Falsificação de cartão: Major preso pela PF diz saber mandante da morte de Marielle
O major reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros, preso nesta quarta-feira (3) pela PF (Polícia Federal), na Operação Venire, enviou mensagens ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid dizendo que sabia quem era o mandante da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Nas mensagens, descobertas durante a investigação para a operação, Ailton disse que sabia que haviam tentado armar algo para Marcelo Siciliano no caso. O ex-vereador também foi um dos alvos de busca e apreensão da operação desta quarta que mira a inclusão de dados falsos sobre vacinação contra a covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. Ailton concorreu pelo PL a uma vaga como deputado estadual no Rio em 2022. No entanto, não foi eleito.
“Eu sei dessa história da Marielle, toda irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí”, diz a mensagem de Ailton enviada em 30 de novembro de 2021.
Além disso, foram encontradas mensagens de Siciliano intermediando contatos na Secretaria de Saúde de Duque da Caxias, no Rio de Janeiro, para a inserção de dados falsos sobre vacinas no sistema do SUS.
Fora Siciliano, outras 15 pessoas foram alvo de busca e apreensão, incluindo até o ex-presidente Jair Bolsonaro. Seis pessoas foram presas. Entre elas, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A ação da PF recebeu o nome de Operação Venire, que veio da expressão “Venire contra contra factum proprium” (Vir contra seus próprios atos). A PF afirmou que esse um princípio base do direito civil e do direito internacional, que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa.
Caso Marielle
Pouco mais de um mês após assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018, delegados federais apresentaram como “testemunha-chave” à DH (Delegacia de Homicídios da Capital, órgão da Polícia Civil do Rio) o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira.
A testemunha trabalhou como motorista do ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, apontado como chefe de uma milícia que atua na zona oeste do Rio.
Em seu depoimento, “Ferrerinha”, como é apelidado o policial, apontou Sicilliano e Curicica como mandantes do assassinato da vereadora filiada ao PSOL. Ele afirma ter testemunhado reuniões em que ambos planejaram o atentado a Marielle Franco.
No entanto, uma investigação da PF, posteriormente, mostrou que o depoimento foi uma tentativa de atrapalhar as investigações e dificultar a identificação dos responsáveis pela morte da vereadora.
PF diz que Bolsonaro e Cid tinham ‘plena ciência’ de fraude no cartão de vacinação
A Polícia Federal relatou, em representação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que Jair Bolsonaro e seu ajudante de ordens, Mauro Cid, tinham “plena ciência” da fraude no cartão de vacinação do ex-presidente e pessoas de seu entorno.
A PF investiga suspeita de fraude nos registros de vacina do ex-presidente e da filha. Segundo as apurações, a informação da vacina teria sido irregularmente inserida no sistema do governo para viabilizar a entrada do ex-presidente e da filha nos Estados Unidos.
Com autorização do ministro Alexandre de Moraes, do STF, a PF realizou busca e apreensão na casa de Bolsonaro. Outras pessoas foram alvo de buscas e seis foram presas, entre elas Cid.
“Os elementos informativos colhidos demonstraram coerência lógica e temporal desde a inserção dos dados falsos no sistema SI-PNI até a geração dos certificados de vacinação contra a Covid-19, indicando que Jair Bolsonaro, Mauro César Cid e, possivelmente, Marcelo Costa Câmara tinham plena ciência de inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente”, diz a PF.
Para jornalistas, Bolsonaro disse que não fraudou o cartão e que não tomou a vacina.
Bolsonaro e seu então ajudante de ordens Mauro Cid em 2019 — Foto: Adriano Machado/Reuters
Cartões de vacina
De acordo com o relato da Polícia Federal (PF) na Operação Venire, Cid articulou a emissão de cartões falsos de vacinação para covid-19. Primeiro para sua esposa, Gabriela Santiago Cid e suas duas filhas, depois para o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua filha, menor de idade.
O ex-vereador, segundo Barros, teria intermediado a inserção de dados falsos no sistema do SUS para beneficiar a esposa de Cid, Gabriela Santiago Cid.
Na avaliação dos investigadores da PF, Ailton Barros solicitou que, em troca da ajuda com os cartões de vacina, Cid intermediasse um encontro de Siciliano com o cônsul dos Estados Unidos para resolver um problema com o visto do ex-vereador devido ao seu suposto envolvimento no caso Marielle.