Fila de corpos, 132 mortos na operação policial mais letal no Brasil

Imagem de drone mostra corpos levados a São Lucas no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro – Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Segundo a Defensoria Pública e o Ministéiro Público do Rio de Janeiro, número de mortes na mega-operação nos complexos do Alemão e da Penha, chegou a 132 mortos. Representantes do órgão estão na região onde a ação policial aconteceu.
Corpos foram retirados nesta quarta-feira (29), por moradores de áreas de mata na divisa das regiões onde ocorreu a megaoperação na terça-feira, 28, e levados à Praça São Lucas e não estavam na contagem oficial de óbitos divulgada pelas autoridades fluminenses.
Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 29, as forças de segurança do Rio de Janeiro reconheceram que os corpos retirados por moradores dos complexos do Alemão e da Penha de uma área de mata e levados para uma praça são resultado da megaoperação. Apesar da alta letalidade, que a própria polícia afirmou ser “previsível”, a corporação disse que o “dano colateral foi muito pequeno”. Já são mais de 100 mortos confirmados no total.
O secretário da Segurança Pública, Victor dos Santos, afirmou que houve todo um trabalho de inteligência e de planejamento para a operação, fruto de uma investigação de aproximadamente um ano. Segundo ele, esse conhecimento foi necessário para que houvesse “um planejamento muito minucioso de como deveria ser a fase ostensiva”, quando os policiais entram em campo para cumprir os mandados.
“Dentro do histórico de operações naquele cenário, naquela localidade, procuramos em deslocar o local de contato com esses criminosos, tirando-os da área nas comunidades para a área de mata, que é onde eles efetivamente se escondem e atacam as forças policiais. Dessa maneira, a opção foi feita para o quê? Para preservar a vida de todos os moradores que naquela região residem. E obviamente, minimizar o dano colateral. Dentro desse contexto, nós tivemos um dano colateral muito pequeno, quatro pessoas inocentes foram baleadas, feridas, mas sem gravidade”, disse ele.

Corpos enfileirados na Praça São Lucas, na favela Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil – Foto: Pablo Porciuncula/AFP
Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, afirmaram ter encontrado pelo menos 74 corpos, que foram levados para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, uma das principais da região, ao longo da madrugada desta quarta-feira (29). Curi disse que foram 63 corpos achados na mata.
Entenda os números divulgados até agora:
- O governo havia informado em balanço na terça que havia 64 mortos, sendo que 4 eram policiais civis e militares, sendo 2 policias civis e 2 policiais militares.
- Mas, na manhã desta quarta, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) só confirmou oficialmente 58 mortos, sendo qe eram 54 criminosos. Ele não esclareceu por que o número do balanço de ontem foi alterado.
- Em coletiva, a cúpula da segurança do RJ atualizou os números: 4 policiais e 117 suspeitos mortos.
- Moradores afirmam ter encontrado 74 mortos na mata, que foram levados uma praça na Penha. Secretário da Polícia Civil fala em “63 corpos achados na mata”.
- Haverá uma perícia para ver se há relação entre essas mortes e a operação.
- Curi disse também que foram 113 presos, 33 de outros estados, como Amazonas, Ceará, Pará, Pernambuco e Goiás.
Os corpos, todos de homens, estavam na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os confrontos entre as forças de segurança e traficantes.

Moradores levam corpos achados em mata para a Praça São Lucas, na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil – Foto: Pablo Porciuncula / AFP
Operação tornou-se a mais letal do país, passando o massacre do Carandiru. Em 1992, o complexo penal foi palco da maior chacina ocorrida em uma prisão brasileira. O episódio durou 30 minutos e provocou a morte de 111 detentos
Polícia prendeu 113 pessoas e apreendeu 10 adolescentes. Entre os detidos, 33 são de outros estados. Segundo a PCERJ, foram apreendidas 118 armas, entre elas 91 fuzis. O número exato de drogas e munições apreendidos não foi informado pelos órgãos e ainda são contabilizados.

Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, levam corpos para a Praça São Lucas, após a megaoperação mais letal da história do RJ – Foto: Jose Lucena/The News S2/Estadão Conteúdo
A retirada dos corpos da praça foi feita com rabecões da Defesa Civil, dirigidos por bombeiros militares. Não havia nenhum policial no local durante a remoção dos mortos na manhã de hoje.
Polícia Civil abriu inquérito e vai investigar quem tirou os corpos da mata. “As pessoas serão investigadas por fraude processual por terem, supostamente, retirado as roupas das pessoas que estavam com roupas camufladas, informou o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Felipe Curi.”
IML foi fechado para receber somente os corpos das vítimas da operação hoje. Segundo a PCERJ, todos os outros corpos que precisarem passar por necropsia no Rio serão levados para o IML de Niterói.
Rabecões e familiares começam a chegar para identificação dos mortos e clima é de angústia. Parentes dos mortos enfrentam uma longa espera para fazer o reconhecimento dos corpos. Desde a manhã, eles estão sendo encaminhados para a sede do Detran, ao lado do IML do Centro, onde devem pegar uma senha e aguardar pelo atendimento. A Defensoria Pública montou uma estrutura e acompanha a situação junto aos familiares.
Familiares também tentam localizar parentes. A moradora Aline Alves da Silva não tem notícias do irmão, Alessandro Alves da Silva. A família aguarda no Detran por informações na tentativa de localizar o corpo. A polícia civil do Rio de Janeiro, responsável pela perícia dos corpos, não deu previsão para conclusão do trabalho de reconhecimento dos corpos.
Os policiais mortos são:
- Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, 51 anos, conhecido como Máskara, comissário da 53ª DP (Mesquita);
- Rodrigo Velloso Cabral, 34 anos, da 39ª DP (Pavuna);
- Cleiton Serafim Gonçalves, 42 anos, 3º sargento do Bope;
- Heber Carvalho da Fonseca, 39 anos, 3º sargento do Bope.

Saiba quem são os 4 policiais que morreram na operação mais letal da história do RJ — Foto: Reprodução Globo News
Mortos em combate
De acordo com a Polícia Civil, Máskara e Cabral foram atingidos durante a chegada das equipes ao Complexo da Penha, quando traficantes do Comando Vermelho (CV) reagiram a tiros e montaram barricadas em chamas. Eles chegaram a ser levados para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiram.
Os sargentos Cleiton Serafim e Heber Fonseca, do Bope, foram baleados em confrontos na Vila Cruzeiro, também durante o avanço das tropas pela comunidade.
Segundo nota oficial, os PMs foram socorridos e encaminhados ao Hospital Getúlio Vargas, mas morreram por causa dos ferimentos.



