Lula e Bolsonaro viram cabos eleitorais de peso em 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro não foram bons cabos eleitorais nas eleições municipais de 2020. No cargo, no Palácio do Planalto, Bolsonaro recebia os candidatos e seus materiais de campanha e os exibia em lives no Alvorada. O petista, que foi solto depois de 580 dias de prisão, em novembro de 2019, atuou no pleito. Mas nenhum dos dois se saiu bem nas urnas naquele ano. No caso do ex-presidente, dos 13 candidatos a prefeito para quem fez campanha, apenas dois se elegeram. Ele apoiou 45 candidatos a vereador e apenas 10 lograram êxito.
O PT, em 2020, pela primeira vez não elegeu um prefeito de capital sequer, um registro negativo na história do partido desde a redemocratização. As principais cidades administradas hoje pelo partido são de tamanho médio, como Juiz de Fora e Contagem, em Minas Gerais, e Diadema e Mauá, em São Paulo. Lula gravou para vários candidatos, mas não resolveu muito, foi insuficiente.
A pouco menos de um ano das eleições, governo e oposição se mobilizam para o pleito de 2024, com expectativa de alterarem esse quadro de derrotas de quatro anos atrás. O que se desenha é um terceiro turno entre Lula e seu grupo, e Bolsonaro e seus aliados. Dos dois lados, já começaram as mobilizações, estratégias, definições de nomes e prioridades, e até a discussão sobre material de campanha.
O PL se programa para lançar candidatos a pelo menos metade das prefeituras do país e espera atingir ao menos 2,5 mil municípios. O PT, sempre intransigente em ceder espaço para outros em cabeça de chapa, demonstra estar mais flexível e faz conversas iniciais com as forças que ajudaram a eleger Lula no ano passado.
Nessa movimentação, os nomes começam a surgir. Sempre a mais cobiçada, a sucessão na Prefeitura de São Paulo centraliza o debate. O PL está no aguardo da ordem de Bolsonaro para saber que rumo tomar lá, tendendo a apoiar a reeleição de Ricardo Nunes, atual prefeito, mas filiado ao MDB. O ex-presidente está rifando o nome de seu ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), que pode deixar o partido. Mas, no PL, há quem insista com o ex-auxiliar de Bolsonaro.
“Penso que o nome de Ricardo Salles é o mais forte para tentar derrotar Guilherme Boulos (PSol) em São Paulo. Vamos fazer de tudo para ele continuar no partido e ser nosso candidato lá. Mas, deixo claro, respeitarei qualquer decisão do partido”, disse o deputado Bibo Nunes (PL-RS), um dos vice-líderes do partido na Câmara.
Boulos praticamente só pensa na disputa na capital paulista. Já está com equipe de campanha montada e atuando na busca de acordos. Ao abrir mão de disputar o governo do estado no ano passado, o deputado do PSol obteve a garantia de que o partido de Lula o apoará no pleito. Na última quarta, Boulos esteve com Lula no Planalto e trocaram mensagens elogiosas nas redes.
“Muito bom te receber na Presidência e conversar sobre o Brasil contigo, companheiro Guilherme Boulos”, postou Lula. O psolista repostou, com a foto da reunião: “Excelente conversa com o presidente Lula sobre São Paulo”. A mensagem que Boulos deseja passar é uma só, que o presidente está fechado com sua candidatura.
No PT, foi criado o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), coordenado pelo senador Humberto Costa (PE). Em reuniões semanais, esses petistas começam a definir o mapa eleitoral e já projetam que o PT deve ter candidato próprio entre 12 e 14 capitais.
As conversas também envolvem cerca de 300 cidades com mais de 100 mil eleitores onde pode ter segundo turno. Nessas, o partido de Lula começou a debater com os aliados e espera ter um quadro bem adiantado até o fim do ano. Há uma preocupação de não deixar as disputas regionais e paroquiais contaminarem a base do governo no Congresso. Lula deve participar diretamente dessas conversas. O próprio presidente disse, na última sexta-feira, que, na economia, 2024 não será fácil. O Planalto precisará de uma base forte.
Enquanto isso, o PL agenda viagens de Bolsonaro pelo país, com a presença, em alguns lugares, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O partido do ex-presidente, ao contrário do PT, quer estar presente no maior número de cabeças de chapa. O presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, fala em 3 mil candidatos.
