Polícia

Os detalhes da delação de Élcio de Queiroz sobre o dia da morte de Marielle Franco

Colaboração premiada com PF e MP do RJ levou à operação que prendeu nesta segunda-feira o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel.

O ex-PM Élcio de Queiroz fez um acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Em sua colaboração, ele forneceu detalhes sobre como foi a dinâmica quer resultou no assassinato da vereadora Marielle Franco.

“Ele [Ronnie Lessa] já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço”, contou. “Aí caíram as cápsulas em mim e ele falou ‘vão bora’; eu nem vi se acertou quem, se não acertou”, disse Élcio em depoimento à PF.

Élcio encontra-se detido desde 2019, assim como o ex-policial Ronnie Lessa. Ambos serão submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri, mas a data ainda não foi estabelecida.

O documento que mostra o que disse Élcio à polícia sobre o que ocorreu no dia da morte de Marielle Franco. 

A vereadora Marielle Franco foi assassinada em 2018 – Foto: Reprodução

Veja abaixo os principais pontos do depoimento e que ajudam a compreender o assassinato de Marielle Franco:

No dia 14, Élcio fazia um trabalho tipo escolta quando recebeu mensagem de Ronnie Lessa através de um aplicativo chamado Confide, usado para troca de mensagens instantâneas criptografadas, pedindo para que dirigisse para ele. Élcio perguntou detalhes e recebeu uma foto em seu celular.

“Não dá pra ver a imagem total, conforme vai passando o dedo [na tela do celular], ela [a imagem] vai correndo; aí depois automaticamente ela se destrói”, disse. Como estava no trânsito, ele acrescentou que não conseguiu se atentar à foto.

Élcio combinou com Ronnie que o avisaria assim que terminasse o trabalho de escolta para que pudessem se encontrar. Por volta das 16h daquele dia, o ex-PM recebeu o pedido de Ronnie para buscá-lo em sua residência. Ao chegar lá, encontrou Ronnie segurando uma bolsa de viagem, que mais tarde ele descobriu que continha a arma utilizada no crime.

Da casa de Ronnie, os dois foram até um local, próximo a um condomínio, e trocaram de carro, passando a dirigir o Cobalt Prata utilizado no homicídio da vereadora.

“No caminho fui perguntando qual é a situação, aí ele falou que era a vereadora, falou o nome, mas eu não sabia quem era […] Mas aí eu falei o que é a situação? Ele falou que era pessoal; mas tem dinheiro nisso aí, o que é? Aí ele falou não, é pessoal. Aí fomos seguindo, ele foi me orientando”. 

Élcio relatou ainda que acredita que Ronnie tenha obtido o endereço de Marielle Franco por meio do Instagram, e a foto que ele recebeu no aplicativo possivelmente foi publicada na conta da vereadora ou da Casa das Pretas, que foi o último lugar onde Marielle esteve antes de ser assassinada.

Ao chegarem ao endereço, Élcio procurou um local para estacionar enquanto Ronnie começou a “se arrumar”. O ex-PM contou que Ronnie vestiu um casaco e retirou a metralhadora da bolsa, além do silenciador da arma.

Naquele instante, Élcio compreendeu que se tratava de uma execução. “No momento que Ronnie passa pra trás, se equipa, coloca uma arma, bota silencioso…a MP5 são três tipos de trava, já destravou, pá, pá, pá…todos os tipos de trava foram tirados; eu já sabia que era execução”.

Os dois permaneceram no carro analisando a movimentação, até que Marielle deixou o local. Nesse momento, Ronnie chegou a sugerir que a execução ocorresse ali mesmo, ao que Élcio protestou. “Aí eu falei: tá louco, fazer isso aqui no meio…olha as câmeras; ele disse não, a gente não vai fazer nenhuma loucura”.

Logo em seguida, surge no local o motorista Anderson Gomes, que também foi vítima do crime. Enquanto Élcio aguardava, Ronnie começou a estudar a rota de fuga. “Conforme a gente saísse dali, pra gente ver se teria algum obstáculo na frente, alguma operação da Polícia Militar, nesse sentido”.

Na sequência, Élcio relatou que, quando a assessora de Marielle, Fernanda Chaves, entrou no veículo, ele pensou que a execução do crime seria adiada – Fernanda foi a única sobrevivente do atentado. 

“Marielle fala alguma coisa com a pessoa; e eu achei que essa senhora estava se despedindo dela, que ela iria embora, mas não, só que essa pessoa entrou no carro…e quando entrou no carro, aí eu falei [para Ronnie]: e agora, e essa senhora? Achei que ia abortar a missão, mas ele falou pra ficar tranquilo que não ia pegar nela não, ele me tranquilizou; aí nisso ela entrou e o carro saiu”.

Conforme câmeras de segurança revelaram, o Cobalt seguiu o carro de Marielle por algumas ruas. Dentro do veículo, Ronnie já estava com uma touca ninja e de metralhadora na mão. Quando surgiu uma ‘oportunidade’, Ronnie pediu para Élcio emparelhar o carro.

“Ele já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço”, contou. “Aí caíram as cápsulas em mim e ele falou ‘vão bora’; eu nem vi se acertou quem, se não acertou”.

Após os disparos, Élcio detalhou o caminho que ele e Ronnie percorreram para escapar do local do crime até chegarem à residência da mãe de Ronnie Lessa, localizada no bairro Meier, Zona Norte do Rio.

“Ele falou pra ir pela 24 de maio…pega a 24 de maio…e eu falei pra ele que a 24 de maio é um funil, e tem várias operações da Polícia Militar, é corriqueiro ali; eu falei que era melhor ir pela Brasil, e ele disse ‘faz o teu caminho aí’; aí eu fui e peguei a Leopoldina”.

Posteriormente, eles utilizaram um táxi para ir para um bar na região da Barra da Tijuca. A polícia confirmou que o irmão de Lessa foi o responsável por solicitar o serviço na cooperativa de táxi, aproximadamente às 21h48, cerca de 18 minutos após o ocorrido do crime.

Na Barra da Tijuca, eles se encontraram com Maxwell com quem discutiram sobre o crime ao longo da madrugada. Nesse momento, o caso já havia sido noticiado pela imprensa. Eles permaneceram juntos, Maxwell, Ronnie Lessa e Élcio, bebendo e conversando até às 3h.

Desmanche do carro

Maxwell Simões Corrêa é acusado de envolvimento na morte da vereadora Marielle FrancoFoto: Reprodução/TV Globo

Conforme revelado na delação de Élcio, no dia seguinte ao crime, ele e Ronnie Lessa encontraram-se com Maxwell no bairro do Méier para se desfazer do veículo utilizado no crime.

Maxwell, então, alterou a placa do carro e o conduziu até Rocha Miranda, onde seria descartado por uma quarta pessoa identificada como Edmilson Barbosa dos Santos, conhecido como “Orelha”.

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