Política

Em entrevista Sergio Cabral diz ter usado caixa 2 para joias, mas nega ser corrupto

Ex-governador do Rio também afirmou ter distorcido acusações contra Dias Toffoli e Bruno Dantas em sua delação.

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral afirmou que nunca praticou corrupção, apesar de admitir que usou caixa 2 de campanha para comprar bens de uso pessoal. Deu a declaração em entrevista ao portal Metrópoles, publicada neste domingo (5.mar.2023).

“Nunca comprei joia para investimento, eu comprava nas datas festivas para a minha mulher. Um erro, já assumi isso, com dinheiro do caixa 2, da sobra de campanha. Agora, eu nunca pratiquei corrupção, isso é o que quero dizer claramente, eu nunca cheguei e disse assim: ‘Bota esse preço aí, você vai ganhar essa licitação’”, afirmou.

Cabral também foi perguntado sobre as Olimpíadas do Rio.

Negou que tenha comprado votos para a capital fluminense ser escolhida a sede dos Jogos de 2016, embora tenha afirmado isso em sua delação, anulada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em maio de 2021. Disse também que as acusações contra Dias Toffoli, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), e Bruno Dantas, presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), foram “distorcidas” por ele em sua delação. No 2º caso, Cabral afirmou, inclusive, que mentiu.

Eis outros temas citados na entrevista e o que disse Cabral:

  • delação premiada – “Fui muito torturado psicologicamente nessa coisa. Essa delação foi usada… Em 2019, eu estava absolutamente em desalento, absolutamente perdido. Já eram quase 3 anos de prisão“;
  • acusação contra Dias Toffoli (entenda aqui) – “Quero pedir desculpas ao ministro Toffoli. Quero pedir desculpas. Eu fiquei com raiva do Judiciário, eu achei que o mundo inteiro conspirava contra mim, e distorci uma história”;
  • acusação contra Bruno Dantas (de que ele recebia R$ 100 mil/mês para atuar a favor de um empresário) – “Absolutamente distorcido. Eu quero pedir desculpas ao Bruno Dantas e ao Vital do Rêgo […]. É mentira. Isso foi induzido por aqueles agentes da Polícia Federal que estavam envolvidos na minha colaboração”;
  • Jair Bolsonaro – “Ele [Bolsonaro] fazia questão de perguntar ao Marco Antônio (filho de Cabral) como eu estava. Poucos fizeram isso, e o Bolsonaro fez”;
  • vitória de Lula – “Em termos de governo, eu torci muito pelo Lula. Graças a Deus o Lula ganhou. O Lula é uma pessoa que tem espírito público. O Lula quer acertar, ele gosta do povo, tem a alma do povo”;
  • impeachment de Dilma – “Não foi golpe”;
  • Marcelo Bretas – “Olha, eu sou vítima desse processo. O advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho me chantageou em nome do Bretas. Fui obrigado a entregar um documento para ele de devolução de patrimônio meu e da Adriana”;
  • vida pública – Cabral disse não pensar em voltar à política e planeja mirar o setor privado.

Em 9 de fevereiro de 2023, o TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) reverteu a prisão domiciliar de Cabral por outras medidas cautelares nesta 5ª feira (9.fev.2023). Esse era o último processo que mantinha a pena do ex-emedebista.

O caso é analisado pela 1ª Seção Especializada do TRF-2, referente à operação Calicute, que levou à prisão de Cabral em 2016, com a pena de 45 anos.

A defesa pediu que a prisão domiciliar fosse substituída pelo uso de tornozeleira eletrônica, o recolhimento noturno, a obrigação de comparecer uma vez por mês à Justiça para justificar suas atividades e o veto à sua saída do Brasil com a entrega de passaporte. Eis a íntegra (469 KB) do pedido.

Em 1º de fevereiro, outra prisão domiciliar de Cabral foi revogada pelo Tribunal, no trâmite da operação Eficiência. Cabral havia sido condenado a 20 anos, 4 meses e 21 dias de reclusão em regime fechado. O ex-governador obteve a revogação da prisão preventiva em regime domiciliar em novembro.

Em dezembro, a 2ª turma do STF (Supremo Tribunal Federal) revogou a prisão de Cabral relacionada a condenações do ex-governador baseadas na operação Lava Jato, em investigações sobre supostas propinas recebidas nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, da Petrobras.

As ações penais contra Cabral somam mais de 430 anos de prisão, em 23 condenações. O ex-governador era o último político conhecido denunciado na Lava Jato que continuava em regime fechado.

Cabral foi detido em novembro de 2016 e ficou em regime fechado no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A investigação apurava desvios de recursos públicos por uma organização criminosa, que seria comandada por Cabral, em obras realizadas pelo governo do Rio de Janeiro. Os prejuízos estimados aos cofres públicos passam de R$ 220 milhões.

Em novembro deste ano, a 5ª Câmara Criminal do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) revogou por unanimidade 2 mandados de prisão preventiva contra Cabral. Com isso, dos 5 mandados de prisão preventiva contra o ex-governador, 4 haviam sido revogados e 2, convertidos em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.

Cabral também revelou mágoas: entre elas de seu sucessor, Pezão, e do atual prefeito, Eduardo Paes, que foram seu principais aliados no passado. A Lula mandou um recado.

E chorou. Chorou muito. Sim. Sergio Cabral Filho, embora até admita que errou, se vê como uma vítima.

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