Economia

México vai exigir que Brasil faça rastreamento de cada boi que exportar ao país

Foto: Divulgação/Getty

O México decidiu exigir que produtores brasileiros de carne e autoridades nacionais terão de apresentar o rastreamento detalhado de cada boi ou peça de carne que entrarem naquele país, como forma de garantir maior controle sanitário dos alimentos adquiridos do Brasil.

A decisão, conforme informações obtidas pela reportagem, foi tomada na semana passada pelo governo mexicano e deve ter um impacto profundo nas parcerias que o México mantém com produtores nacionais. Atualmente, o México é o terceiro maior comprador de carne do Brasil, só atrás de China e Estados Unidos.

O Brasil, por meio de seus representantes do Mapa (Ministério da Agricultura), vinha discutindo com o México os termos da renovação da habilitação de frigoríficos brasileiros para exportação. Uma auditoria presencial no Brasil, inclusive, estava prevista para ocorrer em setembro. Com a nova exigência, porém, essa auditoria foi adiada.

A decisão foi comunicada ao governo brasileiro pela Senasica (Servicio Nacional de Sanidad, Inocuidad y Calidad Agroalimentaria). Para dar tempo às indústrias brasileiras de se adaptarem, o México prorrogou a validade das habilitações atuais até 15 de janeiro de 2026.

Pela decisão do governo mexicano, as regras de habilitação serão classificadas em três grupos. Frigoríficos já habilitados e que cumprem os novos requisitos poderão passar por auditoria para renovação. Frigoríficos não habilitados, mas que já atendem aos novos requisitos, poderão solicitar habilitação. Já os frigoríficos habilitados que não atenderem aos novos critérios perderão a habilitação.

Procurado pela reportagem, o Mapa não se manifestou sobre o assunto até a publicação deste texto.

A mudança no comércio de carne imposta pelo México segue o caminho dos padrões sanitários definidos pela União Europeia, mas que ainda não entraram em vigor. A regulação da União Europeia sobre desmatamento (EUDR) foi aprovada em meados de 2023 e estava prevista para entrar em vigor em dezembro de 2024.

Devido a pressões de diversos países, incluindo o Brasil e membros do Mercosul, a entrada em vigor foi adiada em um ano. Grandes empresas e traders têm prazo de adaptação até 30 de dezembro deste ano, enquanto micro e pequenas empresas poderão se adequar até 30 de junho de 2026.

A decisão foi tomada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da UE, acatando proposta da Comissão Europeia, com o objetivo de dar mais tempo para que empresas e autoridades se preparem melhor.

Além da questão sanitária, a regra europeia tem o objetivo de reduzir o desmatamento e a degradação florestal associados a matérias-primas agrícolas importadas para a região.

Terceiro maior comprador de carne do Brasil em todo o mundo, o México tem importado cerca de 11 mil toneladas de carne bovina por mês de produtores nacionais, segundo informações da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes). Esse volume supera tudo que é comprado pelos 27 países da União Europeia, que compraram 7,4 mil toneladas de carne bovina do Brasil em maio.

No mês passado, o México gastou US$ 62 milhões com carne bovina brasileira, um aumento de 9% sobre os US$ 57 milhões movimentados no mês anterior.

No fim de maio, o Brasil foi declarado livre de febre aftosa, sem vacinação, pela OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal). Com isso, a carne bovina brasileira poderá alcançar mercados até então fechados para o país.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina, atrás dos Estados Unidos, e líder nas exportações. No ano passado, foram colocados 2,9 milhões de toneladas no mercado externo, com receitas de US$ 12,9 bilhões, segundo a Abiec.

O governo brasileiro, por meio do Mapa, pretende pedir às autoridades chinesas o reconhecimento do Brasil como país livre de febre aftosa, sem vacinação. Atualmente, o governo chinês mantém algumas barreiras sanitárias regionais à carne bovina brasileira, o que impede a retomada plena das exportações nacionais. A situação é diferente da carne do frango, que, desde 16 de maio, teve as exportações suspensas em todo o país e assim permanece, até que o Brasil comprove que está livre da gripe aviária.

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