Dólar sobe ao maior patamar desde janeiro de 2022
Já virou piada no mercado financeiro. Basta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abrir a boca que o real perde valor em relação ao dólar. Ontem, não foi diferente, apesar de haver um ingrediente a mais para o câmbio ficar mais desvalorizado, o encerramento do mês, quando os exportadores precisam fechar os contratos com os clientes internacionais, de acordo com especialistas.
O dólar abriu o pregão com uma leve queda de 0,25%, mas trocou o sinal logo após uma entrevista de Lula à rádio O Tempo, na qual voltou a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Isso vai melhorar quando eu puder indicar o presidente do Banco Central, e vamos construir uma nova filosofia”, disse Lula, sinalizando que pretende interferir na autoridade monetária, que agora tem autonomia política, mas não financeira, do governo.
O chefe do Executivo seguiu dando sinais trocados sobre o compromisso dele em fazer um ajuste fiscal, porque retomou o discurso contrário à desvinculação do ganho real do salário mínimo às aposentadorias, algo que vem preocupando analistas sobre a disparada no rombo da Previdência Social nos próximos anos.
“Lula voltou a dizer que não aceita desvincular gasto previdenciário, mas a Previdência responde por mais da metade das despesas primárias da União”, alertou o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria.
Na avaliação dele, esses ataques ao BC são um tiro no pé do presidente e só ajudam a enfraquecer o real frente ao dólar. “Lula só fez perder com isso e ele aposta na insensatez de que o mercado está apostando contra o país”, afirmou.
Não à toa, o dólar subiu e registrou um dos melhores rendimentos no mês. A divisa norte-americana encerrou o dia com alta de 1,47%, cotado a R$ 5,58 — o maior patamar desde 10 de janeiro de 2022, quando era vendido a R$ 5,67. O Índice DXY, que mede a performance do dólar em relação a uma cesta de várias moedas, encerrou ontem, praticamente, com variação nula, após ter atingido o recorde em dois meses no dia anterior.
O ex-ministro lembrou que Lula ainda errou em citar as empresas que tinham feito hedge (proteção) contra o câmbio na crise financeira global, como Sadia e Aracruz porque estavam apostando contra o real em 2008. “Naquela época, foi o contrário, essas empresas estavam apostando no real e tiveram prejuízos bilionários”, corrigiu.
Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, as falas de Lula aumentam a desconfiança, que já é grande, segundo ele, no cenário local, sobretudo pelas incertezas em relação ao tema fiscal. “A situação não parece estar se estabilizando. Por enquanto, a gente ainda pode ver algumas pioras, mas eu acho que a gente vai chegar em uma situação que vai ficar insustentável”, afirmou o especialista.
Já o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo, aponta que os três principais fatores que causam turbulência no cenário macroeconômico atual são as políticas restritivas nos Estados Unidos, somadas às incertezas em relação ao ambiente político local, além da questão dos gastos excessivos e do que ele chama de “administração complicada” da mesa de operações de câmbio do Banco Central. “A gente não está vendo intervenções dele em questões mais especulativas. Isso também afeta, porque quando o Banco Central não atua, o dólar vai subindo”, ressaltou.