Bolsonaro disse à PF que tentou romper tornozeleira com ferro de solda

Tornozeleira de Bolsonaro com avarias – Foto: Reprodução / PF
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse à Polícia Federal que tentou romper a tornozeleira eletrônica que usava com ferro de solda, segundo documento da Seape-DF (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal). Bolsonaro foi preso preventivamente.
O equipamento possuía “sinais claros e importantes de avaria”, diz documento da Seape. “Haviam (sic) marcas de queimadura em toda sua circunferência, no local de encaixe/fechamento do case”, afirma trecho do relatório. Bolsonaro foi, então, questionado por agente da secretaria sobre o instrumento utilizado e informou que fez o uso de “solda para tentar abrir o equipamento”.
Inicialmente, os agentes foram informados que aparelho havia batido numa escada. Segundo o relatório da Seape, assinado pela diretora-adjunta do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica, Rita Gaio, a tornozeleira não apresentou sinais compatíveis com esse choque. “O dispositivo violado foi então recolhido e a equipe de escolta retornou para posto de vigilância externo à residência”, diz documento.
O centro que monitora Bolsonaro desde 18 de julho informou que o sistema gerou alerta, “indicando violação”. O aviso ocorreu à 0h07 deste sábado, segundo o órgão.
A equipe de escolta posicionada nas imediações da casa do ex-presidente foi acionada, diz documento. “Os policiais penais realizaram contato imediato com o réu, solicitando que se apresentasse para verificação do equipamento”, afirma a secretaria. Após a entrada autorizada, os agentes afirmaram que buscaram “espaço com boa iluminação e energia elétrica, disponível já na sala principal da edificação. Diferente do que havia sido informado inicialmente, a tornozeleira não apresentava sinais de choque em escada”, detalha Seape.
O dispositivo violado foi recolhido, informou a pasta. Depois disso, “a equipe de escolta retornou para posto de vigilância externo à residência”, diz o texto.
A pulseira do equipamento não tinha sinais de avaria, de acordo com o relatório. “O equipamento número de série 85916 foi então substituído”, informa o documento. “Tornozeleira eletrônica n. 85903 foi instalada. Após confirmação de funcionamento regular, captação contínua de sinal e teste de tração, o monitorado foi liberado para retornar ao repouso”.
Duas equipes do Instituto Nacional de Criminalística trabalham na perícia da tornozeleira eletrônica violada por Bolsonaro. O Serviço de Perícias Eletrônicas e de Audiovisuais atua para verificar os possíveis impactos sobre o sistema eletrônico e de registros do equipamento. Já o Laboratório de Microvestígios do Serviço de Perícias de Local de Crime analisa todas as marcas e os danos provocados no aparelho, inclusive para comparar a compatibilidade com eventuais instrumentos utilizados.
Vídeo mostra diálogo entre a policial e o ex-presidente
- Rita Gaio (Seape): O senhor usou alguma coisa para queimar isso aqui?
- Bolsonaro: Meti um ferro quente aí.
- Gaio: Ferro quente?
- Bolsonaro: Por curiosidade.
- Gaio: Que ferro foi? Ferro de passar?
- Bolsonaro: Não, ferro de soldar.
- Gaio: Aquele que tem uma ponta? O senhor tentou puxar a pulseira?
- Bolsonaro: Não, não rompi a pulseira, não. Tá tranquilo.
- Gaio: Que horas o senhor começou a fazer isso, sr. Jair?
- Bolsonaro: Final da tarde.
Como ocorreu a prisão preventiva
Por decisão de Alexandre de Moraes, Bolsonaro foi enviado para a Superintendência da Polícia Federal, preso preventivamente. A Primeira Turma do Supremo vai decidir se mantém ou não a prisão preventiva em sessão convocada por Moraes para a próxima segunda, das 8h às 20h.
A decisão de hoje não tem a ver com o cumprimento da pena por tentativa de golpe. Bolsonaro foi condenado pelo STF a 27 anos e três meses de prisão. Ele estava em prisão domiciliar com uso de tornozeleira. A defesa tem até a segunda-feira, às 23h59, para apresentar embargos à condenação no STF.
Agentes estiveram cedo na casa de Bolsonaro em Brasília. A prisão foi solicitada pela PF e ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes do STF.
Um dos motivos da prisão, segundo investigadores, foi a convocação de vigílias pelo filho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A PF entende que a ação causaria aglomerações em frente à casa do ex-presidente, o que geraria risco para ele e para terceiros. Citando textos bíblicos, Flávio pediu uma mobilização permanente pela liberdade pai. A decisão do ministro cita “garantia da ordem pública com risco de aglomeração e para o próprio preso”.
Moraes considerou que vigília repetiria estratégia da trama golpista. Decisão relembra vigílias em quartéis e ressalta o risco que uma aglomeração poderia causar, dificultando uma eventual ordem de prisão e até mesmo possibilitando uma possível fuga do ex-presidente.
O ministro determinou que a prisão não expusesse Bolsonaro. Moraes também mandou que a PF não utilizasse algemas no ex-presidente. A Superintendência da PF no Distrito Federal fica no setor policial, uma área localizada no final da Asa Sul de Brasília. Os prédios todos são bem cercados e não há espaço para aglomeração.
Para Moraes, a violação “constata a intenção do condenado [Bolsonaro] de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga”, que seria facilitada pela vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a frente do condomínio do ex-presidente.
Advogados de Bolsonaro disseram que decisão “causa profunda perplexidade”. “Principalmente porque, conforme demonstra a cronologia dos fatos (representação feita em 21/11), está calcada em uma vigília de orações”, diz a nota.
” Além disso, o estado de saúde de Jair Bolsonaro é delicado e sua prisão pode colocar sua vida em risco. A defesa vai apresentar o recurso cabível.” – Celso Vilardi e Paulo da Cunha Bueno, advogados de Jair Bolsonaro.
Aliados admitem que o ex-presidente tentou violar a tornozeleira, mas querem fazer valer a versão de que a ação está relacionada à privação de sono ou à interferência de medicamentos. Um aliado afirma que o ex-presidente acreditava haver equipamento de escuta no aparelho.


