Policiais civis de SP usavam “olheiro” para extorquir MCs famosos e influencers

Material apreendido na fase anterior da Operação Latus Actio II, em dezembro – Foto: Divulgação/PF
Operação da Polícia Federal e do Ministério Público Estadual, com apoio da Corregedoria da Polícia Civil, prendeu nesta sexta-feira (25) quatro policiais civis de Santo André, na Grande SP, suspeitos de cobrar propina para deixar de investigar funkeiros que promoveriam rifas ilegais pelas redes sociais.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), o grupo contava com a ajuda de uma espécie de olheiro que identificava por meio das redes sociais as oportunidades de achaque. Os alvos principais eram MCs que divulgavam rifas ilegais.
Nessa sexta-feira (25), quatro policiais civis do 6º de Santo André foram presos em uma operação da Polícia Federal (PF) em pareceria com o MPSP, batizada de Lactus Atio III.
A operação é um desdobramento de um inquérito aberto em 2021 pela PF para apurar a relação de donos de produtoras de funk com integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Na primeira fase da operação, a Lactus Atio I, realizada no ano passado, foram apreendidos celulares cujas informações revelaram como os policiais extorquiam suas vítimas e deram origem à nova fase.
De acordo com a representação do MPSP que deu origem aos mandados cumpridos nessa sexta, a quadrilha era liderada pelo chefe dos investigadores do 6º DP de Santo André, Fábio Marcelo Fava. Ele seria o responsável por autorizar a instalação dos procedimentos investigatórios preliminares que serviam de base para as extorsões.
Questionado por superiores hierárquicos, ele também teria acobertado os outros integrantes da quadrilha, dissimulando a prática das extorsões.
Os outros policiais presos foram Rodrigo Barros de Camargo, Adriano Fernandes Bezerra e Magally Ivone Rodrigues, todos investigadores do distrito policial.
Segundo os promotores, Rodrigo contava com o apoio de Eronias Rodrigues Barbosa, que seria encarregado de fazer levantamentos nas redes sociais sobre perfis que divulgavam rifas falsas e que poderiam ser alvos das extorsões.
Também integrariam a quadrilha os policiais civis Wilson Roberto Ribeiro e Múcio de Assis Ladeira. O envolvimento de pelo menos mais dois agentes também é apurado.
Entre os alvos do grupo, estão Silas Rodrigues Santos, conhecido como MC Brisola; Davi José Xavier Paiva, o MC Paiva; e Gustavo Henrique Ramos Toledo, o MC GHdo7. Juntos, eles possuem mais de 4 milhões de seguidores no Instagram.
Conversas
Na representação, o MPSP cita trechos de conversas em que os policiais combinavam as extorsões:
“Podíamos fazer o rei da roleta tb, mas perdi a qualificação [dele]. Vou continuar tentando, Pq lembro que era leste”, escreve Magally em 31 de julho do ano passado. Rodrigo responde que é preciso “ir adiantando a intimação”, e informa que possui uma pasta no seu computador chamada: “MC Modelo” e que lá teria o endereço.
Em um outro trecho, de 1º de agosto daquele ano, Rodrigo, segundo os promotores, defende a ideia de se reunir com advogados de MCs para supostamente negociar propinas.
“Acho que temos que fazer nossa parte por fora e aparar qualquer tipo de rebarba. Independente dele, Alinhamento 100% com todos os advogados”, afirma o investigador.
Para o MPSP, “trata-se de um forte indício de que Rodrigo procurava, em conluio com Adriano e Magally, solicitar/ negociar as ‘propinas’ diretamente com os advogados dos MCs/ influenciadores que promoviam sorteios ilegais por meio de suas redes sociais”.
Propina
Segundo a investigação, o pagamento da propina aos policiais acontecia por meio de quantias em espécie e de depósitos via Pix. Para a realização das transferências, a quadrilha teria utilizado uma conta bancária da companheira de Magally, Maria Carolina Soares. Posteriormente, os valores eram divididos.
O Ministério Público afirma que os policiais civis chegaram a cobrar R$ 200 mil do MC Brisola para arquivar uma investigação, que entrou em um acordo para pagar uma propina de 10% do valor (R$ 20 mil). O acordo teria sido intermediado por Fernando.
Em um dos prints de conversa, Magally pergunta como seria feita a divisão do dinheiro: “Depois me digam como a Carol fará a divisão”. Rodrigo responde: “Só nós três Maga”.