Polícia

Médico indiciado por participar de falsificação de cartões de vacina da família

O médico Farley Vinícius Alencar de Alcântara foi indiciado por participar de um esquema de fraude em dados de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pessoas próximas a ele. Farley foi indiciado por falsidade ideológica de documento público e tentativa de inserção de dados falsos em sistema de informações.

Tentou contato com o médico na manhã desta terça-feira, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.

O indiciamento foi revelado pelo blog da jornalista Daniela Lima, e os documentos seguem em sigilo. A investigação apontou que Farley teria usado dados de vacinação de uma enfermeira para fraudar cartão de vacina de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 16 pessoas (incluindo Farley) foram indiciadas na última segunda-feira (18) pela Polícia Federal

Farley é sobrinho do sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid, que foi preso em maio de 2023, durante a operação deflagrada pela Polícia Federal.

Em suas redes sociais, Farley contava que se formou pela faculdade de Medicina de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Segundo o prefeito de Cabeceiras, Farley havia trabalhado por credenciamento no município em 2018 e depois retornou como plantonista, clínico geral do hospital municipal da cidade. Em maio de 2023, a prefeitura afirmou que o médico prestou serviços ao município até o mês de dezembro de 2021.

Além do município de Cabeceiras, o médico também prestou serviços à prefeitura de Goiânia por um ano. A edição do dia 15 de agosto de 2018 do Diário Oficial do Município detalha que, no dia 1º deste mesmo mês, o médico havia iniciado um contrato de médico de urgência e emergência com o valor de R$ 84 mil. Segundo o documento, o contrato seria válido até agosto de 2019.

Na época, a prefeitura da capital informou que, após o vencimento do contrato, que constituído via credenciamento, foi encerrado o vínculo com a Secretaria Municipal de Saúde.

Em seu perfil do Instagram, Farley ainda informava que fez sua residência médica em oftalmologia no Hospital de Base, no Distrito Federal, e dizia ser especialista em catarata, a doença doença capaz de deixar a visão embaçada e ofuscada, “caracterizada pela opacidade lenta e gradativa do cristalino”.

De acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação deflagrada pela Polícia Federal (PF), para a prática da suposta fraude, Farley foi acionado por seu tio, Luís Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid, que também foi alvo da investigação da Polícia Federal. O médico foi acionado enquanto ainda prestava serviços para a prefeitura de Cabeceiras, em 2021.

Na ocasião, o médico teria conseguido um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do município de Cabeceiras, que estaria preenchido com duas doses de vacina contra a Covid-19, com o nome de Gabriela Cid.

Segundo apurado pela Polícia Federal durante a investigação, mensagens de WhatsApp mostram que os dados da vacina que constam nesse cartão com o nome de Gabriela, como data, lote, fabricante e aplicador, foram retirados por Farley de um cartão de vacinação de uma enfermeira que teria sido vacinada na cidade de Cabeceiras.

Ainda de acordo com a Polícia Federal, no dia 22 de novembro de 2021, às 19h11, foi feito o envio de um documento entre o tio de Farley, Luis Marcos dos Reis e Mauro Cid. A PF aponta que o arquivo consistia na digitalização de um “cartão de vacinação” do Sistema Único de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Governo de Goiás.

O cartão de vacinação, em nome de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, registra que a mulher teria recebido uma dose de vacina no dia 17 de agosto de 2021, do lote FF2591, e outra no dia 9 de novembro de 2021, do lote TG3529. Ambas as doses seriam produzidas pelo laboratório BioNtech. No campo de observações do cartão de vacina, é possível ver a assinatura e o carimbo de Farley.

Ainda de acordo com a polícia, além de entregar o cartão falso, retirado do comprovante de vacinação de uma enfermeira que teria sido imunizada em Cabeceiras, Farley também entregou outro cartão em branco. Isso, porque o grupo não teria conseguido cadastrar o cartão anterior no sistema do Rio de Janeiro.

“Tirei foto do cartão da enfermagem lá. Pq não deu certo?”, diz o médico em mensagem ao tio.

A suspeita, segundo a Polícia Federal, é que Mauro Cid, Gabriela Cid, Luis Marcos e Farley tenham “se unido” para a prática do crime de falsidade ideológica.

Não conseguiu localizar as defesas de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, Mauro Cesar Barbosa Cid e Luís Marcos dos Reis para um posicionamento até a última atualização desta reportagem.

Conforme mostrou o indiciamento significa, na prática, que a PF entendeu que há elementos suficientes de que um investigado é o responsável por um crime.

Com esses indícios concretos, a Polícia Federal envia o caso ao Ministério Público. Como o inquérito tramita no Supremo, o indiciamento vai às mãos da Procuradoria-Geral da República.

Cabe aos procuradores do MP avaliar o material colhido pela polícia e decidir se há indícios suficientes, ali, para levar o caso à Justiça. Se sim, o Ministério Público apresenta a denúncia.

Fonte: g1

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo