Justiça Argentina condena Cristina Kirchner a 6 anos de prisão
A condenação de Cristina Kirchner a seis anos de prisão e inelegibilidade a cargos públicos está longe de decretar sua morte política. Primeira vice-presidente no cargo a ser sentenciada por corrupção, ela não vai para a prisão, por ter foro privilegiado, pode recorrer e concorrer a um cargo político até a decisão final da Suprema Corte, que não sairá antes das eleições presidenciais de outubro.
A tão esperada sentença foi mais branda do que a pedida pelo promotor. Mas, de antemão, acirra a disputa entre os dois principais campos políticos do país, personificados por Cristina e o ex-presidente Mauricio Macri, e antecipa a campanha para as presidenciais.
A atual vice-presidente ainda não anunciou a candidatura à Casa Rosada– especula-se também que possa vir a concorrer ao Senado – , mas é o que seus seguidores esperam dela.
Uma pista foi dada na semana passada por Gregorio Dalbón, advogado e um dos interlocutores mais próximos da vice-presidente: a condenação a deixará mais próxima da candidatura à Presidência. “O que Cristina vai fazer é transmutar porque ela se constrói com pedras”, alegou.
Dalbón estima que ela se beneficiará mais no campo eleitoral com uma condenação do que com a absolvição. Antes de a sentença sair, contudo, cerca de 70% dos entrevistados disseram em pesquisas considerá-la culpada por fraude contra o Estado em obras públicas.
O cenário eleitoral está indefinido na esquerda e na direita. O presidente Alberto Fernández enfrenta o desgaste pela inflação de três dígitos e a complexa relação com sua vice. Na coalizão opositora, há conflitos internos: Macri ainda não se decidiu, assim como a dirigente do PRO, Patricia Bullrich, representante da ala mais radical. O deputado Javier Milei corre por fora, pela extrema direita, e ganha pontos.
O kirchnerismo trabalha para dar uma resposta ao julgamento, que Cristina, na última audiência no tribunal, classificou como um pelotão de fuzilamento midiático, com a sentença previamente escrita. Seus opositores almejam vê-la enfraquecida e banida da política, mas ela insiste na politização do caso e compara a atuação de magistrados, que chama de “partido da justiça”, à de militares durante a ditadura.
Cristina é mestre em testes de sobrevivência política. Foi presidente entre 2007 e 2015 e voltou ao Senado durante o mandato de Macri, quando já respondia a acusações de corrupção. Isso não a impediu de se eleger vice-presidente em 2019, na chapa liderada por Alberto Fernández. Ela enfrenta outros cinco processos e recuperou apoio após a tentativa de assassinato sofrida em setembro, na porta de sua residência em Buenos Aires.
Após o veredicto, Cristina aumentou o tom contra os juízes: “Esta sentença não é uma sentença pelas leis da Constituição ou do Código Penal. Isto é um Estado paralelo e máfia, máfia judicial.” A tese da perseguição política é mais um fator divisivo na sociedade argentina.