Marina sofre ataques machistas de ruralistas, em sessão no Congresso Nacional

Foto: Vinicius Loures / Câmara dos Deputados
Pela segunda vez, Marina Silva foi alvo de machismo ao participar de uma sessão no Congresso Nacional. Na aparição anterior, a ministra do Meio Ambiente abandonou a sessão em uma comissão do Senado após ataques.
Marina esteve diante da bancada ruralista hoje. Ela foi convocada pela Comissão de Agricultura da Câmara para dar explicações sobre questões ambientais. A convocação é de comparecimento obrigatório.
A sessão foi menos conturbada do que a no Senado, mas nem por isso a paz imperou o tempo todo. A ministra defendia sua gestão de forma veemente quando o deputado Cabo Gilberto (PL-PB) pediu calma. Ela ficou contrariada.
Marina reclamou de machismo. Afirmou que, quando um homem levanta a voz, é considerada uma forma incisiva na defesa de suas ideias. Já as mulheres são cerceadas ao adotarem a mesma atitude. Em outro momento, ela declarou que se sentia “terrivelmente agredida”.
Um deputado não identificado da oposição falou que a ministra fazia “show”. A ministra negou e argumentou que defendia uma causa. Ao mesmo tempo, as deputadas Talíria Petrone (PSOL-RJ) e Chris Tonietto (PL-RJ) começaram a discutir com os microfones desligados.
O comportamento de ambas demonstra como o embate das tropas de choque pioraram o ambiente na comissão. Ruralistas e governistas interrompiam e ironizavam declarações do campo adversário sempre que possível. As interrupções levavam a discussões paralelas.
Ainda assim, na maior parte do tempo o ambiente não foi tão agressivo como em sessões com outros ministros. Parlamentares de cada campo fizeram a defesa de seus pontos de vista e tentaram “lacrar” com adversários para ter cortes que alimentassem as redes sociais.
O ambiente nervoso era esperado. A oposição pegou muito pesado no Senado. O ápice foi o senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmar que “a mulher Marina merecia respeito; a ministra, não”.
A oposição tentou evitar ofensas à ministra. Deputados mais militantes foram procurados pela cúpula da Comissão de Agricultura, que pediu ponderação para evitar desgaste na reputação dos ruralistas.
Um exemplo de deputado com estilo agressivo é Evair de Melo (PP-ES). Ele já chamou Marina de “câncer” durante sessão da Comissão de Agricultura. O parlamentar ficou tão orgulhoso da frase que colocou o corte no seu Instagram.
A moderação também pretendia não aumentar o prestígio da ministra. A avaliação é que Marina ganhou o debate contra os senadores ao ser ofendida, criando condições para deixar a sessão como uma liderança feminina e da agenda ambiental.
Foi pedido para centrar as perguntas nas fragilidades do governo Lula. A ministra precisou responder às principais críticas ao governo sobre temas ambientais. A gestão Lula tem recorde de focos de incêndio e há problemas também com multas aplicadas pelo Ibama e não cobradas, desmatamento na Amazônia e crise no Pantanal.
A artilharia contra Marina foi desferida no começo da sessão. Presidente da Comissão, o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) foi o primeiro a fazer perguntas à ministra. Ele disse que Marina “persegue o produtor rural”, faz “discursos bonitos para plateia internacional” e “falhou com o Brasil”.
Os ruralistas se preparam para ter as condições para pressionar Marina. Ela foi convocada pela primeira vez em 9 de abril. O requerimento previa abordar o desmatamento e os preparativos para a COP30, em Belém, em novembro.
Passada uma semana, os ruralistas perceberam que os assuntos eram muito restritos. Os parlamentares ficaram receosos de que Marina usasse a limitação de temas para não responder à maioria das perguntas.
Um novo requerimento de convocação foi elaborado. Apresentado pelo presidente da comissão desta vez, ele permitia perguntas sobre:
Manifestação indígena que entrou em confronto com a polícia do Congresso;
Desmatamento;
Queimadas;
Atuação do Ibama.
Firmeza nas respostas
Marina foi firme. Ela prestou atenção e anotou as perguntas que cobravam melhores indicadores do Ministério do Meio Ambiente sem demonstrar contrariedade ou irritação.
Acompanhou em silêncio os vários bate-bocas entre deputados de oposição e governistas. A ministra tentou apresentar números e gráficos e explicar posicionamentos de seu ministério.
Também houve alfinetadas à oposição. Ela pediu que pessoas que usam a internet para propagar fake news pesquisem dados ambientais. Também sugeriu que a direita é negacionista.
Marina defende sua gestão e o governo Lula. Ela declarou que os problemas enfrentados no Brasil são consequência da situação climática global: atmosfera seca e pouca chuva. Ela mostrou um gráfico para sustentar que outros países estão na mesma situação. “Não é uma realidade só do Brasil”, afirmou.
A ministra afirmou que houve um processo de retroalimentação. O fogo deixa o ar mais seco, o que facilita a vegetação a queimar. Ela também citou incêndios criminosos, combatidos pelo atual governo.