CPMI pede inclusão de hacker Walter Delgatti em programa de proteção à testemunha
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos criminosos do 8 de janeiro solicitou a inclusão em programa de proteção à testemunha do hacker Walter Delgatti Neto, que depôs à comissão nesta quinta-feira (17).
No documento, assinado pelo senador Cid Gomes (PDT-CE), 1º vice-presidente da CPMI, a comissão solicita a inclusão no programa de proteção, além de Delgatti, de seus familiares e advogados.
Foram enviados três ofícios: à Polícia Federal (PF), ao Ministério dos Direitos Humanos e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Apesar de ter ficado em silêncio durante a tarde, Walter Delgatti Neto respondeu a todos os questionamentos da CPMI na parte da manhã.
Em seu depoimento, o hacker disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na época em que estava no comando do Palácio do Planalto, prometeu a ele um indulto caso fosse preso em alguma ação contra as urnas eletrônicas.
Também disse que Bolsonaro citou um “grampo” contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo Delgatti, o ex-presidente teria pedido para que ele “assumisse a autoria” da invasão.
Ainda durante o seu depoimento, o hacker disse que o marqueteiro de campanha de Jair Bolsonaro pediu a Delgatti para criar um “código-fonte fake” para apontar fragilidades nas urnas.
Questionado sobre o assunto, Delgatti disse que sabia que estava cometendo crimes, mas que aceitou os pedidos, pois recebeu ordens do então presidente Bolsonaro.
De acordo com o hacker, ele também orientou servidores do Ministério da Defesa na elaboração do relatório das Forças Armadas sobre as urnas. Posteriormente, o documento foi entregue ao TSE.
Silêncio
Na seguda parte do depoimento, porém, ao ser questionado por parlamentares da oposição, ele usou do direito de ficar em silêncio. Na noite de quarta-feira (15), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou que Delgatti Neto usasse do recurso.
Entre os parlamentares da oposição que questionaram Delgatti estão os senadores Sergio Moro (União Brasil-PR) e Marcos Rogério (PL-RO), e os deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Filipe Barros (PL-PR).
Delgatti Neto está preso desde o início de agosto após ser alvo da Polícia Federal (PF) por invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para incluir um falso mandado de prisão contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
Em 2019, ele ficou conhecido por ter vazado mensagens do então ministro da Justiça Sergio Moro, de integrantes da Lava Jato e de outras autoridades.
Omissões no depoimento a PF
O hacker Walter Delgatti Neto omitiu em depoimento à Polícia Federal (PF) na quarta-feira (16) informações que revelou nesta quinta-feira (17) na CPMI dos Atos Golpistas.
Segundo investigadores ouvidos pela reportagem, além dos R$ 40 mil que disse ter recebido de Carla Zambelli (PL-SP) para invadir sistemas do Judiciário, ele mencionou no depoimento à PF que recebeu da deputada o texto de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
Não constam do depoimento de Delgatti à PF, segundo fontes, os pontos que ele falou à CPMI:
- Menção sobre Bolsonaro ter prometido a ele um indulto caso fosse preso por ação contra urnas eletrônicas;
- Menção sobre promessa de emprego feita por parte da Zambelli na campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro;
- Menção sobre grampo no ministro Alexandre de Moraes, do STF;
- Menção sobre o marqueteiro de Bolsonaro, Duda Lima, na campanha ter pedido um “código-fonte” fake para apontar fragilidade nas urnas. Ele nega;
- Menção sobre ter orientado servidores do Ministério da Defesa na elaboração de relatório sobre as urnas.
Sobre tudo isso, e outros detalhes dados a CPMI, Delgatti será inquerido no novo depoimento marcado para amanhã na PF de Brasília.
Fontes do STF e da PF afirmaram à reportagem que não há nenhum indício de que o ministro Alexandre d Moraes tenha sido grampeado ilegalmente, como mencionou Delgatti à CPMI.
Depoimento à CPMI
Nesta quinta-feira, Delgatti prestou depoimento na CPMI dos Atos Golpistas no Congresso Nacional. Ele afirmou aos integrantes que, durante uma reunião no Palácio da Alvorada com Jair Bolsonaro (PL) antes das eleições de 2022, o então presidente assegurou que concederia um indulto (perdão presidencial) a ele, caso fosse preso ou condenado por ações sobre urnas eletrônicas.
“A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia”, declarou.
Ainda neste encontro, disse que, em conversa com Bolsonaro, ouviu que o entorno do então presidente já havia conseguido grampear o ministro Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo Delgatti, na ligação, Bolsonaro teria sugerido que Delgatti Neto “assumisse a autoria” do grampo.
“Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, disse.
No seu depoimento, Delgatti também comentou que assessores de Bolsonaro aconselharam a criação de um “código-fonte” falso para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável e passível de fraude.
A proposta teria partido do marqueteiro Duda Lima em uma reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e outras pessoas ligadas à parlamentar. Lima nega participação na reunião.
Nota da defesa de Jair Bolsonaro
“Considerando as informações prestadas publicamente pelo depoente Sr. Walter Delgatti Neto perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito na presente data, a defesa do ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, informa que adotará as medidas judiciais cabíveis em face do depoente, que apresentou informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova, inclusive cometendo, em tese, o crime de calúnia.
A defesa esclarece ainda que, diante de informações prestadas pelo Sr. Walter Delgatti Neto, quando de sua passagem pelo Palácio da Alvorada, acerca de suposta vulnerabilidade no sistema eleitoral, o então Presidente da República, na presença de testemunhas, determinou ao Ministério da Defesa a apuração das alegações, de acordo com os procedimentos legais e em conformidade com os princípios republicanos, seguindo o mesmo padrão de conduta observado em todas as suas ações enquanto chefe de Estado.
Após tal evento, o ex-Presidente nunca mais esteve na presença de tal depoente ou com ele manteve qualquer tipo de contato direto ou indireto.”