Morre Papa Francisco, aos 88 anos de idade

Foto: Divulgação/Vaticano
O papa Francisco, 88 anos de idade, morreu nesta segunda-feira (21). Ele passou semanas internado para tratar uma bronquite que causou dificuldades respiratórias, após ser diagnosticado com pneumonia bilateral.
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, diz comunicado oficial.
O argentino Jorge Mario Bergoglio foi primeiro sacerdote latino-americano a se tornar papa, sucedendo Bento XVI, que renunciou ao posto. Ele foi eleito o 266º pontífice em 13 de março de 2013, adotando o nome de Francisco, em referência a São Francisco de Assis, o santo italiano que se dedicou aos pobres e à natureza.
O pontífice nasceu em 17 de dezembro de 1936, no bairro de Flores, na capital Buenos Aires. Os pais dele, o contador Mário Bergoglio e a dona de casa Regina, eram italianos do Piemonte que migraram para a Argentina. O religioso chegou a se formar em química, mas aos 20 anos, em 1957, decidiu se tornar padre.
Ele ingressou no seminário de Villa Devoto e, em 1958, iniciou o noviciado na Companhia de Jesus, sendo ordenado sacerdote em 1969. Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar da capital argentina, arcebispo em 1998, e cardeal em 2001, pelo papa João Paulo II.
Francisco, que na juventude foi submetido a uma extração parcial de um pulmão, se deslocava desde 2022 com uma cadeira de rodas, ou com uma bengala nas poucas vezes que era visto de pé.
Nos últimos anos, ele enfrentou vários problemas de saúde, incluindo dores no joelho e no quadril, uma inflamação do cólon e dificuldades respiratórias.
Em junho de 2023, o pontífice foi hospitalizado por 10 dias no hospital Gemelli e passou por uma operação de hérnia abdominal, que exigiu anestesia geral.
Em dezembro do mesmo ano, também devido a uma bronquite, o pontífice desistiu de participar na COP28 de Dubai, a grande reunião de cúpula anual do clima, organizada pelas Nações Unidas.
E no fim de março de 2024, o pontífice cancelou na última hora sua participação na Via-Crúcis do Coliseu de Roma. Poucos dias depois, no entanto, conseguiu celebrar a missa da Páscoa.
Autobiografia
Em autobiografia lançada em janeiro desde ano, Francisco relembrou a infância na Argentina e a escolha como papa em 2013. “Lembro-me dos meus pecados e sinto vergonha. Sou um pecador”, afirmou o pontífice na obra.
O livro reúne por meio de anedotas as mensagens que representaram os pilares do pontificado de Francisco: a busca pela paz, o acolhimento de imigrantes e a defesa do meio ambiente.
Aparição pública no domingo de Páscoa

Foto: Divulgação/Vaticano
O papa Francisco fez uma breve aparição pública na Praça de São Pedro, neste Domingo de Páscoa (20), para abençoar os fiéis. Ele acenou para as milhares de pessoas que estavam presentes e durante a mensagem de Páscoa fez um apelo aos responsáveis políticos “para que não cedam à lógica do medo, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento.”
“Cristo ressuscitou! Neste anúncio encerra-se todo o sentido da nossa existência, que não foi feita para a morte, mas para a vida. A Páscoa é a festa da vida! Deus criou-nos para a vida e quer que a humanidade ressurja! Aos seus olhos, todas as vidas são preciosas! Tanto a da criança no ventre da mãe, como a do idoso ou a do doente, considerados como pessoas a descartar num número cada vez maior de países”, discursou o santo padre.
Francisco estava acompanhado pelo cardeal-protodiácono, Dominique Mamberti, e pelo presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e do Governo da Cidade do Vaticano, cardeal Fernando Vérgez Alzaga.
Ainda durante o discurso, o pontífice estendeu os votos à paz, para que as pessoas voltem a ter esperança e confiança umas nas outras.
“Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento”, acrescentou o papa.
Saúde do papa Francisco
O papa Francisco, que se recupera de uma longa internação de 38 dias causada por uma pneumonia que afetou os seus dois pulmões, apareceu em público, nesse Sábado de Aleluia (19/4), na basílica de São Pedro, no Vaticano.
Ele estava em uma cadeira de rodas e cumprimentou fieis que estavam no local, e fez suas orações.
Depois de passar cerca de um mês internado, o papa foi orientado a reduzir aparições públicas e não havia sido confirmado nas celebrações oficiais da Páscoa da Santa Sé.
Por recomendação médica, o papa deve cumprir dois meses de repouso, sem atividades públicas nem contato direto com pessoas, para evitar recaídas na condição da saúde, mesmo assim, o papa tem estado presente em alguns encontros.
Na Sexta-Feira Santa, o pontífice divulgou uma mensagem com reflexões para a data. Ele não participou da tradicional Via-Sacra no Coliseu, e a cerimônia foi presidida pelo vigário-geral da Diocese de Roma, o cardeal Baldo Reina.
Francisco, ‘um grande reformador’
Aos 80 anos, com dores no quadril que, por vezes, o faziam perder o equilíbrio, ele não falava de renúncia, como seu predecessor Bento XVI teve a audácia de fazer.
“Estou indo em frente”, disse ele na ocasião, contrariando declarações mais melancólicas feitas antes disso, em março de 2015: “Tenho a sensação de que meu pontificado será breve, quatro ou cinco anos”.
Francisco parecia impulsionado por uma missão urgente: incentivar uma Igreja desertada em alguns países a acompanhar com misericórdia os católicos em situações irregulares.
“Podemos falar de uma revolução, nos passos do Concílio Vaticano II” (1962-1965), que abriu a Igreja ao mundo moderno, disse à AFP o especialista em Vaticano Marco Politi, em 2016.
Politi classifica Francisco como “um grande reformador” que tentou fazer “com que a Igreja abandonasse a sua obsessão histórica em tabus sexuais”.
Ele foi o primeiro papa a ter convidado um transexual ao Vaticano e se recusou a julgar os homossexuais. Para Francisco, a Igreja era um “hospital de campanha, não um posto alfandegário”, que separa os bons e maus cristãos, disse Politi.
O argentino foi eleito, entre outros, para continuar a reestruturação econômica da Santa Sé iniciada sob Bento XVI com, por exemplo, o fechamento de contas suspeitas no banco do Vaticano, por muito tempo acusado de lavagem de dinheiro.
“Em termos de doutrina, ela [papa Francisco] não mudou nada. Neste sentido, nunca fez parte dos progressistas”, afirmou Politi. Segundo o especialista, o papa não tinha a intenção de ordenar padres casados ou mulheres, e se mostrou horrorizado com o aborto. Ele gostaria que seu trabalho reformista tivesse “uma continuidade”.
O papa tinha um forte consenso entre os fiéis e, também, entre alguns agnósticos e não-crentes. Mas ele não agradava aos ultraconservadores, que tentavam desacreditá-lo.