Brics: entenda o que é o grupo e quais países participam
Ao longo dos anos, os Brics ganharam destaque no cenário econômico e geopolítico. Além disso, o grupo é um importante elemento de relacionamento do Brasil com outros países ao redor do mundo.
Nos dias 22 e 24 de agosto, em Joanesburgo, na África do Sul, acontece a Cúpula dos Brics, que irá reunir líderes e representantes do Brasil, China, Rússia, Índia, China, além dos anfitriões, para discutir temas como guerra na Ucrânia, moeda única e adesão de novos países ao grupo.
O que é o Brics?
Segundo a doutora em Direito Internacional e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Priscila Caneparo, os Brics são basicamente um grupo das economias em desenvolvimento.
O nome do bloco é um acrônimo formado pelas iniciais dos cinco países que o compõe, localizados em diferentes continentes do mundo. Veja a seguir:
Diferente do que muitas pessoas podem achar, os Brics não são um bloco econômico, como é caso do Mercosul e da União Europeia, nem uma organização internacional, visto que não tem um estatuo e registro formal.
“Na realidade, os Brics eram uma reunião das economias emergentes para definir alguns rumos, e depois virou uma cúpula de interesses comuns desses Estados”, esclarece a especialista.
Como surgiram os Brics?
Os Brics surgiram em um contexto de destaque das novas economias emergentes. A ideia do grupo apareceu pela primeira vez em 2001, quando o grupo financeiro multinacional Goldman Sachs citou o termo no relatório intitulado “The World Needs Better Economic BRICs”.
O documento usou o acrônimo do grupo, que até então era composto apenas por Brasil, Rússia, Índia e China, para designar o encontro entre essas nações com potencial econômico semelhante, que, na época, se encontravam as margens das reuniões do grupo G8, formado pelas oito maiores economias.
Ao longo dos anos, o termo foi se consolidando, até que, em 2009, os ministros das Relações Exteriores dos quatro países se reuniram para a primeira cúpula oficial, que aconteceu na Rússia e tinha como foco a discussão sobre os impactos da crise financeira global nos emergentes.
Em 2011, a África do Sul se integrou ao grupo, que passou a ser chamado de Brics, a partir da terceira cúpula.
Função e objetivo do Brics
Os Brics servem como um mecanismo internacional e, desde que as reuniões formais começaram, foram negociados tratados de comércio e cooperação entre os cinco países.
Tudo isso com o objetivo de aumentar o crescimento econômica e trazer essas nações emergentes para papéis de destaque global.
“Eles [países do Brics] querem ser uma nova força motriz global, na tentativa de mudar rumos em termos de política mundial, passar um pouco da influência do norte global ocidental para esses países emergentes e, principalmente, na economia”, diz a professora.
É justamente para atingir esses objetivos e aprofundar os acordos que são realizadas as cúpulas e conferências diplomáticas, que ocorrem de forma alternada em cada um dos membros.
Sobre a dinâmica do grupo, Priscila Caneparo afirma que desde seu início é possível observar os interesses comuns dos membros em relação a temas econômicos e comerciais.
“Depois eles aprofundaram essas relações para setores como infraestrutura e desenvolvimento de interconexões culturais, pensando sempre em uma nova estruturação do mundo a partir do Sul Global”, afirma a especialista.
Importância do Brics para economia
Juntos, os cinco países do Brics representam uma parcela significativa da população e das riquezas mundiais.
Segundo dados do instituto de pesquisas do Reino Unido Acron Macro Consulting, os Brics representam atualmente 31,5% do Produto Interno Brutro (PIB) mundial, contra, por exemplo, 30,7% do G7, grupo que une os sete países mais desenvolvidos do planeta (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá).
Além disso, Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul possuem, juntos, 41% da população mundial, o que o deixa o grupo com um peso econômico maior que a do G7.
Em 2014, o Brics criou o seu próprio banco durante a sexta edição da cúpula, que aconteceu nos dias 15 e 16 de julho, em Fortaleza, no Ceará.
O Novo Banco de Desenvolviemnto (NBD), que possui sede em Xangai, tem como objetivo dar apoio financeiro a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável, públicos ou privados em países-membros, economias emergentes e nações em desenvolvimento.
No início do ano, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff tomou posse do comando do banco. A ex-presidente foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo e seu mandato deve durar até julho de 2025.
“Para você ter uma ideia, no banco, cada um dos países contribuiu com a cifra de US$ 50 bilhões, cada qual obviamente tem direito de decisão e influência dentro da instituição”, afirma Priscila.
A especialista também destaca o papel do chamado Arranjo de Reservas de Contingência, um fundo de US$ 100 bilhões, capaz de oferecer empréstimos emergenciais em caso de uma crise de liquidez entre alguns dos Estados que compõem o grupo.
“Esse acordo de reservas e contingentes, ele é um uma alternativa para os países dos Brics ao FMI. Então, de certa forma os cinco estados estão cada vez mais se distanciando, em uma perspectiva prática, dos multilaterais criados pelo norte global, como FMI e Banco Mundial”, explicou.