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Ataque russo a porto ucraniano pode prejudicar acordo de cereais

Pacto assinado nesta sexta (22) entre os países busca amenizar a fome que afeta 47 milhões de pessoas devido à guerra.

A Ucrânia acusou a Rússia neste sábado (23) de lançar mísseis contra o porto estratégico de Odessa e de “quebrar suas promessas”.

O ataque aconteceu um dia depois que os dois países tinham fechado um acordo para retomar as exportações de grãos, bloqueadas pela guerra.

O porta-voz da força aérea ucraniana, Yuriy Ignat, informou que o porto de Odessa foi atacado quando cargas de cereais estavam sendo processadas, e que outros dois mísseis foram interceptados.

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em Kiev  — Foto: Valentyn Ogirenko/REUTERS
Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em Kiev — Foto: Valentyn Ogirenko/REUTERS

Em uma reunião com legisladores americanos, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky se pronunciou sobre o caso: “Isso prova que não importa o que a Rússia diga ou prometa, sempre vai encontrar uma maneira de não cumprir os acordos”.

A Rússia não se pronunciou oficialmente sobre a acusação, mas segundo o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, nega ter atacado o porto.

Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, ao disparar mísseis no porto, o presidente russo, Vladimir Putin, “cuspiu na cara do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e do presidente turco, Recep (Tayyip) Erdogan, que fizeram enormes esforços para chegar a esse acordo”. Ele complementou que a Rússia deve assumir “toda a responsabilidade” se o acordo falhar e “a crise alimentar mundial” se aprofundar.

ONU e países reagem ao ataque

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou “inequivocamente” o ataque e destacou que “a implementação completa (do acordo) pela Federação Russa, Ucrânia e Turquia é imperativa”.

Na mesma linha, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que o ataque “demonstra o total desrespeito da Rússia pelas leis e compromissos internacionais”, enquanto a chanceler britânica, Liz Truss, o classificou como “completamente injustificado”.

“Este ataque lança sérias dúvidas sobre a credibilidade do compromisso da Rússia com o acordo desta sexta-feira (22)”, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em comunicado.

De acordo com o governador da região de Odessa, Maksym Marchenko, os ataques deixaram “várias pessoas feridas”, sem dar mais detalhes.

Entenda o acordo

O pacto – que foi assinado na Turquia – é o primeiro grande acordo entre as partes em conflito desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro. O acordo busca ajudar a amenizar a fome que, segundo a ONU, afeta 47 milhões de pessoas a mais devido à guerra.

A Ucrânia se recusou a assinar diretamente o mesmo documento com a Rússia, então ambos os países assinaram acordos idênticos separados com a Turquia e a ONU, na presença de Guterres e Erdogan, em Istambul.

“Hoje há um farol no Mar Negro, um farol de esperança, um farol de alívio”, disse Guterres pouco antes da assinatura. Erdogan, peça-chave na negociação, disse esperar que o acordo “reviva o caminho para a paz”.

Antes de assinar, a Ucrânia alertou que daria “uma resposta militar imediata” se a Rússia violasse o pacto e atacasse seus navios ou invadisse seus portos.

Zelensky afirmou que a ONU deve garantir o cumprimento do acordo, que inclui o trânsito de navios com cereais ucranianos por corredores seguros para evitar minas no Mar Negro.

Até 20 milhões de toneladas de trigo e outros grãos estão bloqueados nos portos ucranianos, especialmente Odessa, por navios de guerra russos.

Zelensky estima o valor dos estoques de grãos da Ucrânia em cerca de US$ 10 bilhões.

A Rússia tenta assumir o controle total da província de Donetsk e da vizinha Luhansk. Ambas as regiões compõem a região do Donbass, no leste da Ucrânia, que viveu mais um dia de bombardeios pesados.

Dois americanos morreram nesta região, controlada parcialmente por separatistas pró-russos desde 2014. O Departamento de Estado dos Estados Unidos não informou se eles eram combatentes.

Cidades da Ucrânia sofreram ataques neste sábado (23)

Na região central da Ucrânia, pelo menos três pessoas, incluindo um militar, foram mortas e outras 16 ficaram feridas neste sábado (23) durante um ataque de mísseis russos à infraestrutura ferroviária e a um aeródromo militar na cidade ucraniana de Kirovograd.

A Rússia também continua bombardeando Kharkov, a segunda maior cidade ucraniana, localizada no nordeste. Os ataques deixaram pelo menos uma mulher ferida.

Um homem morreu na região de Sumy, a noroeste da capital. Outros dois, incluindo um adolescente, ficaram feridos em ataques em Mikolaiv, a maior cidade sob controle ucraniano perto de Kherson, ocupada pelos russos.

Fonte: g1

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