Lula é recepcionado com execução de ‘Novo tempo’, de Ivan Lins, em encontro com Xi Jinping
O presidente Luiz Ináacio Lula da Silva (PT) foi recebido nesta sexta-feira (14/4) pelo presidente chinês Xi Jinping, em Pequim, com uma cerimônia coreografada nos mínimos detalhes, com mais de 400 militares em marcha e crianças uniformizadas e enfileiradas chacoalhando bandeiras do Brasil e da China. Lula afirmou, na abertura da reunião entre os dois, que “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”, em uma calculada alfinetada nos Estados Unidos. Xi Jinping, por sua vez, chamou Lula de “amigo de longo tempo” e afirmou que a “China trata de maneira estratégica e com longo alcance a relação com o Brasil”.
A recepção a Lula teve ainda disparos de tiros de canhão e diversas bandas de música que executaram o Hino Brasileiro e, enquanto os dois presidentes passavam as tropas em revista caminhando sobre longos tapetes vermelhos, tocaram a canção “Novo tempo”, de Ivan Lins.
Desde o instante em que Lula desceu do carro, ao som de música épica, a cerimônia durou 15 minutos. A recepção se deu diante da fachada principal do Grande Salão do Povo, o epicentro do poder chinês, bem em frente à mítica Praça da Paz Celestial.
Acompanhados das primeiras-damas, Xi Jinping e Lula cumprimentaram ministros dos dois países que os aguardavam na escadaria e, logo depois, entraram para o esperado encontro, programado para ocorrer em dois tempos – a primeira parte na companhia de vários auxiliares dos dois lados e a segunda, mais restrita e reservada.
Já nos primeiros instantes da conversa, Lula cutucou indiretamente os Estados Unidos, que estão em franca guerra comercial e diplomática com a China já há algum tempo.
“Ontem, fizemos visita a Huawei numa demonstração de que queremos dizer ao mundo que não temos preconceito com o povo chinês. E que ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”, disse Lula, reafirmando o discurso que fizera horas antes ao se reunir com o presidente da Assembleia Popular Nacional, o congresso chinês, Zhao Leji.
O presidente disse que a relação com a China pode ajudar o Brasil na preservação ambiental e na transição energética: “O Brasil pode, praticamente, dobrar a sua produção agrícola, recuperando as terras degradadas, sem precisar derrubar nenhuma árvore. E queremos ter uma relação com a China para que a gente possa construir uma política de desenvolvimento no Brasil no campo da energia, já temos empresas chinesas trabalhando no Brasil”.
O petista mencionou reuniões com empresas chinesas que pretendem investir na produção de veículos elétricos e no desenvolvimento de inteligência artificial no Brasil.
Nesse encontro, o presidente falou em fazer uma parceria com o gigante asiático para “mudar a governança mundial”. Disse ainda que os “interesses na relação com a China não são apenas comerciais”.
Na véspera do encontro com Xi Jinping, Lula visitou em Xangai um centro de pesquisas da Huawei, gigante de tecnologia chinesa que é alvo de sanções do governo americano – Washington acusa a companhia de servir a interesses escusos de Pequim, incluindo espionagem.
Janja e Peng Liyuan
Mais que relação comercial
Lula falou do orgulho de visitar a China pela quarta vez e da emoção ao ver o espetáculo das crianças ao chegar para encontro: “Nós precisamos trabalhar muito para que a relação Brasil-China não seja uma relação meramente de interesse comercial. Tudo bem, o interesse comercial é política. Nós queremos que a relação Brasil-China transcenda a relação comercial”.
“Queremos uma relação no campo da ciência e da tecnologia, queremos ter uma relação conjunta entre as nossas universidades para que a gente tenha mais alunos brasileiros na China, mais alunos chineses no Brasil. Queremos ter uma relação forte para que os chineses compreendam melhor ainda a cultura brasileira e os brasileiros compreendam melhor a cultura chinesa”, emendou o presidente brasileiro.