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Letícia Oro alcança bronze com treinos em pista humilde e longe dos holofotes

Nascida em Joinville, no interior de Santa Catarina, saltadora ainda tem base na cidade e começou por acaso na prova que a consagrou nos Estados Unidos

Letícia Oro Melo ganhou as atenções do Brasil ao conquistar a medalha de bronze no salto em distância no Campeonato Mundial de Atletismo, em Eugene, nos Estados Unidos. Mas quem vê a catarinense de 24 anos saltando 6.89m na pista do mundial não imagina o caminho até chegar lá.

Nascida e criada em Joinville, no interior de Santa Catarina, a saltadora tem a cidade como base de treinos até hoje, com uma pista humilde. Segundo o treinador, João Carlos, eles já receberam a promessa de construção de uma pista para saltos.

O local é o único disponível para as atividades e, apesar de ter boas condições segundo João, é feita à base de carvão, que não dá o resultado ideal para preparação pensando na tecnologia das pistas profissionais, como a usada no Mundial, por exemplo.

– Não temos outra opção, Joinville é uma cidade que chove muito. Aí a gente vai para o estacionamento, que o piso é duro e dá canelite. Às vezes vai para a quadra que é um pouco melhor e a universidade cede para a gente. A pista é de carvão, então ela não devolve da forma ideal. O movimento não sai completo – explicou o treinador de Melo.

A pista pertence a uma universidade da cidade, que empresta a estrutura para a Corville, instituição que vive de colaboradores e é tocada pelos treinadores que treina Letícia e outras dezenas de atletas.

A medalhista é a única saltadora entre os 11 atletas que treinam com João Carlos, a maioria deles lançadores. No projeto, ao todo são seis treinadores, que além dos atletas adultos treinam cerca de 50 crianças da cidade catarinense.

Leticia Oro Melo é bronze no salto em distância do Mundial de Atletismo  — Foto: Patrick Smith/Getty Images
Leticia Oro Melo é bronze no salto em distância do Mundial de Atletismo — Foto: Patrick Smith/Getty Images

Nem mesmo a altura foi um empecilho para Letícia Oro Melo. Com 1,58m e calçando 34, a brasileira foge do padrão para atletas do salto, mas compensa isso com técnica.

– Se você pensar, vão falar “tá louco de colocar uma menina desse tamanho no salto”. É muito da qualidade, ela tem uma qualidade excepcional, muita velocidade e explosão, e isso supera o tamanho. Ideal que tivesse uns 10cm a mais, mas aí talvez não tivesse essa qualidade – pontuou João Carlos.

A medalhista brasileira chegou ao salto em distância por acaso. Em 2012, quando tinha 13 anos, disputava provas de velocidade na pista, como 100m e 200m, mas entrou na lista de saltadoras do campeonato estadual apenas para completar a disputa. O resultado? Recorde da competição e título, com salto de 5.59m.

Letícia Oro Melo em 2012 no campeonato estadual em que bateu o recorde, aos 13 — Foto: Arquivo Pessoal
Letícia Oro Melo em 2012 no campeonato estadual em que bateu o recorde, aos 13 — Foto: Arquivo Pessoal

– Foi meio que por acaso, ela nem treinava comigo. Tinha 12 anos, foi para uma competição, não tinha gente suficiente para saltar. Colocaram ela, ela bateu recorde, foi campeã. Meio que se convocou para o salto. Antes corria os 100m e os 200m – revelou o técnico.

O treinador, que completa 70 anos no próximo dia 13 de agosto, viveu uma madrugada agitada na torcida pela pupila. João Carlos não dormiu, recebeu mensagens de diversos alunos e falou rapidamente com Letícia depois da prova.

“Os [alunos] que vieram [treinar] de manhã falaram que quase morreram do coração. Imagina eu, com a minha idade, como estava. Todos me mandaram mensagem, perguntando se eu estava bem”, destacou.

A atleta tem previsão de chegada em Joinville às 14h50 desta terça-feira e será recebida com desfile no carro dos bombeiros, indo até a pista onde treina e depois para casa.

Saga no Mundial

Além da estrutura, Letícia teve ainda que lidar com uma lesão grave no joelho sofrida em dezembro de 2021, quando rompeu o ligamento cruzado e ficou praticamente sete meses sem competir. O retorno foi no Troféu Brasil, com direito a título no dia 27 de junho.

No Mundial, Oro Melo disputou a primeira competição da carreira fora da América do Sul e chegou sem ranking como a zebra da prova. Na última chance, avançou para a decisão com a 12ª marca, um 6.64m que era o melhor índice da carreira.

Era, porquê ela abriu a final saltando 6.89m na primeira tentativa, 25cm acima do recorde anterior. Essa foi a marca que garantiu a ela a medalha de bronze, porque os outros cinco saltos foram queimados.

Fonte: ge

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