolapsos”, enfatiza, lembrando que os fatores que mais causam mortes em mulheres grávidas são a pré-eclâmpsia, hemorragias pós parto e as infecções.     

João Nascimento com a grande jornalista Nina Mesquita, autora dessa ideia de homenagear o irmão muito amado, que, em breve se tornará, de direito, Cidadão Honorífico da Cidade de Goiânia. 

Drs.: Altamiro Campos, Clidenor Gomes, José Martins da Costa, Maria Ilca Meireles, Paulo Jubé, Sebastião Mesquita e Vardeli Moraes.

Texto: João de Sousa Nascimento Sobrinho Nascimento

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