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Morre ex-presidente do Uruguai “Pepe Mujica”

Lula e Mujica em fusca azul, no Uruguai, ficou marcada na história Foto: Ricardo Stuckert/ Divulgação

“Presidente, ativista, referência e líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho”.

Foi assim que o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, anunciou ao mundo agora há pouco, numa rede social, a morte neste 13 de maio de 2025 do ex-presidente e ídolo histórico nacional José “Pepe” Mujica, vencido por um câncer no esôfago e no fígado, e duas doenças autoimunes, uma semana antes de completar 90 anos de idade.

O 40º presidente da República Oriental do Uruguai foi possivelmente o símbolo político mais conhecido do país vizinho em toda a América Latina. O ex-mandatário uruguaio é e será lembrado por sua vida simples, seu estilo campesino austero e, sobretudo, por seu carisma, que sempre transparecia em máximas concisas, mas profundas.

Nos últimos meses, já bastante debilitado, “El Pepe” refletia sobre a vida e a morte. Entrevistado pela CNN En Español, ao ser perguntado sobre a existência de Deus, afirmou que Deus não existia, pois “a vida é apenas a aventura das moléculas”. E completou: “Nesse punhado de tempo em que estamos sobre a superfície terrestre, estão o paraíso e o inferno. Está tudo junto aqui. Viemos do nada e vamos ao nada”.

Apesar da aparência niilista da citação, ela vai muito além de sua roupagem, especialmente se considerarmos que o ceticismo clerical é mais aceitável no Uruguai, o país mais laico da América Latina. No fundo, revela a essência de um homem que viveu tanto “o paraíso” quanto “o inferno” neste mundo.

Sua vida política longeva o levou a experiências diversas que ultrapassaram a política institucional: guerrilheiro, preso político, anistiado, deputado, senador, ministro no primeiro governo de um partido de esquerda na história do Uruguai, presidente da república e, posteriormente, senador novamente. Ainda assim, fica a pergunta: nessa grande “aventura das moléculas”, quem foi José Mujica? E qual será o seu legado?

Dentro do Uruguai, Mujica é lembrado por sua trajetória na guerrilha e na política institucional. “El Pepe” se aproximou da luta armada nos anos 1960, quando a guerrilha se articulava contra o regime político instaurado por Jorge Pacheco Areco (1967-1972). Embora Areco tenha chegado ao poder democraticamente — sucedendo Oscar Gestido, que faleceu nove meses após assumir a presidência —, seu governo adotou medidas cada vez mais repressivas para conter a crescente insatisfação popular, resultado do estancamento da economia uruguaia naquela década.

13 anos em cárcere

Nesse cenário, Mujica participou das operações do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaro, movimento armado de inspiração cubana, possivelmente o mais notório da região nos anos 1960 e início dos 1970. Foi preso quatro vezes. Na última, pouco antes do início da ditadura uruguaia (1973-1985), quando os Tupamaros já estavam derrotados, ficou encarcerado por treze anos, de 1972 a 1985. Esse período de sua vida foi retratado no filme “Uma noite de 12 anos”. Com a redemocratização e a presidência do colorado Julio María Sanguinetti, foi beneficiado pela política do “câmbio em paz”, que promulgou a lei de anistia.

Como presidente, Mujica deu continuidade aos esforços de seu predecessor para garantir crescimento econômico e redução da desigualdade. A política de aumento real do salário mínimo contribuiu para a queda do percentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, que passou de 32,5% em 2006 para 9,7% em 2015, assim como para a redução do índice de Gini, que caiu de 45,9 para 40,1 no mesmo período. Seu governo também promoveu reformas importantes em diversas áreas: aprovou a legalização do aborto até a 12ª semana de gestação, regulamentou o consumo recreativo de cannabis e legalizou o casamento homoafetivo.

Velório de Pepe Mujica começa nesta quarta-feira e será aberto ao público

O corpo de José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, será velado a partir desta quarta-feira (14), em Montevidéu. A cerimônia será aberta ao público e durará pelo menos 24 horas, segundo as autoridades.

A cerimônia de despedida de Mujica começará às 10h, com um cortejo que sairá do edifício da Presidência do Uruguai, passará pela sede do grupo político Movimento de Participação Popular e seguirá até o Palácio Legislativo.

Segundo a imprensa local, o velório será aberto ao público por volta das 15h desta quarta-feira. O jornal “El Observador” afirmou que o corpo do ex-presidente deve ser cremado na quinta-feira (15).

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