FMI vê o Brasil ‘resiliente’ e eleva projeção de alta do PIB em 2024, de 1,5% a 1,7%
O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou suavemente suas projeções para a economia global em 2024. Para este ano, o PIB deve avançar de uma média de 2,9% projetados em outubro para 3,1%, enquanto a estimativa para o ano que vem continuou em 3,2%, segundo a nova edição do relatório Perspectivas Econômicas Mundiais, divulgado nesta terça-feira (30).
À frente, o FMI espera que o Brasil volte a acelerar o passo. O Fundo estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresça 1,9% em 2025, projeção inalterada frente às estimativas divulgadas pelo organismo em outubro do ano passado.
“Muitas economias continuam a demonstrar grande resiliência, com o crescimento a acelerar no Brasil, na Índia e nas principais economias do Sudeste Asiático”, diz o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em comentário sobre as novas projeções econômicas do Fundo.
Apesar disso, o Brasil deve crescer em ritmo aquém ao estimado para a América Latina em 2024, a despeito do corte na projeção do organismo para a região. O Fundo vê a economia latina crescendo 1,9% neste ano, 0,4 ponto porcentual abaixo da sua estimativa anterior. Para 2025, o FMI espera que a América Latina retome o fôlego e cresça 2,5%, mesmo avanço projetado para o PIB do ano passado.
Segundo o Fundo, a revisão regional é justificada pela expectativa de mais um ano de recessão na Argentina, devido ao “ajuste político significativo para restaurar a estabilidade macroeconômica” do país. Sob o governo de Javier Milei, o país deve amargar uma queda de 2,8% neste ano, projeção piorada em 5,6 pontos porcentuais. No ano passado, a Argentina já havia encolhido 1,1%, conforme as projeções do organismo. Para 2025, porém, o Fundo vê recuperação, com crescimento de 5,0%, uma melhora de 1,7 p.p. frente às projeções de outubro.
Por outro lado, o FMI destaca a melhora das projeções para grandes economias como a do Brasil e do México em 2024. No caso da economia mexicana, o Fundo melhorou a sua projeção em 0,6 p.p., para uma alta de 2,7% neste ano. O país tem se beneficiado de maiores volumes de negócios com países vizinhos, o chamado ‘nearshoring’, na esteira da pandemia e das tensões geopolíticas agravadas pela guerra na Ucrânia e, mais recentemente, no Oriente Médio.
“A melhoria nas projeções para o Brasil e O México reflete, em grande parte, os efeitos de transferência de uma demanda interna mais forte do que o esperado e de um crescimento superior ao previsto nas grandes economias parceiras comerciais em 2023”, diz o FMI, no relatório.
Fiscal e monetária
O FMI afirma ainda que sua visão para o quadro fiscal das economias emergentes e em desenvolvimento é “neutra”. A exceção, diz o Fundo, é o Brasil e a Rússia, que tiveram sua política fiscal flexibilizada no ano passado.
Nesse sentido, o organismo vê os países emergentes e em desenvolvimento com maior restrição de gastos em 2024, diante da necessidade de recompor as contas e conter a trajetória ascendente da dívida. “Espera-se que esta mudança abrande o crescimento no curto prazo”, alerta o Fundo.
Já a política monetária tem sido “assíncrona” entre os países ricos e os emergentes, define o FMI. Isso porque enquanto economias como as da Europa e dos EUA avaliam o momento certo de começar a cortar os juros neste ano, na América Latina, a flexibilização já começou.
“Alguns países com inflação em queda – incluindo o Brasil e o Chile, onde os bancos centrais apertaram a política mais cedo do que noutros países – as taxas de juro têm diminuído desde o segundo semestre de 2023”, reconhece o FMI.
Global
Segundo o documento, a melhora é fruto da resiliência maior do que a esperada nos Estados Unidos e a vários grandes mercados emergentes e economias em desenvolvimento, bem como os recentes apoios fiscais na China.
Ainda assim, a previsão para 2024–2025 está abaixo da média histórica (2000–2019), que era de 3,8%, devido às taxas de juros básicas mais elevadas praticadas pelos bancos centrais para combater a inflação, além de uma retirada do apoio fiscal num contexto de dívida elevada que pesa sobre a atividade econômica e abaixo crescimento da produtividade.
Para o FMI, a inflação está caindo mais rapidamente do que o esperado na maioria das regiões, num contexto de resolução de questões do lado da oferta e de uma política monetária restritiva. A inflação global deverá cair para 5,8% em 2024 e para 4,4% em 2025, com a previsão para 2025 revista em baixa.
“Com a desinflação e o crescimento constante, a probabilidade de uma aterragem brusca diminuiu e os riscos para o crescimento global estão globalmente equilibrados”, diz o FMI.
O Fundo alerta que políticas fiscais mais flexíveis do que o necessário e do que o assumido nas projeções poderão implicar num crescimento temporariamente mais elevado, mas com o risco de um ajuste mais dispendioso mais tarde. Já uma dinâmica mais forte de reformas estruturais poderá reforçar a produtividade com repercussões transfronteiriças positivas.
Entre os riscos para as projeções, o Fundo cita novos picos nos preços das matérias-primas devido a choques geopolíticos – incluindo ataques contínuos à navegação comercial no Mar Vermelho – e perturbações na oferta, além de uma inflação subjacente mais persistente. Tudo isso somando pode prolongar condições monetárias restritivas.
Emergentes e América Latina
Para os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento, espera-se que o crescimento seja de 4,1% em 2024 e aumente para 4,2% em 2025. A revisão em alta de 0,1 ponto percentual para 2024 ante a projeção de outubro de 2023 reflete melhorias para várias regiões.
Na América Latina e Caribe, a projeção é que a economia cresça, em média, 1,9% em 2024, abaixo dos 2,5% observado em 2023 e 0,4 ponto percentual menor que a estimativa feita em outubro. A revisão reflete o crescimento negativo na Argentina no contexto de um ajuste político significativo para restaurar a estabilidade macroeconômica.
Para 2025, espera-se uma recuperação, com o PIB da região avançando para 2,5%.
Entre as grandes economias da região, um destaque foi feito para o Brasil com projeção 0,2 ponto percentual maior que a do último relatório, passado de 1,5% para 1,7%. Para 2025, a estimativa foi mantida em 1,9%.
Já o PIB do México teve uma melhora de 0,6 ponto percentual na projeção para este ano, de 2,1% para 2,7%. Pra 2025, a projeção foi mantida em 1,5%.