Número de mortes por enchentes no Texas passa de 100

Enxurrada repentina no Texas deixa mortos e destrói acampamento – Foto: Julio Cortez/AP

Mais de cem pessoas já morreram por conta das enchentes no Texas, nos Estados Unidos, segundo balanço de autoridades locais desta segunda-feira (7).

As inundações, que começaram de forma relâmpago na sexta-feira (4), já atingiram seis condados (regiões dentro de um estado) do Texas .

A origem das enchentes foram chuvas torrenciais que elevaram em 9 metros o nível do Rio Guadalupe em apenas duas horas, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS).

As autoridades do condado de Kerr, o mais afetado, anunciaram ter localizado sete novos corpos nesta segunda-feira. Apenas na região foram mais de 80 mortes, incluindo mais de 20 crianças.

Além disso, o acampamento de verão cristão Camp Mystic, exclusivo para garotas, afirmou que 27 meninas e as monitoras morreram depois que as enchentes destruíram completamente o local. 

Em todo o estado, ao menos 41 pessoas seguem desaparecidas, segundo o governador do Texas, Greg Abbott. Entre elas estão 10 meninas e uma monitora do acampamento.

A área mais atingida fica nos arredores do Rio Guadalupe. Autoridades locais informaram que o Camp Mystic foi totalmente destruído. Desde então, familiares das alunas e voluntários se juntaram às equipes de resgate para procurar desaparecidos.

As autoridades alertaram para o risco de novas enchentes nesta segunda-feira, com previsão de chuva até terça (8), de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA. As buscas continuam mesmo com a possibilidade de novas tempestades.

O governo do estado classificou o desastre como uma das piores inundações da história recente do Texas.

1. O que aconteceu no Texas?

Uma série de enchentes repentinas atingiu a região central do Texas entre a noite de quinta-feira (3) e a madrugada de sexta, durante o feriado de Independência dos EUA.

Chuvas torrenciais provocaram o transbordamento do Rio Guadalupe, um dos principais rios do estado. O volume das chuvas ultrapassou 250 mm em algumas áreas, mais do que o dobro do previsto.

A tragédia pegou moradores e turistas de surpresa em municípios do chamado Texas Hill Country, região montanhosa e turística a noroeste de San Antonio. A força das águas destruiu pontes, arrastou veículos e devastou áreas residenciais, além de acampamentos de verão.

Segundo autoridades locais, trata-se de uma das enchentes mais letais da história recente do estado. O presidente dos EUA, Donald Trump, declarou estado de desastre e autorizou o envio de ajuda federal.

2. Quantas pessoas estão desaparecidas ou morreram?

Até a última atualização desta reportagem, o número de mortos em todo o estado do Texas era de 91. O condado de Kerr, onde está localizada a cidade de Hunt e o Rio Guadalupe, concentra a maioria das vítimas: 75.

Além disso, outras 41 pessoas estão desaparecidas.

Mais de 850 pessoas foram resgatadas com vida desde o início das inundações, envolvendo um esforço conjunto de cerca de 1.700 profissionais.

Helicópteros da Guarda Costeira e veículos aquáticos têm sido usados em operações dramáticas, como o salvamento de uma vítima presa no topo de uma árvore com o rio correndo violentamente abaixo.

3. Onde fica a área inundada?

Jovens observam enchente no Texas, em 4 de julho de 2025 — Foto: Eric Vryn/Getty Images/AFP

As enchentes afetaram diversos condados da região central do Texas, com epicentro no condado de Kerr. O Rio Guadalupe, que corta a região, teve papel central na tragédia.

O rio passa por cidades como Hunt, Ingram e Kerrville – todas fortemente atingidas. A área faz parte do Texas Hill Country, uma zona de colinas e morros conhecida por sua beleza natural e por abrigar acampamentos de verão centenários.

Apesar de ser um destino turístico, o Texas Hill Country também é considerado um “corredor de enchentes” por especialistas. Quando chove, a água não penetra no solo rochoso da região, escorrendo rapidamente pelas encostas até os rios. O acúmulo repentino transforma córregos tranquilos em torrentes violentas.

O diretor de uma fundação comunitária local, Austin Dickson, explicou que esse padrão torna a região especialmente vulnerável a eventos como o da última semana.

4. O que houve no acampamento de verão?

Cão farejador com resgatista em busca por desaparecidos no acampamento de verão Camp Mystic em 5 de julho de 2025 – Foto: REUTERS/Sergio Flores

O Camp Mystic, fundado em 1926 e localizado às margens do Rio Guadalupe, foi um dos locais mais impactados pelas enchentes. Cerca de 750 crianças estavam no local no momento da tragédia.

O rio transbordou na madrugada de sexta-feira e atingiu primeiro as cabanas mais próximas da margem, onde dormiam as crianças mais novas. Algumas conseguiram fugir para áreas mais altas no escuro, sem calçados e sem orientação.

A adolescente Elinor Lester, de 13 anos, contou que acordou com o som da água batendo contra as paredes.

“As meninas menores correram morro acima, algumas sem sapatos, no escuro. Pela manhã, estávamos sem comida, luz ou água”, disse Lester.

O resgate só chegou horas depois, de helicóptero, com o uso de cordas para permitir a travessia sobre a correnteza. Pelo menos 27 meninas e monitoras morreram por conta das enchentes. Ainda há 10 meninas e uma monitora da colônia de férias desaparecidas.

A tragédia lembrou um episódio semelhante ocorrido em 1987, quando um ônibus com adolescentes de um acampamento foi arrastado pelo mesmo rio, matando dez meninas.

5. Vai chover mais?

Vista aérea feita por drone mostra casas alagadas após chuvas torrenciais que provocaram enchentes repentinas ao longo do rio Guadalupe, em San Angelo, Texas, EUA, em 4 de julho de 2025 – Foto: Reuters

Sim. Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos, há previsão de mais chuvas intensas até pelo menos a próxima terça-feira. No domingo, novos alertas foram emitidos para os mesmos condados afetados pelas enchentes.

Os meteorologistas alertam que qualquer precipitação adicional pode agravar ainda mais as inundações já existentes, dado o solo saturado e o nível elevado dos rios.

O meteorologista Jason Runyen afirmou ao New York Times que o cenário é de risco contínuo. Mesmo pequenas quantidades de chuva agora podem causar transbordamentos súbitos.

Além disso, o vice-governador Dan Patrick destacou que, embora o sistema de alertas tenha funcionado, muitos turistas não estavam inscritos para recebê-los.