Economia

Elon Musk infla rede bolsonarista e mira interesses comerciais do X

As declarações do bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), unem os interesses comerciais do bilionário aos objetivos políticos e eleitorais dos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

O que aconteceu

Censura e impeachment, sugeriu Musk. Desde sábado (6), Musk afirmou que decisões de Alexandre contra discursos golpistas no X atentam contra as leis e a Constituição do Brasil. Primeiro, perguntou ao ministro, no X, “por que tanta censura no Brasil”. Depois, disse que “esse ministro tem traído repetida e descaradamente a Constituição e o povo do Brasil. Ele deve renunciar ou ser sofrer impeachment”.

Twitter Files como argumento. Na quarta (3), o jornalista ativista norte-americano Michael Shellenberger publicou o que chamou de “Twitter Files Brazil”: uma série de prints de comunicações do antigo diretor jurídico do Twitter no Brasil discutindo solicitações do Judiciário, do Congresso e do Ministério Público de acesso a dados de usuários e de exclusão de publicações.

Postagens violentas, conteúdo preconceituoso e desinformação. Alguns dos perfis citados divulgavam mentiras para tentar desacreditar o sistema eleitoral brasileiro. Outros, eram postagens com conteúdo violento, preconceituoso ou com desinformação sobre saúde.

Promessa de revelações. Na tarde de sábado (6), Musk chegou a escrever que revelaria “em breve” tudo o que Alexandre de Moraes vem exigido do X e “como esses pedidos violam a lei brasileira”.

Rede bolsonarista ativada. As declarações movimentaram as redes bolsonaristas, e Bolsonaro divulgou um vídeo de 2022 em que chama Musk de “mito da nossa liberdade” — na ocasião, o bilionário estava no Brasil para negociar a autorização do governo brasileiro para que a Starlink, outra de suas empresas, pudesse operar no país.

Bolsonaro chamou Musk de “mito da liberdade” durante live na noite de domingo (8), ao lado dos filhos Eduardo e Carlos. O ex-presidente afirmou que agora há um “apoio de fora do Brasil muito forte”, em referência ao bilionário, e falou que “grande parte da liberdade” nas redes sociais no Brasil “está nas mãos dele”.

Justificativa para falta de moderação. Fábio Malini, coordenador do Labic (Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura) da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) diz que Musk se aproveita da campanha permanente que bolsonaristas mantêm contra Moraes e o STF para “justificar a falta de moderação e de medidas de responsabilização [a quem publica conteúdo falso ou golpista] por parte do X”.

Mas não há censura, diz ele. No X, Malini apresentou um gráfico segundo o qual as contas que mais repercutiram as falas de Musk neste final de semana são as que supostamente foram alvo de “censura judicial”.

Argumento de que é grande empresário. “É muito mais uma tentativa de preservação da empresa se utilizando dos aliados na cena pública que estão em campanha contra o ministro Alexandre, tentando colar o argumento de que Musk é um grande empresário que deixou o Brasil por causa da censura e não se rendeu”, comenta.

Musk e extrema direita brasileira. A escritora Michele Prado, hoje pesquisadora do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP (Universidade de São Paulo), observa que a relação de Musk com a extrema direita brasileira “é antiga” e já vem “pelo menos desde 2022”, por meio de figuras conhecidas do bolsonarismo, como Paulo Figueiredo, Monark e Rodrigo Constantino.

Negócios de Musk enfrentam dificuldades. David Nemer, professor do Departamentos de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, chama a atenção para a questão comercial que a ação de Musk acaba envolvendo. “Parece comportamento de cachorro acuado”, afirma. Isso porque os negócios de Musk enfrentam algumas dificuldades.

X vale 70% menos do que quando foi comprado. Musk comprou a empresa em outubro de 2022, quando ela ainda se chamava Twitter, por US$ 44 bilhões. Em janeiro deste ano, a companhia foi avaliada em US$ 12,5 bilhões, numa desvalorização de mais de 70% em um ano e meio, conforme a avaliação de um dos principais acionistas divulgada pelo site de notícias Axios.

Menos usuários, menos anunciantes. “O Brasil virou um dos maiores mercados para o X, só que o número de usuários ativos vem caindo, o que tem também reduzido o número de anunciantes”, afirma Nemer.

Fonte: uol

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