Indicados do Centrão são demitidos de Caixa, Iphan e Correios

Gleisi Hoffmann afirmou que demissões acontecem para “reorganizar a base” após derrubada da MP do IOF – Foto: Paulo Pinto/Divulgação/ND
‘Quem votou contra sai’, diz Gleisi
O governo começou a dar o troco no Centrão e a remontar sua aliança para a disputa eleitoral de 2026. Por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ocupantes de cargos indicados por deputados que na semana passada impuseram uma fragorosa derrota à equipe econômica, em votação na Câmara, começaram a ser demitidos.
“Estamos tirando dos cargos os indicados por deputados que votaram contra a Medida Provisória 1303 porque precisamos reorganizar nossa base”, disse ao Estadão a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso. “Quem votou contra optou por sair do governo”, completou ela.
A ação ocorre no momento em que Lula ganha fôlego e começa a recuperar popularidade, como mostram as pesquisas. Até agora, perderam os cargos vários indicados do PP, União Brasil, PSD, MDB e do PL para postos de comando em bancos e estatais como Caixa Econômica Federal, Correios e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de superintendências regionais no Ministério da Agricultura e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Indicado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Caixa, Carlos Vieira, continua no cargo. Ex-comandante da Câmara, Lira se ausentou do plenário na quarta-feira, 8 – dia da análise da MP 1303, que não chegou nem mesmo a ser apreciada -, e não votou. Sobrou para o consultor de Vieira no banco, José Trabulo Júnior – aliado do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI) -, que perdeu o posto.
Considerada fundamental pela equipe econômica para fechar as contas, a MP propunha alternativas a um aumento maior do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mas foi retirada de pauta em votação na Câmara. O placar contrário ao governo foi de 251 votos a 193.
Na prática, a aliança entre o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e o Centrão foi decisiva para o revés imposto ao Palácio do Planalto. Com isso, a medida que taxava bancos, bets e alguns ativos financeiros, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Agropecuário (LCA), perdeu a validade.
Gleisi avisou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que o governo não ficará de braços cruzados diante das traições e também conversou com líderes dos partidos aliados que votaram contra a orientação do Planalto.
“Não se trata de uma simples retaliação. Queremos saber com quem podemos contar, quem realmente está com o governo, e isso vale para todos”, afirmou Gleisi. “O corte não é partidário, mas diz respeito ao comportamento do parlamentar que integra a base do governo nas votações”.
Desde setembro, o União Brasil e o PP anunciaram que entregariam os cargos ocupados por indicação política no governo, mas até agora isso não se concretizou. Diante da última derrota sofrida na Câmara, porém, um ministro do PT disse ao Estadão que o Planalto decidiu “adiantar o serviço”.
Expoentes do Centrão, o União Brasil e o PP se movimentam para construir uma candidatura de oposição a Lula na disputa pelo Planalto, em 2026. O nome preferido pela maioria do grupo para ser o desafiante do presidente, no ano que vem, é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Nos bastidores, Tarcísio atuou para derrotar Lula na votação da MP 1303, batizada pela oposição de “MP Taxa Tudo”, embora negue ter ligado para deputados.
Após o que o governo classificou como “infidelidade”, começaram as demissões. A superintendente do Iphan no Maranhão, Lena Brandão Fernandes, por exemplo, foi dispensada no fim da semana passada. Lena é irmã do líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas (MA), que votou contra a MP.
Em abril, Pedro Lucas chegou a ser anunciado por Gleisi como o novo ministro das Comunicações, em substituição a Juscelino Filho, que deixou a pasta após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República, acusado de desviar recursos de emenda parlamentares. Dias depois, porém, o deputado rejeitou o convite, sob o argumento de que era líder de um partido com uma “bancada plural” e “diversa”.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), indicou, então, Frederico de Siqueira Filho para a cadeira antes ocupada por Juscelino.
Horas antes de engrossar o coro dos que votaram contra o governo na Câmara, o União Brasil destituiu o ministro Celso Sabino (Turismo) de suas funções partidárias e o PP fez o mesmo com o titular do Esporte, André Fufuca. A atitude foi tomada porque tanto Sabino como Fufuca, hoje deputados licenciados, decidiram permanecer no governo. Os dois são pré-candidatos ao Senado, em 2026, e querem o apoio de Lula.
Além de Siqueira Filho, o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, também é da “cota” de Alcolumbre no primeiro escalão e continuará na equipe.
O Planalto não cogita mexer nos apadrinhados por Alcolumbre. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), admitiu, no entanto, que Gleisi foi orientada a “passar a faca” nos indicados de parlamentares que têm feito oposição a Lula.
“Será uma nova fase. Não é razoável o que aconteceu na votação da Medida Provisória 1303 e nunca é tarde para se tomar decisões”, argumentou Guimarães, em entrevista ao Estadão. “Isso tem a ver com a governabilidade e com a necessidade que temos de aprovar propostas importantes daqui até o primeiro semestre de 2026”, acrescentou o deputado.
Na lista estão o próprio Orçamento da União, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Vista como carro-chefe da campanha de Lula à reeleição, em 2026, a medida que passou pela crivo da Câmara – tendo Arthur Lira como relator -, ainda precisa ser aprovada pelo Senado. Lá, porém, o governo está confiante porque conta com o apoio de Alcolumbre.
Com informações / Estadão