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Daniel Noboa é reeleito presidente do Equador, oposição diz que houve fraude

Noboa se tornou o presidente mais jovem da história do Equador – Foto: Getty Images

O presidente do Equador, Daniel Noboa, foi reeleito neste domingo (13/4) em uma disputa contra a candidata da oposição, Luisa González.

De acordo com os resultados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com 90% dos votos apurados, Noboa tinha 56% dos votos contra 44% de González.

“Com mais de 90% dos votos apurados, há uma tendência irreversível nos resultados. A autoridade eleitoral acredita que a dupla vencedora é a equipe do ADN (Ação Democrática Nacional), formada por Daniel Noboa e Maria José Pinto”, disse Diana Atamaint, presidente da CNE.

González, porém, não aceitou os resultados. A candidata concorre pelo partido Revolução Cidadã.

“A Revolução Cidadã sempre reconheceu a derrota quando as estatísticas o demonstram. Hoje, não reconhecemos os resultados apresentados pelo CNE”, disse González aos seus apoiadores.

“Vamos pedir uma recontagem e a reabertura das urnas”, acrescentou a líder da oposição, que disse que o país enfrenta “a maior e mais grotesca fraude que nós, equatorianos, já vimos”.

Ela acrescentou que não acredita na ampla liderança alcançada por Noboa em uma eleição que, segundo as pesquisas, era esperada como acirrada.

Aos 37 anos, Noboa tem o desafio de combater o crime organizado e reavivar a economia do país – dois temas vistos por muitos como pontos fracos de sua gestão.

“Em 2023, havia uma falta generalizada de conhecimento sobre quem era Daniel Noboa”, disse a analista de comunicação política Caroline Ávila à BBC Mundo, o serviço da BBC em espanhol.

Vindo de uma influente família empresarial, Noboa havia feito sua estreia política como deputado apenas dois anos antes, e seu avanço para o segundo turno foi considerado uma surpresa na época.

No entanto, com uma imagem nova e um discurso focado na segurança, ele conseguiu atrair o voto crítico ao ex-presidente Rafael Corea e se projetar como uma figura de renovação.

“Noboa, que estava perdendo por cerca de 10 pontos, conseguiu subir e chegar ao topo porque conseguiu catapultar todo o movimento anticorreísmo para sua proposta. E seus rivais da Revolução Cidadã sabiam que no segundo turno todos seriam contra o correísmo. Isso basicamente aconteceu em 2023”, diz Ávila.

A situação foi muito diferente neste segundo turno: Noboa chegou à votação com o desafio de defender seu governo após quase 18 meses no poder.

O desgaste, as promessas não cumpridas e as decisões polêmicas mudaram seu perfil junto ao eleitorado, segundo Caroline Ávila.

Os estágios iniciais de sua administração foram marcados por alta popularidade atribuída à sua resposta à crise de segurança, que declinou gradualmente à medida que os resultados não surgiam.

Nesse contexto, Noboa tentou se reposicionar, com uma campanha focada em reforçar seu perfil como um líder forte diante da possibilidade de um retorno do socialismo à política equatoriana.

“Apesar de ser um presidente com resultados muito ruins e um personagem com pouco carisma, ele mantém um apoio significativo graças à sua equipe de campanha e ao uso do aparato estatal”, disse o cientista político Andrés Chiriboga à BBC Mundo.

Chiriboga também destaca o apoio que Noboa conquistou entre setores-chave do poder: “Ele tem o apoio dos mais altos funcionários das forças de segurança e do judiciário e cultivou um relacionamento muito próximo com os Estados Unidos.”

O presidente equatoriano viajou aos Estados Unidos no final de março para se encontrar com o presidente Donald Trump em sua residência em Mar-a-Lago.

O encontro foi interpretado como um incentivo para Noboa, que conseguiu transmitir ao público que, graças ao seu relacionamento cordial com Trump, o Equador não seria um dos principais alvos da cruzada tarifária do presidente americano.

Foto: Getty Images

Segundo pesquisas recentes, a segurança é a maior preocupação para 4 em cada 10 equatorianos, número semelhante ao de 2023.

Noboa concentrou sua campanha anterior na promessa de reprimir o crime em meio ao aumento de facções criminosas e da violência nas ruas.

O assassinato do candidato Fernando Villavicencio chocou o país semanas antes daquelas eleições, e o sentimento generalizado de insegurança favorecia, segundo especialistas, o então candidato do ADN.

Após 18 meses, as políticas de segurança do governo Noboa têm resultados questionáveis.

Embora tenha alcançado alguns avanços iniciais, o “Plano Fênix”, que permitiu às Forças Armadas intervir em prisões e nas ruas, não alcançou a transformação que muitos esperavam.

O número médio de assassinatos diários caiu de 22 em 2023 para 19 em 2024. No entanto, a violência aumentou no início deste ano: janeiro e fevereiro registraram 1.529 mortes violentas, uma média de 26 por dia.

Os dois analistas consultados pela BBC Mundo acreditam que a luta de Noboa contra o crime não teve efeito significativo, além de levar a abusos de direitos humanos.

O caso mais grave foi o dos chamados “4 de Guayaquil”, quatro menores detidos pelos militares após uma partida de futebol em dezembro de 2024. Seus corpos foram encontrados queimados e apresentavam sinais de tortura.

Economicamente, a situação piorou desde 2023: o Equador entrou em recessão técnica em 2024, com o PIB caindo 0,4% no ano e um declínio de 1,5% no último trimestre.

A crise energética, consequência de uma seca prolongada e anos de subinvestimento em infraestrutura, levou a cortes de energia que duravam até 14 horas por dia, impactando seriamente a produção e o emprego.

“Estima-se que 200 mil empregos serão perdidos em decorrência dos apagões. Só esse número já dá uma ideia do impacto econômico que a população está sofrendo”, diz Ávila.

Mulher em loja durante apagão
Legenda da foto,Os apagões de 2024 causaram interrupções significativas nas vidas e economias dos equatorianos.

Soma-se a isso a deterioração das condições de vida em um país onde a cesta básica familiar está próxima de US$ 800 (R$ 4.696) por mês, o salário mínimo é de US$ 470 (R$ 2.758,90). e a pobreza afeta 28% da população.

“A situação econômica continua difícil, principalmente em termos de emprego, e o desemprego e a precariedade do trabalho formal são problemas sérios”, enfatiza o cientista político.

Embora o governo de Noboa tenha garantido um empréstimo de US$ 4 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e contido a inflação, ele explica que a percepção entre muitos eleitores é de frustração pela falta de resultados.

Somam-se a isso outras polêmicas que afetaram a imagem de Noboa durante seu curto mandato, como seu conflito com a vice-presidente Verónica Abad e a crise diplomática com o México após a invasão da polícia equatoriana à sua embaixada.

A julgar pelos resultados eleitorais, no entanto, os eleitores optaram por lhe dar uma nova chance.

Fonte: bbc

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