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Kamala Harris já empata tecnicamente com Donald Trump, e anima disputa presidencial nos EUA

Kamala Harris foi a primeira mulher a ocupar a vice-presidência dos EUA – Crédito: Kevin Mohatt/Reuters

A desistência de Joe Biden de concorrer à reeleição e seu endosso à candidatura da vice-presidente Kamala Harris injetaram uma energia na campanha democrata só comparável ao impacto que a tentativa de assassinato teve sobre os seguidores do ex-presidente Donald Trump. O extremo contraste pessoal entre Harris e Trump, combinado com o perfil combatente de ambos, tornará essa a disputa eleitoral mais eletrizante dos últimos tempos.

A média de seis pesquisas realizadas antes da desistência de Biden, só uma delas depois da tentativa de assassinato de Trump, coloca Harris apenas um ponto porcentual atrás do ex-presidente: 47% a 48%. Isso, num cenário em que ela não era candidata a presidente e, embora fosse vice-presidente, é uma personalidade muito menos conhecida do que Trump e Biden.

Em seu primeiro dia de campanha, simultaneamente para garantir a nomeação do partido e já falando como candidata, Harris ressaltou nessa segunda-feira (22) seu histórico de procuradora da Justiça na Califórnia, e fez um paralelo entre o tipo de criminosos que enfrentou nos tribunais e o perfil de Trump: “Predadores que abusavam de mulheres, fraudadores que desfalcavam consumidores, vigaristas que violavam as regras para proveito próprio. Então me ouçam quando digo que conheço o tipo de Donald Trump”.

A pré-candidata se colocou assim no papel de acusadora de seu oponente, condenado em um processo criminal e réu em outros três. Trump já tem uma defesa elaborada contra essa linha de ataque, retratando-se como vítima de perseguição política por meio da Justiça.

O entusiasmo despertado pela indicação de Harris se traduz nas doações para sua campanha: US$ 81 milhões em 24 horas que se seguiram ao anúncio de Biden, na tarde de domingo. Esse número representa a energia represada pela frustração e pelas incertezas que o desempenho desastroso do presidente em público e sua insistência em seguir adiante na campanha causaram nos eleitores e doadores não só democratas, mas anti-trumpistas, num sentido mais amplo.

E isso num contexto em que Harris não é sequer a candidata oficial, e o processo de escolha no interior do partido ainda parece incerto. Mas seu perfil de mulher afro-asiática, filha de imigrantes bem-sucedidos – um professor de economia jamaicano e uma cientista indiana , 19 anos mais jovem que Trump, carrega consigo um potencial incomparável para atrair o voto de fatias do eleitorado que vinham fazendo falta a Biden, segundo as pesquisas: feminino, jovem, negro, latino e de renda baixa.

A disputa presidencial nos Estados Unidos deixa de ser entre dois homens brancos ao redor de 80 anos de idade, com a entrada de Harris, de 59 anos, se sua candidatura for confirmada, algo que parece extremamente provável: não há ambiente para mais divisão no Partido Democrata, depois das semanas traumáticas que se seguiram ao debate da CNN, há quase um mês, quando as preocupações em relação às faculdades mentais do presidente, já existentes, escalaram para um clamor em favor de sua desistência.

Os contrastes entre Trump e Harris são de três níveis. Há as diferenças clássicas entre republicanos e democratas: menos impostos para destravar a atividade econômica versus o apoio das políticas públicas para os setores de renda mais baixa; incentivo à indústria de petróleo e gás contra o investimento na transição energética; restrições ao direito ao aborto e facilidade de acesso às armas, e o inverso disso do outro lado.

Num segundo nível, estão as posições de Trump, que romperam com a tradição do Partido Republicano: o protecionismo comercial e o abandono dos aliados na Europa e na Ásia.

Por último, mas que salta aos olhos imediatamente, está a diferença de perfis pessoais entre Trump e Harris. Nesse sentido, a nova possível candidata democrata personifica uma experiência e uma visão radicalmente distintas dos Estados Unidos.

As eleições deste ano colocam os americanos em uma encruzilhada, e é muito provável que mobilizem eleitores que normalmente se mantêm indiferentes a essa escolha. Afinal, dependendo do resultado, seu país tomará rumos opostos.

Trump e Kamala – Foto: AFP

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