Economia

Porque a economia da China está parando?

O altíssimo nível de poupança das famílias chinesas só agrava o problema de tentar sustentar o crescimento com base no consumo.

O modelo chinês de crescimento seguiu a estratégia de sucesso do Japão do pós-guerra, da Coreia do Sul e de Taiwan dos anos 70 e 80, e da Malásia, da Indonésia e da Tailândia nos 90: exportações de manufaturas para a economia mundial. Transferência de trabalhadores do campo para o setor industrial com ampla ajuda e interferência do governo. Uma industrialização forçada, com tarifas, subsídios, proibições e distorções que direcionavam a indústria para produzir para o mercado mundial.

Foi um modelo de estrondoso sucesso no sentido de criar complexidade tecnológica, capacidades locais de produção, aumentos de produtividade e crescimento sustentado de renda “per capita”. A China passou para o grupo de economias sofisticadas do mundo em termos tecnológicos e se tornou a segunda maior economia do planeta. Esse modelo de crescimento começou, entretanto, a se esgotar em 2008 com a grande crise americana. A partir daí, Pequim seguiu uma nova estratégia: estímulos monetários e creditícios.

Desde então, o crédito por lá explodiu, e um sistema paralelo privado financeiro surgiu. Muitos excessos foram cometidos, e os desequilíbrios atuais são fartos. Sabemos que o milagre japonês morreu no crash de 1990, e os milagres de Coreia, Malásia, Indonésia e Tailândia acabaram na crise de 1997.

A China tem conseguido prolongar seu processo de crescimento apesar das dificuldades da pandemia, da inflação mundial e da alavancagem de seu mercado imobiliário. Os últimos dados de crescimento mostram que ainda é o investimento agregado que puxa a demanda chinesa. As exportações têm contribuição mais fraca na margem, e o consumo cresce a taxas bem menores. O modelo de crescimento da China depende ainda do mercado mundial e de estímulos do governo para investimentos na área de infraestrutura.

Quando esse surto de investimento passar, a China finalmente se tornará um país “normal” com taxas de crescimento mais civilizadas na casa dos 4%ou 5% talvez. O que é uma economia normal? É aquela que consome entre 60% e 70% do PIB e investe 30% ou menos.

O caso chinês é um extremo produzido por crédito direcionado e fortíssima intervenção estatal no sentido de criar infraestrutura (portos, rodovias, ferrovias e aeroportos), capacidade de produção industrial e construções residenciais e comerciais. Representando menos de 50% do PIB, o consumidor chinês ainda não é capaz de manter a economia crescendo a 7% ao ano. Se o setor de construção civil parar e o governo interromper os investimentos em infraestrutura, o crescimento chinês cairá rapidamente abaixo dos 4%.

O altíssimo nível de poupança das famílias chinesas só agrava o problema de tentar sustentar o crescimento com base no consumo. Claro que o governo chinês poderá continuar com sua estratégia de ondas de estímulos. Mas o modelo de crescimento chinês já não será capaz de gerar taxas tão elevadas como no passado. Hoje com uma economia de US$ 15 trilhões, não será fácil colocar o montante de estímulos necessários para crescer a taxas elevadas.

Os lockdowns ainda ligados a casos de Covid-19, a seca dramática de 2022 e a superalavancagem do mercado de construções e residências também dificultam o cenário de crescimento chinês. As elevadas taxas de crescimento do passado dificilmente se repetirão no futuro.

Ideias chave:

  • O modelo chinês de crescimento seguiu a estratégia de sucesso do Japão do pós-guerra, da Coreia do Sul e de Taiwan dos anos 70: exportações de manufaturas para a economia mundial.
  • Foi um modelo de estrondoso sucesso no sentido de criar complexidade tecnológica, capacidades locais de produção, aumentos de produtividade e crescimento sustentado de renda “per capita”.
  • A China passou para o grupo de economias sofisticadas do mundo em termos tecnológicos e se tornou a segunda maior economia do planeta.
  • O país tem conseguido prolongar seu processo de crescimento apesar das dificuldades da pandemia, da inflação mundial e da alavancagem de seu mercado imobiliário.
  • O modelo de crescimento da China depende ainda do mercado mundial e de estímulos do governo para investimentos na área de infraestrutura.
  • Os lockdowns ligados aos casos de Covid-19 e a superalavancagem do mercado de construções e residências dificultam o cenário de crescimento chinês. As elevadas taxas de crescimento do passado dificilmente se repetirão no futuro.

Fonte: valor econômico

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