Economia

Juros e preços deverão cair em 2026, mas financiamento continuará caro

Foto: Getty Images/iStockphoto

A inflação no Brasil vai cair e, com isso, o Banco Central deve cortar até três pontos percentuais nos juros da economia (Selic) até o final de 2026, segundo consultorias econômicas e gestoras de fundos. Mas os cortes serão insuficientes para baratear o financiamento de bens como casa e carro, e a manutenção dos juros em patamares relativamente altos continuará favorecendo investimentos em renda fixa.

A Selic —hoje em 15% ao ano— deve cair, no máximo, três pontos percentuais em 2026. Na segunda-feira (15), o Boletim Focus do Banco Central, baseado na média das opiniões de cem economistas, estimou que a Selic terminará o ano que vem em 12,13%.

De acordo com o portal uol, consultorias econômicas e gestoras de fundos suas projeções para a Selic em 2026. Anbima, XP e Bradesco Asset foram as mais otimistas: queda de três pontos percentuais, para 12% ao ano.

Na última ata do Copom, o Banco Central não deu pistas sobre quando os cortes começarão. O mercado se divide entre janeiro e março, mas já há quem aposte que a redução tenha início apenas em abril. A Anbima projeta um corte de 0,25 ponto percentual em janeiro e outras três quedas de 0,5 ponto ainda no primeiro semestre. “Após isso, haverá outro corte de 0,25 ponto percentual, depois um de 0,50 e, em seguida, mais dois cortes de 0,25 que levarão a Selic a 12% no final do próximo ano”, diz.

O Itaú Asset espera corte maior só a partir de março. “O cenário será um corte de 0,25 ponto percentual, em janeiro ou não. Isso, eu acho, o Banco [Central] pode escolher”, afirmou Bruno Serra, atual chefe da família de fundos Janeiro da Itaú Asset em evento próprio na semana passada. “A partir daí, as discussões serão sobre 0,75 ponto percentual ou, dependendo do cenário, até mesmo um ponto percentual.” Para a Tendências, o corte só começa em março.

O Focus também projeta inflação mais baixa ao final do ano que vem. Na média das opiniões dos economistas consultados, a taxa ficará em 4,1%, ainda longe do centro dessa meta, que é de 3% ao ano.

O boletim é menos otimista em relação ao crescimento do PIB (produto interno bruto), além de estimar que o real perderá valor frente ao dólar:

PIB: 1,8% em 2026, contra 2,25% neste ano.
Câmbio: dólar a R$ 5,50, contra R$ 5,40 este ano.

O que projetam as consultorias e gestoras?

As principais consultorias e gestoras do Brasil também projetam esses indicadores. O Itaú Asset é o mais otimista com a inflação; a 4intelligence é a mais pessimista em relação ao valor do real frente ao dólar, mas as duas são as mais otimistas em relação ao PIB:

Inflação
Itaú Asset: 3,8%
Bradesco Asset: 4,1%
XP: 4,2%
Ambima: 4,4%
4intelligence: 4,4%

Dólar
Itaú Asset: R$ 5,30
Bradesco Asset: R$ 5,50
XP: R$ 5,50
Ambima: R$ 5,50
4intelligence: R$ 5,60.

PIB
XP: 1,7%
Bradesco Asset: 1,8%
Ambima: 1,8%
Itaú Asset: 2%
4intelligence: 2%

Otimismo em ano eleitoral?

As projeções para a Selic em 2026 levam em conta o compromisso com o ajuste fiscal ao longo do ano e em 2027. “Nossa premissa de trabalho é que haverá ajuste fiscal [em 2026]”, diz Fernando Honorato, coordenador do grupo de macroeconomia da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que reúne 26 economistas de instituições financeiras. “Enxergamos continuidade na agenda macroeconômica com ajuste fiscal avançando em 2027.”.

Ambiente global é o principal entrave a uma possível queda da Selic. “Tem a decisão da Suprema Corte americana sobre as tarifas impostas pelos EUA ao mundo, a substituição do presidente do Fed [o banco central americano], eleição de meio de mandato por lá e bolha de inteligência artificial”, enumera Honorato, que também é o economista-chefe do Bradesco.

Por outro lado, é possível que a Selic caia mais do que o previsto. “Pode ser que os riscos globais não se realizem e o câmbio se aprecie por aqui. Com a demanda doméstica mais fraca, haverá mais espaço para cortar juros”, diz.

O ano eleitoral deve influenciar pouco. “A gente não considera eleições diretamente”, diz Thais Zara, economista da 4intelligence. Mas como o câmbio tende à instabilidade em ano eleitoral, “os preços podem ficar mais elevados, o que poderia atrapalhar um pouco a trajetória esperada de queda de juros em 2026”.

“Os últimos seis ciclos eleitorais não afetaram os preços até uns três meses antes das eleições. Já no ciclo eleitoral, a mediana com câmbio a R$ 5,50 é suficiente para afrouxamento monetário.” – Fernando Honorato, economista.

Já a inflação deve ficar perto do teto da meta, diz Zara. Ela lembra que em 2025 os preços da alimentação em domicílio caíram bastante, “o que não deve se repetir em 2026”. “Teremos um ano mais próximo do histórico, o que manterá a inflação pressionada.”

Selic alta encarece principalmente a concessão de crédito e serviços financeiros. As taxas cobradas em empréstimos pessoais, financiamentos imobiliários e de veículos, além de linhas de crédito para empresas, ficam caras.

Para quem deseja uma casa nova, o conselho é priorizar a entrada. Como os juros do financiamento seguem altos também, o custo total do imóvel no longo prazo também sobe. Assim, quanto maior for a entrada, menor será o financiamento. “Eembora imóveis são frequentemente considerados ativos com potencial de valorização a longo prazo, em um cenário de Selic alta e expansão imobiliária, as parcelas iniciais tendem a ser mais elevadas, comprometendo a renda familiar por um período considerável”, diz Natalie Verndl, delegada do Conselho Regional de Economia (Corecon) de São Paulo.

Aos que sonham com um carro novo, o melhor é esperar os juros caírem ou comprar à vista. Com a Selic alta, é comum encontrar taxas de juros acima disso (até 20% ao ano). “A depreciação do veículo, muitas vezes rápida, combinada com um financiamento de longo prazo, pode levar o consumidor a pagar por anos um bem que já perdeu significativa parte de seu valor de mercado”, diz Verndl

Mas investir em renda fixa é bom negócio com a Selic alta. Investimentos remunerados pela taxa básica, como o Tesouro Selic (um título público), oferecerem retorno maior, enquanto a poupança perde ainda mais competitividade.

fonte: uol

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