O Bolsonaro que o PL pretende vender no material de campanha é mais moderado que o presidente das bravatas, que ameaçou fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) e desprezou a relevância da vacina no combate à covid-19, esse tido como seu maior prejuízo eleitoral e fator principal de sua derrota em 2022 para Lula.
O apelo a ser feito é reforçar no eleitorado as bandeiras da direita. “O Partido Liberal valoriza a família, a liberdade de expressão e sentimos orgulho do nosso país quando ouvimos o Hino Nacional”, diz Valdemar.
Para a disputa das principais capitais, o PL já trabalha com nomes do bolsonarismo raiz, caso do general Braga Netto, que foi vice de Bolsonaro no ano passado, ou do Delegado Ramagem (PL-RJ) para a disputa no Rio. No seu berço político, o ex-presidente faz questão de ter candidato próprio.
Em Belo Horizonte, está uma aposta do partido, com o nome de Nikolas Ferreira, deputado mais votado do país no ano passado, com 1,5 milhão de votos. Na capital mineira, a esquerda procura um nome e desponta o do deputado federal Rogério Correia (PT), que se destacou nos trabalhos da CPMI do 8 de Janeiro. Por fora, circula o nome do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), que saiu bem avaliado de seu mandato, entre 2017 e 2022, mas foi derrotado por Romeu Zema (Novo) na disputa do governo do estado, mesmo com o apoio de Lula.
Os gargalos dos dois grupos políticos nas eleições municipais serão os mesmos enfrentados na disputa presidencial. A direita terá dificuldade em fazer prefeitos no Nordeste. E a esquerda na Região Sul do país. A disputa é fundamental para as pretensões de lulistas e bolsonaristas. Eleger o maior número de prefeitos significa aumentar a base de apoio no interior do país, além de capitais e cidades médias, e preparar o terreno para 2026, quando governos estaduais e a Presidência estarão em jogo.
GRUPO GOVERNISTA
- Belo Horizonte (MG): deputado federal Rogério Correia (PT), deputada federal Duda Salabert (PDT) e Alexandre Kalil (PSD)
- Rio de Janeiro (RJ): deputado federal Tarcísio Motta (PSol), Eduardo Paes
- São Paulo (SP): deputado federal Guilherme Boulos (PSol)
- Belém (PA): prefeito Edmilson Rodrigues (PSol)
- Campo Grande (MS): deputada federal Camila Jara (PT)
- Cuiabá (MT): ex-deputada federal Rosa Neide (PT)
- Curitiba (PR): deputada federal Carol Dartora (PT)
- Fortaleza (CE): deputada federal e ex-prefeita Luiziane Lins (PT)
- Goiânia (GO): deputada federal Delegada Accorsi (PT)
- Natal (RN): deputada federal Natália Bonavides (PT)
- Porto Alegre (RS): deputada federal Maria do Rosário (PT) e Fernanda Melchionna (PSol)
- Recife (PE): prefeito João Campos (PSB)
- Salvador (BA): vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e o deputado estadual Robinson Almeida (PT).
- São Luís (MA): deputado Duarte Júnior (PSB).
GRUPO BOLSONARISTA
- Belo Horizonte (MG): deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e deputado estadual Bruno Engler (PL)
- Rio de Janeiro (RJ): general Braga Netto (PL) e deputado federal Delegado Ramagem (PL)
- São Paulo (SP): prefeito Ricardo Nunes (MDB) e deputado federal Ricardo Salles (PL)
- Belém (PA): Delegado Eguchi (PL)
- Campo Grande (MS): deputado federal Marcos Pollon (PL)
- Cuiabá (MT): deputado federal Abílio Brunini (PL)
- Curitiba (PR): ex-deputado federal Paulo Martins (PL)
- Fortaleza (CE): ex-deputado federal Capitão Wagner (União) e deputado federal André Fernandes (PL).
- Goiânia (GO): deputado federal Gustavo Gayer (PL)
- Natal (RN): deputado federal General Girão (PL)
- Porto Alegre (RS): prefeito Sebastião Melo (MDB)
- Recife (PE): ex-ministro Gilson Machado (PL)
- Salvador (BA): prefeito Bruno Reis (União) e João Roma (PL)
- São Luís (MA): prefeito Eduardo Braide (PSD)