Economia

‘James Bond da filantropia’: quem é o bilionário que doou toda sua fortuna

Um bilionário que não tem casa própria, nem carro, e usa um relógio de US$ 15. Que só viaja de avião na classe econômica e possui um único par de sapatos. Esse é o estilo de vida de Charles Feeney, 91, fundador da Duty Free, empresa que vende produtos isentos de impostos em aeroportos.

Seu desprendimento vai além de hábitos pessoais: em 2020, ele alcançou a meta de doar integralmente sua fortuna para causas sociais e encerrou a fundação Atlantic Philantropies, criada em 1982 para este fim.

Feeney doou cerca de US$ 8 bilhões (mais de R$ 39 bilhões) para instituições de caridade, universidades e organizações pelo mundo, ficando com US$ 2 milhões para a aposentadoria dele e da esposa.

Para onde foi o dinheiro?

Grande parte das doações foi para educação e saúde. Foram mais de US$ 3,7 bilhões para instituições de ensino superior, incluindo US$ 1 bilhão a Universidade de Cornell, onde pôde estudar hotelaria de graça após servir na Guerra da Coreia.

Também foram destinados US$ 870 milhões para grupos dedicados à promoção dos direitos humanos – US$ 62 milhões foram doados a campanhas pela abolição da pena de morte nos EUA e US$ 76 milhões para apoiar a aprovação do Obamacare, lei voltada a um atendimento médico mais acessível nos EUA.

Neto de imigrantes da Irlanda do Norte, doou ainda US$ 1,9 bilhão para projetos no país e atuou nos bastidores pelo acordo de paz com a Irlanda, assinado em 1998.

As verbas também financiaram projetos em outros países, como Austrália, África do Sul e Vietnã. Na América Latina, a fundação doou US$ 66 milhões para projetos de saúde em Cuba e financiou trabalhos para ajudar a normalizar as reações entre os Estados Unidos e a ilha.

Doou anonimamente por 15 anos

Na primeira década e meia após a criação da Atlantic Philanthropies, Feeney distribuiu seu dinheiro para causas e projetos de maneira anônima. Isso só mudou em 1997, quando sua filantropia foi divulgada durante o processo de venda de sua empresa.

Antes disso, porém, ele viajava o mundo sem revelar sua identidade, buscando projetos em que acreditasse para doar dinheiro, o que fez com que a revista Forbes o chamasse de “James Bond da filantropia”, em uma referência ao agente secreto da ficção.

À BBC, o bilionário afirmou em 2017 que doava em segredo “para não ter que explicar o motivo às pessoas”.

Feeney nasceu em Nova Jersey, nos Estados Unidos, no período da Grande Depressão. Empreendeu desde muito jovem e lutou na Guerra da Coreia. Com o programa do governo norte-americano para veteranos de guerra, se tornou o primeiro da família a ir para a faculdade.

Depois de formado, ele abriu seu um negócio voltado à venda de produtos para soldados norte-americanos em missão na Europa. Essa empresa daria origem à Duty Free, fundada por ele e Robert Miller em 1960.

“Acredito que pessoas muito ricas criam problemas para as gerações futuras a menos que elas próprias aceitem a responsabilidade de usar sua riqueza durante a vida para ajudar causas que valham a pena”.

‘Doe enquanto está vivo’

O fundador da Duty Free defende “doar enquanto está vivo”, contrapondo-se à prática de deixar uma fundação póstuma para fazer esse trabalho. A ideia é que começar a doar antes pode acelerar o impacto positivo da filantropia na sociedade.

Feeney influenciou Bill Gates e Warren Buffett a lançar em 2010 a organização filantrópica Giving Pledge, que tem a missão de convencer os mais ricos do mundo a doar, em vida, pelo menos metade de suas fortunas.

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