Política

Após PR, governo de Goiás também decide recolher livro ‘O Avesso da Pele’

Na mira de bolsonaristas desde o início da semana, o livro “O Avesso da Pele” também será recolhido das escolas estaduais de Goiás após determinação da Secretaria de Estado da Educação.

O livro de autoria do escritor Jeferson Tenório, está no centro de uma polêmica iniciada após a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, em Santa Cruz do Sul (RS), pedir ao Ministério da Educação (MEC) o recolhimento dos exemplares distribuídos para alunos do ensino médio alegando “vocabulário de baixo nível” e “vulgaridade” de termos utilizados na história. Desde então, estados inteiros estão retirando das escolas públicas exemplares do livro, que venceu prêmios literários e trata de temas como racismo e sexualidade.

A diretora em questão, Janaina Venzon, expôs trechos que considerou inapropriados em um vídeo nas redes sociais, desencadeando uma série de reações políticas e sociais. Os defensores da obra afirmam que a educadora descontextualizou as passagens para gerar polêmica.

No vídeo, Venzon aponta passagens do livro que retrata questões raciais e sexuais. Parlamentares conservadores, como a deputada estadual Kelly Moraes (PL-RS) e os deputados federais Zé Trovão (PL-SC), Marcelo Moraes (PL-RS) e Bia Kicis (PL-DF), associaram a adoção do livro à gestão atual do Ministério da Educação e ao PT.

O que aconteceu

A secretaria diz que “fará a leitura e análise com vistas a definir se o livro poderá ou não ser distribuído” aos alunos do ensino médio. O governador Ronaldo Caiado (União) segue a mesma determinação do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que pediu o recolhimento dos exemplares na segunda-feira (4), ambos são aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O governo de Goiás afirma que o recolhimento tem o objetivo de “assegurar” que a obra possa “efetivamente contribuir com o desenvolvimento” dos alunos. O Paraná também afirmou que fará uma análise do livro.

O livro faz parte do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e foi incluído na lista de obras literários para o ensino médio em 2022 — durante o governo Bolsonaro. O livro passou por uma análise de professores, mestres e doutores que fazem parte do banco de avaliadores do MEC. Após a avaliação, o título foi aprovado e apresentado às escolas junto de mais de 500 outras obras literárias.

O programa do MEC também dá autonomia para que os professores e gestores escolham os livros que chegarão às escolas. “O Avesso da Pele” faz parte também das obras literárias abordadas no vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), considerado o mais difícil do país.

Vencedor do Prêmio Jabuti em 2021, o livro é do escritor e professor Jeferson Tenório, colunista do UOL. Na obra, ele retrata a história de um jovem negro que teve o pai, um professor de literatura também negro, morto pela polícia em Porto Alegre — o racismo e a violência são temas centrais da narrativa.

As críticas ao livro começaram após a publicação, em redes sociais, de uma diretora de uma escola do Rio Grande do Sul. Ela afirmou que a obra apresenta “vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio”. A secretaria da Educação do RS afirmou que o livro está mantido nas escolas.

Partidos pedem investigação

A federação PSOL-Rede na Câmara dos Deputados entrou com representação ao MPF (Ministério Público Federal) pedindo uma investigação contra o governo do Paraná. Para os deputados, a medida tomada no estado viola uma lei federal.

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