Carla Zambelli é suspeita de contratar hacker para invadir site do CNJ e emitir mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes
A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (2) o hacker Walter Delgatti Netto e cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços da deputada Carla Zambelli (PL). A operação investiga a invasão de sistemas da Justiça (CNJ) e emitir mandado de prisão em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal -STF, Alexandre de Moraes.
A Polícia Federal foi nos apartamentos de Carla Zambelli em Brasília e em São Paulo e também no gabinete dela na Câmara dos Deputados. O ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a operação, comunicou com antecedência o presidente da Câmara, Arthur Lira. Um assessor e um ex-assessor da deputada também foram alvos dos mandados de busca.
Zambelli é investigada por supostamente contratar o hacker Walter Delgatti Netto para inserir, em janeiro de 2023, informações falsas nos sistemas do CNJ – Conselho Nacional de Justiça, que abriga o Banco Nacional de Mandados de Prisão.
Delgatti foi preso preventivamente nesta quarta-feira (2) em Araraquara, São Paulo. Ele já havia sido preso em 2019, quando invadiu o celular de autoridades que atuavam na Operação Lava Jato. De acordo com a investigação, em setembro de 2022, a deputada Zambelli pediu que Delgatti invadisse as urnas eletrônicas ou qualquer sistema da Justiça para demonstrar a fragilidade do sistema judiciário.
Em depoimento em junho à Polícia Federal, o hacker disse que não conseguiu invadir o sistema do TSE mesmo após diversas tentativas; que Zambelli pediu a ele, então, que conseguisse obter conversas comprometedoras do ministro Alexandre de Moraes, invadindo seu aparelho telefone celular e seu e-mail. O hacker disse que também não acessou o celular do ministro e que, depois disso, invadiu o sistema do Conselho Nacional de Justiça; que disse à deputada Carla Zambelli que conseguiria emitir um mandado de prisão em desfavor do próprio ministro Alexandre de Moraes, como se fosse ele mesmo emitindo. Segundo ele, a deputada “ficou empolgada”, fez o texto e enviou para ele publicar.
O falso mandado de prisão, um documento absurdo em que o próprio ministro pedia prisão de si mesmo, o que é impossível, chegou a ser incluído no Banco Nacional de Mandados do CNJ. O próprio CNJ tirou do ar algumas horas depois e avisou à polícia, que abriu investigação.
O hacker afirmou que recebeu pagamentos para ficar à disposição da parlamentar. A Polícia Federal identificou pagamentos para Delgatti de ao menos R$ 13,5 mil antes e depois da invasão do sistema do CNJ. Os depósitos foram feitos por pessoas ligadas à deputada Carla Zambelli.
Um deles, Renan Goulart, foi secretário parlamentar da deputada no mandato passado. Ele fez três repasses por PIX ao hacker, que somam R$ 10,5 mil. Atualmente, Renan é assessor do irmão de Carla Zambelli, o deputado estadual Bruno Zambelli, também do PL de São Paulo.
O outro pagamento identificado pela PF foi feito por Jean Guimarães Vilela, nomeado este ano para o gabinete da deputada. Ele repassou R$ 3 mil, também via PIX. Jean foi ouvido pela Polícia Federal nesta quarta-feira (2).
Em outro trecho do depoimento, Delgatti disse que conversou com o então presidente Jair Bolsonaro sobre invasão ao sistema da urna eletrônica. Ele afirmou que encontrou o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica, mas disse que isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do tribunal, e o declarante não poderia ir até lá. Ele afirmou ainda que o ex-presidente não teve qualquer relação com a invasão ao sistema do CNJ. Bolsonaro não é investigado nesse caso.
Para aprofundar a investigação, o ministro Alexandre de Moraes determinou a quebra do sigilo bancário, a apreensão dos celulares, passaportes e armas dos envolvidos, inclusive da deputada. Carla Zambelli deve prestar depoimento segunda (7). No fim do inquérito, os investigados podem responder por invasão de dispositivo de informática e falsidade ideológica.
Após a ação da Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira, 2, contra Carla Zambelli, membros do PL avaliam que a deputada federal corre o risco de ter o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O partido não acredita, no entanto, que a parlamentar possa ser presa, ao contrário do que ocorreu com o hacker Walter Delgatti. As informações são do Metrópoles.
De acordo com o portal, líderes da sigla analisam que o mandato de Zambelli pode ser cassado no TSE por três razões. Eles mencionam o “conjunto da obra”, fazendo referência ao histórico de atritos da deputada com o Judiciário, o incidente envolvendo a arma, e uma possível predisposição desfavorável das Cortes de Brasília em relação a parlamentares associados a Bolsonaro.
O partido, no entanto, não considera provável que Zambelli seja detida nos próximos dias ou meses. Correligionários avaliam que, após ser flagrada apontando uma arma para um homem na véspera do segundo turno das Eleições 2022, a deputada adotou uma postura discreta com seus colegas na Câmara, o que poderia levar o parlamento a impedir qualquer eventual determinação de prisão de Zambelli pelo STF.
Nesta quarta-feira, 2, o relator João Leão (PP-BA) leu durante reunião deliberativa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o voto que admitiu a representação do deputado Duarte Júnior (PSB-MA) contra a deputada. O motivo foi uma ofensa cometida por Zambelli contra o deputado em um audiência da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada em 11 de abril de 2023.
Zambelli mandou o deputado Duarte “tomar no cu” em uma sessão que contava com a presença do ministro da Justiça, Flávio Dino, para dar explicações sobre visitar feitas à comunidade do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. O deputado Leão, em uma tentativa apaziguadora, ainda questionou a deputada se ela estaria disposta a fazer um pedido de desculpas formal ao deputado Duarte no Plenário da Câmara.
Prontamente, Zambelli aceitou a proposta, mas o deputado Duarte pediu a palavra e disse que não retiraria a representação no Conselho de Ética contra a bolsonarista. Duarte alegou que Zambelli mentiu ao dar a versão do que ocorreu no dia 11 de abril, pois ela o teria ofendido diretamente em vez de tentar se defender, conforme se justificou na sessão. Zambelli afirma que foi “achincalhada” ao ser chamada de pistoleira, prostituta e espanhola, em alusão ao boato de que foi garota de programa na Espanha, durante a audiência e em certo ponto perdeu a linha.
“Não quero lhe crucificar. Eu sei que esses dias agora a senhora vai ser crucificada de tudo quanto é maneira, mas vamos nos ater apenas à questão do deputado Duarte Júnior. Tendo em vista o teor dos fundamentos alinhavados, voto pela admissibilidade da representação número 1 de 2023 com a consequente continuidade deste processo, notificando desde já a representada para apresentação da defesa no prazo regimental”, determinou o relator.