PF apreende R$ 863 mil em endereço de líderes religiosos ligados a prefeito de Sorocaba

Dinheiro apreendido na casa de pastor durante operação que mira prefeito de Sorocaba – Foto: Divulgação
A Polícia Federal apreendeu R$ 863 mil em caixas de papelão que estavam em endereços de líderes religiosos ligados ao prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos). A ação ocorreu nesta quinta-feira (10) durante os cumprimentos de mandados da Operação Copia e Cola, deflagrada em 12 cidades de São Paulo e da Bahia.
Conforme apurado pela TV TEM, o valor de R$ 863.854,00 estava em um veículo relacionado a um líder religioso e de pessoas identificadas como parte do núcleo criminoso que realizava movimentações financeiras e pagamentos de contas de outros integrantes.
A apreensão foi feita em São Paulo, em um endereço ligado a Josivaldo Souza, que se apresenta como bispo de uma igreja, e a Simone Rodrigues Frate de Souza, cunhada de Rodrigo Manga, e irmã de Sirlange Frate Manganhato, primeira-dama de Sorocaba.
Já o dinheiro vivo localizado nos endereços dos alvos em Sorocaba ainda não houve contagem. Esses valores aparecem, por exemplo, em um cofre.
Conforme a Polícia Federal, não houve presos e nem condução coercitiva (por imposição). Algumas pessoas foram intimadas para serem ouvidas, mas não são os alvos da investigação. São testemunhas ou pessoas de interesse dos trabalhos da PF.
A operação tinha como objetivo desarticular uma organização suspeita de desvios de recursos públicos na área da saúde por meio de uma Organização Social (OS). Entre os alvos, está o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, e a OS Aceni, que fez a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Éden e, atualmente, faz a gestão da Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Oeste. O presidente da Aceni também foi alvo da operação. Policiais cumpriram mandados em Socorro (SP).
O Instituto informou que aguarda acesso aos autos para que possa tomar conhecimento integral da operação e disse que todos os questionamentos feitos na investigação serão esclarecidos assim que se obter acesso aos autos. Já Manga diz que a ação da Polícia Federal faz parte de perseguição política.
Foram expedidos 28 mandados de busca e apreensão em 13 cidades do estado de São Paulo e da Bahia (veja abaixo).
As equipes da Operação Copia e Cola estiveram na sede da Prefeitura Municipal de Sorocaba (SP), na casa e no gabinete do prefeito, na Secretaria de Saúde da cidade, no Diretório Municipal do partido e na casa do ex-secretário da saúde, Vinicius Rodrigues.
Eleito em 2020 para comandar a prefeitura depois de dois mandatos de vereador, Rodrigo Manga era vendedor de veículos em uma rede de lojas de Sorocaba. Ele começou a ficar popular ao aparecer em vídeos anunciando os veículos.
Com formação em marketing, ele ficou famoso e ganhou milhões de seguidores nas redes sociais ao investir em publicações sobre seu mandato e a cidade de Sorocaba com vídeos curtos e chamativos para a internet. Há posts com desinformação e que são questionados pelo Ministério Público. A popularidade de Manga cresceu e ele vinha recebendo vários convites para participar de programas de rádio e TV pelo país.
R$ 20 milhões bloqueados
Além do suposto envolvimento do ex-secretário Vinicius Rodrigues, está sendo investigada a participação do ex-secretário de Governo e Administração Fausto Bossolo, que deixou o governo em 2022.
Bossolo foi condenado na ação que investigou o superfaturamento de mais de R$ 10 milhões na compra do prédio particular que seria usado como sede da Secretaria de Educação (Seduc), no bairro Campolim, em Sorocaba.
O envolvimento do empresário Marco Silva Mott, amigo do prefeito, também é investigado pela polícia. Conforme apurado pela TV TEM, ele é suspeito de ser lobista e de lavar dinheiro em diversos contratos da prefeitura. Na casa dele, foram apreendidos três carros nesta quinta-feira (10).
Mott também é investigado na área cível no caso da compra superfaturada do prédio da Seduc.
Foi determinado ainda, pela Justiça, o sequestro de bens e valores que totalizam R$ 20 milhões e a proibição da Organização Social (OS) investigada de ser contratada pelo poder público.
Em vídeo postado no Instagram após a operação, o prefeito disse não ter medo de nenhuma autoridade incomodada com sua ascensão e debochou da ação policial.
“Mandaram a Polícia Federal aqui em casa por causa da denúncia. E acharam algumas coisas aqui em casa: bolo de cenoura, Nutella, e o Pokémon quo meu filho tanto ama.”
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, após a operação da Polícia Federal, Manga comentou as acusações e os valores repassados para a organização social. Ele argumentou apenas que a investigação precisa acontecer que os serviços são fiscalizados.
Manga também disse que não sabe se ele é investigado na operação ou indiciado, e que a polícia levou apenas a cópia da chave do carro dele que estava no gabinete.
O prefeito também comentou sobre os objetos apreendidos. “Nenhuma daquelas imagens, nem dinheiro, nem Porsche, nem metralhadora, são da minha casa”, argumentou.
