Darya Dugina: o que se sabe sobre suposto ataque com carro-bomba que matou filha de aliado de Putin
É um ataque que está gerando muitas perguntas na Rússia: Darya Dugina, filha do filósofo russo Alexander Dugin, conhecido como “o cérebro” do presidente Vladimir Putin, morreu depois que seu carro explodiu enquanto ela dirigia para casa, segundo o Comitê de Investigação da Rússia.
O ataque, que ocorreu na noite de sábado (20/8) perto de Moscou, foi supostamente direcionado a seu pai, disseram autoridades russas.
Os indícios sugerem que o ataque foi planejado, segundo autoridades. Os explosivos foram colocados no carro de Dugin, que trocou de veículo com a filha no último minuto depois de participar de um evento nos arredores de Moscou.
Dugin e sua filha foram convidados de honra em um festival na propriedade de Zakharovo, onde o filósofo deu uma palestra.
Embora a investigação esteja em andamento, as autoridades anunciaram que as câmeras de segurança do estacionamento onde o carro estava estacionado não estavam funcionando.
Dugina morreu no local, perto do bairro de Bolshiye Vyazemy.
Imagens postadas no Telegram parecem mostrar Dugin olhando em estado de choque quando os serviços de emergência chegam ao local do veículo em chamas.
O que se sabe sobre as causas da explosão?
Até agora, as autoridades russas dizem que não identificaram os responsáveis pela explosão.
Os investigadores confirmaram que Dugina, que estava ao volante, morreu no local. Eles disseram que um artefato explosivo colocado embaixo do carro explodiu e o veículo pegou fogo. Peritos estão investigando o caso.
A morte de Dugina provocou uma onda de especulações na Rússia sobre os antecedentes e as consequências desse crime, informou o serviço russo da BBC.
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, disse em um post do Telegram que se for encontrada qualquer ligação com a Ucrânia equivaleria a “terrorismo de Estado”.
Os apoiadores de Dugin culpam os ucranianos, embora não tenham fornecido nenhuma evidência para isso.
De outro lado, seus oponentes liberais sugerem o envolvimento dos serviços especiais russos, embora também não tenham apresentado nenhuma prova.
A primeira pergunta que analistas russos levantaram após a explosão do carro de Dugina foi se seu pai era o alvo.
As autoridades ucranianas rejeitaram as acusações de envolvimento no ataque, dizendo que estaria relacionado a brigas políticas na Rússia.
“A Ucrânia, é claro, não tem nada a ver com isso, porque não somos um Estado criminoso, como a Federação Russa é, e muito menos um Estado terrorista”, disse Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky.
Incidentes como esse colocam sob pressão autoridades de Moscou, especialmente após uma série de explosões e ataques na península da Crimeia — anexada pela Rússia em 2014 — e em regiões russas próximas à fronteira com a Ucrânia.
A propaganda do Kremlin enfatiza constantemente como Vladimir Putin trouxe segurança e estabilidade para a Rússia após a turbulenta década de 1990, quando carros-bomba e assassinatos eram comuns.
Esse carro-bomba na capital russa vai de encontro a essa narrativa.
Análise de Will Vernon, jornalista da BBC em Moscou
Embora Alexander Dugin não seja um funcionário do Estado, ele é uma figura simbólica na política russa.
Sua filosofia ultranacionalista e antiocidental tornou-se a ideologia política dominante na Rússia e ajudou a moldar a política externa expansionista do presidente Putin, particularmente na Ucrânia.
A atenção agora se voltará para quem estava por trás desse ataque.
Denis Pushilin, o “chefe” da autoproclamada “República Popular de Donetsk” pró-russa, já culpou a Ucrânia, escrevendo no Telegram: “Os terroristas do regime ucraniano, tentando eliminar Alexander Dugin, explodiram sua filha… Em um carro. Celebramos a memória de Darya, ela é uma verdadeira filha da Rússia!”
Jornalista sancionada
Embora não ocupe um cargo oficial no governo, o pai de Dugina é um aliado próximo do presidente russo e até foi qualificado como “Rasputin de Putin” (em alusão a Grigori Efimovitch Novikn (1869-1916), que exerceu forte influência na monarquia russa e se tornou um dos homens mais poderosos nos últimos anos da dinastia Romanov).
Dugina foi uma jornalista proeminente que apoiou abertamente a invasão da Ucrânia. No início deste ano, ela foi alvo de sanções de autoridades americanas e britânicas, que acusaram a jovem de 29 anos de contribuir para a “desinformação” na internet em relação à invasão russa.
Em maio, Dugina descreveu a guerra em uma entrevista como um “choque de civilizações” e expressou orgulho por ela e seu pai terem sido alvo de sanções pelo Ocidente.
Alexander Dugin foi alvo de sanções pelos Estados Unidos em 2015 por seu suposto envolvimento na anexação da Crimeia pela Rússia.
Acredita-se que suas obras tenham influenciado profundamente a visão de mundo de Vladimir Putin — ele é considerado um dos principais arquitetos intelectuais da ideologia ultranacionalista defendida por muitos no Kremlin.
Durante anos, Dugin pediu a Moscou que se afirmasse de forma mais agressiva no cenário mundial e apoiou a ação militar russa na Ucrânia.
Fonte: BBC Brasil