PF prende delegado e três policiais suspeitos de envolvimento na execução de Vinícius Gritzbach e de trabalharem para o PCC
Dinheiro e armas apreendidos durante operação da PF e do MP-SP contra policiais ligados ao PCC – Foto: Reprodução/TV Globo
Operação “Tacitus” da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo prendeu nesta terça-feira (17) um delegado e três policiais civis. 130 agentes cumpriram mandados de prisão e de busca e apreensão em 13 endereços ligados a policiais civis de São Paulo. Casas de luxo em Bragança Paulista e Igaratá, no interior, e em Ubatuba, no litoral.
O nome Tacitus foi escolhido pela PF por significar, em latim, “silencioso” ou “não dito”, em referência ao modo de atuar da organização criminosa.
A polícia apreendeu R$ 620 mil em espécie, dólares, euros, joias, pedras preciosas, uma lancha, motos aquáticas, carros, armas e munição. A operação, batizada de Tacitus, foi feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de São Paulo.
Os alvos, que incluem policiais civis, praticavam vários crimes, entre eles lavagem de dinheiro e a venda de proteção para integrantes da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Entre os presos estão o delegado Fábio Baena e o chefe de investigadores, Eduardo Monteiro. Os dois são citados no acordo de colaboração premiada de Vinícius Gritzbach com o Ministério Público.
Vinícius chegou a ser preso pelo assassinato de um integrante do PCC. Na delegação, citou nomes de pessoas ligadas à organização criminosa e fez acusações de corrupção contra policiais que estariam extorquindo dinheiro dele.
O Fantástico exibiu parte dessa delação.
- Vinícius Gritzbach: O Eduardo e o Baena pediram uma quantia de R$30, R$40 a milhões, que eu tinha um pen drive, que eu não tinha esse pen drive.
- Promotor de Justiça: Esse Eduardo, nome, por favor.
- Vinícius Gritzbach: Eduardo Monteiro.
- Advogado de Vinícius Gritzbach: Chefe dos investigadores do Baena.
- Promotor de Justiça: Em relação a esse pedido, foi um pedido feito de propina pelo próprio doutor Fábio Baena, presencialmente?
- Vinícius Gritzbach: E o Eduardo Monteiro. Presencialmente, no Mercadão.
Vinícius disse, ainda, que os policiais roubaram quatro relógios de luxo e tomaram um sítio dele.
- Promotor de Justiça: O senhor sabe se a Polícia Civil, nessa investigação do DHPP, ficou com algum patrimônio do senhor?
- Vinícius Gritzbach: Sim, ficou com o sítio e alguns relógios.
Vinícius afirmou que o investigador Rogério de Almeida Felício ostentava um desses relógios em fotos na internet. Rogério está foragido.
Sete meses depois da delação, Vinicius foi executado com dez tiros de fuzil. O crime foi no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, uma área controlada pela União, o que motivou a entrada da Polícia Federal na investigação.
Foi a partir desse ponto, que a PF descobriu indícios de que policiais civis recebiam dinheiro para que investigações contra integrantes do PCC não fossem adiante.
Na operação desta terça-feira (17), os agentes federais também prenderam os policiais civis Marcelo Ruggeri e Marcelo Marques de Souza, e três suspeitos de integrar o PCC: Robinson Granger de Moura, Ademir Pereira Andrade e o advogado Ahmed Hassan.
A Segurança Pública de São Paulo declarou que a corregedoria da Polícia Civil apura os desdobramentos da operação, que não compactua com desvio de conduta e que adotará medidas se for comprovada qualquer irregularidade.
Conforme o Ministério Público, “os investigados, de acordo com suas condutas, vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão”.
Joias apreendidas na operação da PF e MP que prendeu policiais de São Paulo suspeitos de atuar para o PCC – Foto: Reprodução
A defesa de Fábio Baena e Eduardo Monteiro disse que a prisão é uma arbitrariedade flagrante; que os fatos já foram investigados e arquivados pela Justiça, por recomendação do próprio Ministério Público; e que eles nunca atrapalharam as investigações.
O advogado de Marcelo Ruggieri disse que não teve acesso aos autos, mas considera prematura a prisão.
A defesa de Rogerio de Almeida Felício disse que ele é inocente e que vai tomar as medidas legais cabíveis.
O advogado de Robinson Grânger disse que ele é uma pessoa de conduta ilibada e que prestou todos os esclarecimentos à Justiça.