Chile faz 1º turno das eleições presidenciais neste domingo

Os candidatos presidenciais do Chile, Franco Parisi, Jeannette Jara, Marco Enriquez-Ominami, Johannes Kaiser, Jose Antonio Kast, Eduardo Artes, Evelyn Matthei e Mayne-Nicholls – Foto: REUTERS/Pablo Sanhueza
O Chile vai às urnas neste domingo (16) para o primeiro turno das eleições presidenciais. A segurança pública domina o debate eleitoral em meio ao avanço da criminalidade e à crescente preocupação com a imigração. A esquerda lidera as pesquisas, mas o cenário indica favoritismo da direita no segundo turno, em 14 de dezembro
Atualmente, o Chile é governado pelo presidente Gabriel Boric, de esquerda. Ele apoia a candidatura de Jeannette Jara, do Partido Comunista, sua ex-ministra.
- Jara aparece em primeiro lugar nas pesquisas, com cerca de 30% das intenções de voto.
- Em segundo lugar está José Antonio Kast, da ala de extrema direita do Partido Republicano, com pouco mais de 20%.
- Outros três nomes da direita aparecem embolados na disputa pelo terceiro lugar: Johannes Kaiser, Evelyn Matthei e Franco Parisi.
- Mesmo com a vantagem no primeiro turno, os levantamentos indicam que Jara seria derrotada em um eventual segundo turno, marcado para o dia 14 de dezembro.
O Chile vive uma virada na política. Diferentemente de 2021, quando a esquerda venceu embalada por protestos contra a desigualdade e pela expectativa de uma nova Constituição, o clima agora é outro. Naquela eleição, Boric se tornou o presidente mais jovem da história do país, aos 35 anos.
Quatro anos depois, a nova Constituição não saiu do papel, e o foco da população mudou. A criminalidade aumentou e se tornou a principal preocupação dos eleitores — à frente de temas como economia, saúde e educação.
- O Chile viu a taxa de homicídios mais que dobrar em dez anos, passando de 2,3 por 100 mil habitantes em 2015 para 6,0 em 2024.
- Os casos de sequestro também atingiram recorde no ano passado, com mais de 860 registros.
- Em meio a esse cenário, o Chile enfrentou uma forte onda migratória de venezuelanos que fugiram do regime de Nicolás Maduro.
- Atualmente, quase 700 mil venezuelanos vivem no país, e parte da população chilena passou a associar o aumento da imigração ao avanço da criminalidade.
Lucia Dammert, socióloga da Universidade de Santiago e especialista em crime organizado na América Latina, afirma que o aumento da imigração e da criminalidade criou um duplo choque para o Chile, que não estava acostumado a nenhum dos dois problemas.
“Ainda não nos recuperamos desses choques”, disse Dammert. “E isso se reflete fortemente no debate político, que não conseguiu superá-los e acabou se alimentando desses problemas.”
Diante do avanço da criminalidade, candidatos de direita passaram a defender uma solução de estilo “americanizado”.
- Kast, por exemplo, promete expulsar todos os imigrantes sem documentos e implantar o chamado “Escudo da Fronteira” — um plano que prevê a construção de um muro de 5 metros, trincheiras de 3 metros e cercas elétricas ao longo da divisa norte do país.
- Já Jara afirma que o combate ao crime organizado passa por revogar o sigilo bancário de suspeitos, permitindo rastrear fluxos financeiros ilegais e enfraquecer as redes criminosas.
Para além da segurança pública, Jara defende implementar um salário mínimo para a população, um preço máximo para medicamentos e a criação da Empresa Nacional de Lítio, importante matéria-prima para a economia chilena e fundamental nas discussões sobre transição energética. Já Kast quer limitar a imigração no país e um corte nos gastos públicos, com planos de parceria público-privada para setores como saúde e educação.
Problema da criminalidade
O norte do Chile faz fronteira com dois grandes produtores de drogas: Peru e Bolívia. A região era pouco conhecida pelas organizações criminosas internacionais até que a imigração em larga escala a colocou no mapa dessas redes.
Raul Arancibia, ex-procurador-chefe da região de Tarapacá, no norte do país, lembra-se de ter ouvido falar do “Tren de Aragua” pela primeira vez em 2021, quando duas mulheres foram presas tentando entrar no Chile com drogas.
- O Tren de Aragua é uma gangue venezuelana envolvida no tráfico internacional de drogas. O grupo foi classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos neste ano.
Com o tempo, segundo Arancibia, começaram a surgir novos tipos de crime, que se espalharam rapidamente pela região, como extorsão, tortura e assassinatos encomendados.
“Nem mesmo os criminosos chilenos estavam acostumados com esse tipo de violência, então tiveram que se adaptar”, disse.
O ex-procurador conta que tentou alertar as autoridades chilenas sobre o problema no mesmo ano, mas disse que os avisos foram ignorados. No ano seguinte, quando Boric assumiu a presidência, os assassinatos atingiram o nível mais alto em anos.
- Para conter a criminalidade, o governo aumentou o orçamento da polícia, aprovou novas leis, criou forças-tarefa para combater o crime organizado e mobilizou os militares na fronteira.
- A administração de Boric afirma ter prendido centenas de membros do Tren de Aragua e diz que o grupo está sob pressão.
Por outro lado, para a especialista Lucia Dammert, concentrar demais o debate na fronteira e nos grupos internacionais desvia a atenção da profundidade do problema dentro do próprio país.
“Às vezes olhamos demais para os grupos criminosos transnacionais e esquecemos de olhar para os nossos”, disse Dammert. “No fim das contas, a maioria das pessoas presas é chilena, e a maioria das gangues também é comandada por chilenos.”
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Militar na fronteira entre o Chile e a Bolívia em 29 de outubro de 2025 – Foto: REUTERS/Pablo Sanhueza
fonte: g1



