Economia

Cartão de crédito: Juros anuais chegam a até 875%, o brasileiro está cada vez mais endividado

Sem dinheiro e diante da carestia, as famílias brasileiras estão se endividando nos cartões de crédito, o que muitas vezes vira uma bola de neve

As taxas de juros para famílias e empresas não param de subir, elevando o endividamento e a inadimplência a níveis recordes e comprometem cada vez mais o orçamento das famílias num cenário de inflação elevada e queda na renda.

Segundo divulgou o Banco Central, nesta segunda-feira (29), o cartão de crédito teve a taxa de juro do rotativo elevada de 368,8% em maio para 370,4% em junho. O cartão de crédito é apontado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) como o vilão para 80% das famílias endividadas . Em julho, o endividamento atingiu o recorde de 78% das famílias, a maior taxa já registrada desde 2010.

De acordo com a Serasa Experian, a inadimplência bateu novo recorde em julho e atingiu 67,6 milhões de brasileiros. Bancos e cartões seguem como responsáveis pela maioria das dívidas: 28,6% do total. Em seguida, vêm as contas básicas como água, luz e gás (22,2%). E em terceiro e quarto lugares ficam os setores de financeiras e varejo, com 13,7 e 12,4%, respectivamente. O levantamento estima que 41,8% da população adulta esteja inadimplente.

Crédito fácil está levando o brasileido a ficar cada vez mais no vermelho

Sem dinheiro e diante da carestia, as famílias estão se endividando nos cartões de crédito até para parcelar o botijão de gás e os juros altos só agravam a situação.

A exorbitante e arbitrária taxa de juro do rotativo do cartão de crédito teve um aumento de 39,2% em doze meses. A escalada das taxas de juros do sistema financeiro acontece desde que Roberto Campos, presidente do BC, vem aumentando a Selic, taxa de juros básica da economia, a pretexto de conter a inflação que disparou e ultrapassou dois dígitos com aval do governo Bolsonaro. A taxa básica variou no período de 3,5% ao ano para 13,75% ao ano, depois de doze aumentos seguidos. Um brutal acréscimo de 292,86% desconcertando a economia, cortando o consumo das famílias e travando investimentos da indústria, do comércio e serviços.

E traduz-se na maior taxa básica de juros do mundo.  O taxa de juros para as famílias no cheque especial atingiu 129,2% ao ano. O crédito pessoal não consignado ficou em 87,5% ao ano.

A taxa de endividamento das famílias em maio atingiu 52,8%, a maior da série histórica, iniciada em 2005. Sem considerar o endividamento com as famílias com financiamento imobiliário, o percentual da renda familiar comprometida com dívidas passou de 33,4% para 33,5% entre maio e junho. O comprometimento total da renda das famílias brasileiras no trimestre encerrado em junho chegou a 27,6%.

Juros rotativo e parcelado

Muito do escalonamento que faz a dívida no cartão se transformar em uma bola de neve são os chamados juros compostos – uma fórmula de cálculo que aplica “juro sobre juros”. O valor cobrado vai aumentando cada vez mais porque juros são aplicados seguidamente em cima de um valor que já estava atualizado e corrigido.

“Acontece quando deixamos de pagar a dívida contraída via cartão de crédito”, resume o diretor da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira.

Juros compostos são usados em todo o mundo, pondera Oliveira. “O problema é que, como os juros no Brasil são muito altos, essa composição dá uma diferença enorme, na comparação com esses países onde a taxa de juros é de cerca de 3% ao ano”, acrescenta.

“Quando cobrados a partir de faixas mais baixas, os juros compostos têm pouco efeito. O problema é que, no Brasil, onde as faixas são muito mais altas, o resultado final acaba sendo de taxas anuais que podem passar de 300%, e a diferença acaba ficando efetivamente muito grande ao final”, complementa o diretor.

Segundo Oliveira, os juros rotativos médios, no Brasil, estão atualmente na faixa de 12,5% ao mês, o que significa um total de 329,3% ao ano. Em termos práticos, isso significa que, em 30 dias, uma dívida de R$ 1 mil se transforma em R$ 1.125,20.

Em um ano, esse valor aumentaria 329,3%, chegando a quase R$ 4.300. Um levantamento da proteste mostra que os juros cobrados pelos cartões podem chegar a 875,25% ao ano – o que transformaria a dívida de R$ 1 mil em quase R$ 10 mil no acumulado de 12 meses.

“A mesma dívida [de R$ 1 mil], sendo parcelada em 12 meses com taxa de juros média de 8,34% ao mês [taxa média dos juros parcelados, segundo o Banco Central], corresponde a 161,5% ao ano. Nesse caso, o consumidor pagaria 12 parcelas mensais fixas de R$ 235,04, o que totaliza um valor final de R$ 1.620,48”, complementa o diretor da Anefac.

No site do Banco Central, é possível conferir ranking de taxas de juros cobradas por instituições financeiras.

juo

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