Artigo Opinião

Entre Eros e Mito: a poética encantada de Yêda Schmaltz.

Os escritores de um modo geral têm o dom e o talento de nos levar a lugares só
por eles criados do fruto de sua fértil imaginação, entenda como um mundo paralelo ao
nosso real. É assim, nos romances, nos contos, nos poemas, dentre tantas outras
vertentes da literatura brasileira e mundial. Nestes espaços o poder dessa imaginação é
infinita e chega até a beira do fantasioso, do lúdico e do impossível, porém, o ato de
criação atravessa mundos e épocas bem diferentes, mas no fundo o objetivo é um só,
levar seu leitor a cruzar fronteiras do limiar da fantasia.
Por essas bandas temos inúmeros exemplos que passaríamos horas falando
desses mestres da literatura goiana, por isso, para não ser injusto e acabar sendo
indelicado com um ou outro, restrinjo essa iluminada lista a uma poeta pernambucana,
que chegou por essas bandas ainda criança, radicalizou-se no Estado de Goiás, até o fim
de sua vida, falo da poeta Yêda Schmaltz e seu rico acervo literário, de um total de vinte
e um livros publicados, e que teve a seu favor a crítica literária, a qual lhe alcunhou como um dos nomes em destaque para época goiana e nacional.
Dona de uma escrita com identidade forte e própria, a poeta ainda conseguia
tempo para organizar livros, como Amigos Seletos – antologia poética (1991), de
dedicar às artes plásticas como curadora e organizadora de exposições nacionais e
internacionais nos anos de 1980 e 1990. Certa vez escreveu o poeta Miguel Jorge,
“Yêda Schmaltz, em sua obra, revela preocupação com a construção de um trabalho
obsessivamente pesquisado, mapeando achados pictóricos reais […] são verdadeiros
textos plásticos em sua universidade”, ressaltou.
Destas ressalto, “O peixenauta” (1975), “A alquimia dos nós” (1979), “Baco e
Anas Brasileiras” (1985), entre tantas. Schmaltz traz em seu primeiro livro Caminhos de
mim (1964) um pequeno movimentar da quebra do tradicionalismo escrito por mulheres
de sua época. Ela inspira e ousa no poema Vertical (na página 81).
Em todo o decorrer no processo criativo da autora, nota-se uma escolha
consciente e moderna, pela (re)atualização dos mitos, a poeta bebe no mito clássico do
greco-romano-latino de onde brota também temas sociais explicitamente cravados no
belíssimo livro Prometeu americano (1996), onde a cidade tema destaque em seus
problemas e caos urbano, todavia ela o suaviza com poemas com temáticas mitológicas,
elevando-os ao ápice lírico. Moema de Castro (1994), neste livro, diz que “a profunda
compreensão, da parte de Yêda, do trágico, do mitológico, da ambiguidade dos valores humanos traz para o leitor, uma poesia para cuja decodificação se solicita um leitor
qualificado, erudito, atento às verdades míticas universais, um intérprete competente
dos elementos essenciais da vida e da cultura”.
No livro A alquimia dos nós (1979), a poeta traz para a modernidade o mito de
Penélope e Homero, na Odisseia. Com o olhar apurado e feminista, na primeira parte do
livro, ela relata de forma bastante criativa, todo o lirismo que a obra requer. A
representatividade da boca, dentro dos seus versos remonta de forma sutil, o erótico e a
audácia da poeta com as palavras. A poeta tem-se o pulsar de uma artista inquieta, sagaz
e pulsante, onde se vê o Ágape e o Eros, duas palavras gregas que representam
diferentes formas do amor, performando na linguagem da autora, doravante surge a
mulher intensa, misteriosa e com grande poder de sedução, por detrás de uma caneta e
um pedaço de papel ela põe o céu embaixo dos pés, e o chão na imensidão.
Aos interessados em saber um pouco mais sobre a vida e a obra dessa grandiosa
poeta, ainda é possível encontrar um vasto material em bibliotecas e sebos pelo centro
de Goiânia e apreciar a beleza textual que nos instiga a repensar nossas vidas.

Luiz Galvão é jornalista, gcm e escritor.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo