A volta dos analógicos

De uns anos para cá percebe-se uma mudança de hábitos entre os mais jovens da nossa população, um gosto maior por produtos analógicos, muito usados nos anos 80 e 90, o que notamos é uma busca pelo estilo retrô, ou como assim também são chamados de produtos cafonas, e não faltam exemplos deles, tais: a retomada dos grupos de crochê e de ponto cruz, sala de bordados, livros para colorir, a volta do CD e do vinil, ou seja, uma desconexão do mundo digital.
É de se notar que com este tipo de atitude, há uma pausa gradativa da tela, isso sem falar da higiene mental, ao bem estar e de quebra a melhoria da concentração. Tanto que recentemente a revista National Geographic citou em um artigo, que “as práticas manuais como jardinagem, tricô e cerâmica ativam áreas do cérebro relacionadas ao foco e à memória, funcionando como uma espécie de treino natural”, citou.
Passeando pelas feiras de nossa cidade, é bem comum ver algumas bancas já trazendo, de modo ainda tímido, tapetes de linhas onde os seus artesãos tecem seus produtos na hora, enquanto vedem sua arte. Ou ainda, mesas expondo brinquedos dos anos 1980, a exemplo: jogos de tabuleiro e legos, carrinho de rolimã e saquinhos com bolinhas de gude. São experiências que mantêm o prazer do tato e do desafio sem a intermediação da tela, reintroduzindo o corpo no centro da atenção. O aparelho digital passa a ser somente coadjuvante, enquanto as pessoas brilham no papel principal.
Aqui faço um parêntese, ‘atualmente vivemos em um mundo digital, ou seja, estamos conectados boa parte do tempo de nossas vidas, seja no trabalho, no transporte, ou até mesmo em reuniões com os amigos’, isso é fato, e com essa postura vem um cenário de hiperconectividade e com ele um certo preço a pagar: o cansaço mental, o estresse e a ansiedade, porém, sabemos que não conseguimos viver fora desse ambiente, mas essa postura vem mudando gradativamente, ainda bem.
Segundo o psicólogo clínico e neuropsicólogo, José Carlos Silva, “os brinquedos e passatempos analógicos exigem uma presença física, muito mais foco e, inclusive envolvimento sensorial, logo vem as vantagens: menos estresse e ansiedade, o estímulo à criatividade e principalmente a conexão com o momento atual, possibilitando que o usuário se distancie da pressão constante que envolve prazos e notificações”, conclui.
Saber dessa mudança comportamental, é dar mais uma vez a chance de desintoxicar do vício dessas telinhas tão nocivas à saúde, e que afetam diretamente ao corpo físico e à mente humana. É uma oportunidade fundamental de sairmos da caixa e pensarmos por nós mesmos e não nos tornarmos robotizados ou alienados.

Luiz Galvão é jornalista e escritor.