Rodrigo Manga se disse perseguido em função da sua ascensão nos últimos meses. Entretanto, ele comentou que a operação é legítima, mas que parte das forças policiais e da Justiça é eleitoreira, e que foi um ato político pontual. Também lembrou que a investigação é de 2022 e que, à época, foi aberto um procedimento para investigar o caso. Ainda conforme o prefeito, não há uma conclusão sobre os trabalhos.
O prefeito de Sorocaba também foi questionado sobre outros escândalos que ocorrem no seu governo, incluindo a compra de um prédio, com superfaturamento de R$ 10 milhões, já com sentença da Justiça, na qual dois secretários da gestão 2021/2024 foram condenados a prisão, e da compra de kits de robótica, no valor de R$ 26 milhões, em que, a pedido do MP, a Justiça bloqueou as contas de Rodrigo Manga.
Sobre isso, disse que os processos estão caindo e que o Tribunal de Contas julgou suas contas regulares. “Aquilo que está no poder público está sujeito a isso. Tá sujeito à exposição, tá sujeito a denúncias, e nós temos que superar isso.”
A Prefeitura de Sorocaba informou colaborar com as autoridades para a investigação e apontou ver “forças ocultas” que, segundo a nota, “se levantarem contra representantes que se projetam como uma alternativa ao sistema e dão voz ao povo” (veja a íntegra da nota ao final da reportagem).
O ex-secretário da saúde, Vinicius Rodrigues, declarou que não foi responsável por nenhuma das contratualizações entre a organização investigativa e a Prefeitura de Sorocaba e que, durante a sua gestão, a lei municipal determinava que qualquer contratação acima de R$ 1 milhão de reais fosse realizada diretamente pelo prefeito que administrava a cidade.
A TV TEM também entrou em contato com Fausto Bossolo e Marco Silva Mott, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Os investigados poderão responder pelos seguintes crimes:
- corrupção passiva;
- corrupção ativa;
- ocultação de capitais (lavagem de dinheiro);
- peculato
- contratação direta ilegal;
- frustração de licitação.
Mais de 100 policiais federais cumprem mandados de busca e apreensão nos seguintes municípios:
- Sorocaba (SP);
- Araçoiaba da Serra (SP);
- Votorantim (SP);
- Itu (SP);
- São Bernardo do Campo (SP);
- São Paulo,
- Santo André (SP);
- São Caetano do Sul (SP);
- Santos (SP);
- Socorro (SP);
- Santa Cruz do Rio Pardo (SP);
- Osasco (SP);
- Vitória da Conquista (BA).
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Policiais federais deixaram o Paço Municipal de Sorocaba (SP) por volta das 10h40 desta quinta-feira (10), levando documentos apreendidos – Foto: Letícia Paris/TV TEM
Investigação começou em 2022
Conforme a PF, a investigação teve início no ano de 2022, após suspeitas de fraudes na contratação da Organização Social (OS), Instituto de Atenção à Saúde e Educação (Aceni), para administrar, operacionalizar e executar ações e serviços de saúde em Sorocaba.
A OS fez a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Éden e, atualmente, faz a gestão da Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Oeste.
A Polícia Federal também investiga a suspeita de lavagem de dinheiro, por meio de depósitos em dinheiro, pagamento de boletos e negociações imobiliárias.
O que dizem os citados
“A investigação da Polícia Federal envolvendo uma OS (Organização Social) acontece em 13 cidades, tais como São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, entre outras, sendo Sorocaba uma delas. Nesse sentido, está havendo plena colaboração com as autoridades, para que todos os fatos sejam devidamente esclarecidos, o mais brevemente possível.
Vale destacar que a operação acontece em um momento de grande projeção da cidade e do nome do prefeito Rodrigo Manga no cenário nacional, inclusive pontuando com destaque em pesquisas para governador do Estado de São Paulo e presidente do Brasil. Não é a primeira vez na história que vemos “forças ocultas” se levantarem contra representantes que se projetam como uma alternativa ao sistema e dão voz ao povo.
Recentemente, por exemplo, Rodrigo Manga entrou em embates contra o aumento de impostos de alimentos básicos, combustíveis e remédios, bem como a criação de novos pedágios”.
A defesa de Marco Mott afirmou que prefere não se manifestar sobre a investigação, por enquanto. Fausto Bossolo não respondeu aos pedidos de posicionamento da reportagem. A Aceni também não se manifestou até a publicação da reportagem, assim como Josivaldo e Simone.
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Prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos) — Foto: Mike Adas/TV TEM
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Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Sorocaba (SP) e na casa do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos) — Foto: Polícia Federal/Divulgação
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Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Sorocaba (SP) e na casa do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos) — Foto: Letícia Paris/TV TEM
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PF apreende armas durante operação em cidades de São Paulo — Foto: Polícia Federal/Divulgação
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PF apreende carros de luxo durante operação em cidades de SP – Foto: Polícia Federal/Divulgação
fonte: g1