Gusttavo Lima é indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa, após shows no Pará, volta para os Estados Unidos
Gusttavo Lima em Marabá, no Pará – Foto: Reprodução/Redes Sociais
Conforme reportagem do Fantástico deste domingo (29), o cantor Gusttavo Lima foi indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A medida foi adotada pela Polícia Civil de Pernambuco na Oeração Integration, que tem ao todo 53 alvos em seis estados brasileiros. Entre eles, estão bicheiros, empresário e a influenciadora digital Deolane Bezerra, além do cantor.
O indiciamento aconteceu em 15 de setembro. Agora, cabe ao Ministério Público decidir se denuncia ou não Gusttavo Lima à Justiça.
Após fazer dois shows em cidades do Pará, Gustavo Lima voltou para Miami, nos Estados Unidos, depois de fazer dois shows em cidades do Pará. A informação foi confirmada pela assessoria do artista, que explicou que ele vai ficar com a família.
O ‘embaixador’ fez shows em Marabá, na última sexta-feira (27), e em Parauapebas no sábado (28). As apresentações foram as primeiras que o cantor fez após ter sua prisão preventiva decretada – e revogada – por suspeita de participação de um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo casas de apostas digitais.
A defesa do cantor disse que recebeu “com muita tranquilidade e sentimento de justiça” a decisão que revogou a prisão dele. A equipe jurídica de Gusttavo afirma que ele é inocente e não tem envolvimento com o esquema investigado.
A polícia apreendeu R$ 150 mil na sede da Balada Eventos e Produções, empresa de shows de Gustavo Lima em Goiânia (GO).
Também encontrou 18 notas fiscais sequenciais, emitidas no mesmo dia e em valores fracionados por outra empresa do cantor, a GSA Empreendimentos, para a PIX365 Soluções (Vai de Bet, de acordo com a polícia), também investigada no esquema.
São mais de R$ 8 milhões pelo uso de imagem e voz do cantor.
O dinheiro vivo apreendido e as notas fiscais são, segundo a polícia, dois indícios de lavagem de dinheiro.
O advogado criminalista Rodrigo Andrade Martini explica o que é esse crime. “A lavagem de dinheiro ocorre quando a pessoa, a partir de um crime, ela recebe dinheiro, bens, valores ilícitos. Essa pessoa necessariamente precisa inserir na sua contabilidade”, afirma.
O processo para dar aparência legal a dinheiro criminoso geralmente envolve “a compra, portanto, fictícia de bens móveis ou imóveis, a prestação de serviços de uma maneira maquiada ou a compra sequencial de imóveis e emissão de notas fictícias”, diz ele.
Martini diz que precisa ficar claro se Gusttavo Lima sabia ou não que o dinheiro usado em todas as transações investigadas era de origem criminosa.
“A pessoa que não tem conhecimento da estrutura de lavagem de dinheiro, ela não pode ser punida pelo crime”, diz Martini. “Tendo conhecimento, eles devem, sim, ser investigados e punidos com rigor da lei.”
O cantor ainda é suspeito de uma negociação irregular de duas aeronaves para empresários ligados aos jogos ilegais.
Novos detalhes da investigação revelam que uma delas, um avião da Balada Eventos, foi vendida duas vezes (em um ano) para investigados na operação.
A primeira venda aconteceu em 2023. Por US$ 6 milhões, o avião foi vendido para a Sports Entretenimento, que pertence a Darwin Henrique da Silva Filho, que, segundo a polícia, é de uma família de bicheiros do Recife.
O pernambucano ficou com o avião durante dois meses. Logo depois, se desfez da aeronave, alegando problemas técnicos.
A investigação mostra que o contrato e o distrato foram emitidos no mesmo dia, 25 de maio de 2023. E que o laudo — que apontou a falha mecânica — foi feito depois do cancelamento da compra, dia 29 de junho do mesmo ano.
Em fevereiro de 2024, aconteceu a segunda venda: a Balada Eventos, de Gusttavo Lima, vendeu esse mesmo avião — dessa vez, para a empresa J.M.J Participações, do empresário José André da Rocha Neto, que também é alvo da operação. A venda aconteceu, segundo a polícia, sem nenhum laudo que comprovasse o reparo no avião. A transação de R$ 33 milhões envolveu ainda um helicóptero que também era da empresa de Gusttavo Lima e já tinha sido comprado por outra empresa de André Rocha Neto.
Na negociação, o helicóptero voltou para o cantor. A investigação aponta que as empresas que compraram as aeronaves usaram tanto dinheiro legal quanto dinheiro ilegal, vindo do crime.
De acordo com o inquérito, o esquema funcionava assim:
- O dinheiro do jogo do bicho, de jogos de azar e de bets legalizadas iam todos para um mesmo caixa
- Lá, os valores lícitos eram misturados aos do crime
- Para dar aparência legal e voltar ao mercado limpo, o dinheiro contaminado, segundo a polícia, foi usado na negociação das aeronaves.
“É uma forma de lavagem, transitar o dinheiro através de várias pessoas físicas ou jurídicas, buscando não facilitar o rastreamento deles”, diz Renato Rocha, delegado geral da Polícia de Pernambuco.
Esquema do qual Gusttavo Lima é suspeito, segundo investigação da polícia civil de Pernambuco – Foto: Reprodução
Investigada gastou R$ 2,4 milhões em dinheiro em 2 lojas de grife
José André da Rocha Neto – dono da empresa que comprou o avião de Gusttavo Lima pela 2ª vez – e a mulher dele, Aissla, são empresários da Paraíba e investigados na operação.
Os dois tem uma incompatibilidade entre o rendimento declarado à Receita Federal e a quantia que eles movimentaram nos últimos anos.
Conforme a polícia, em três anos, Aislla chegou a gastar R$ 2,4 milhões em dinheiro vivo — só em duas lojas de grife. Um dos acessórios que ela exibe nas redes sociais é uma minibolsa, que custou R$ 116 mil.
O casal José e Aissla tem muita empresas – e três delassão investigadas por lavagem de dinheiro. Elas são:
- J.M.J Participações, a mesma que comprou o avião da empresa do Gusttavo Lima
- Supreme Marketing e Publicidade, que comprou o helicóptero do cantor
- PIX365 Soluções, empresa que, segundo a polícia, é a Vai de Bet, e tem Gusttavo Lima como garoto-propaganda.
No dia da operação, investigados e cantor estavam na Grécia
No dia em que a operação foi deflagrada, no começo de setembro, o cantor foi intimado a depor. Rocha Neto e a mulher estavam com prisão decretada. Os bens e contas bancárias dos três, bloqueados.
Gusttavo Lima estava na Grécia gravando músicas novas e sucessos antigos. Ele tinha escolhido um iate luxuoso para comemorar com amigos seu aniversário de 35 anos. Rocha Neto e Aissla estavam lá.
fonte: g1