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RH da pirataria’ e centrais na Argentina: operação contra apps de streaming ilegal no Brasil

Policiais apreenderam dinheiro e dispositivos eletrônicos em escritório alvo de busca em operação contra streaming pirata – Foto: Reprodução

A derrubada de serviços de streaming pirata como o My Family Cinema e o TV Express foi resultado de uma investigação na Argentina contra um esquema bilionário que focava em clientes no Brasil.

Fora do ar há cerca de uma semana, os serviços eram usados por modelos de TV boxes como Duosat e BTV, vendidos no Brasil sem autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 

O My Family Cinema informou que “devido a questões de direitos autorais, esta marca deve encerrar permanentemente seus serviços”.

Nas redes sociais, dezenas de brasileiros reclamaram que os serviços não estavam funcionando. E, apesar de estarem relacionadas a plataformas com conteúdo pirateado, as queixas chegaram até mesmo ao ReclameAqui, site que recebe reclamações de empresas legítimas.

Entre sábado (1º) e terça-feira (4), 14 serviços já tinham saído do ar, segundo a Alianza, associação de empresas contra pirataria audiovisual na América Latina que denunciou o esquema na Argentina.

A entidade diz que o número de serviços derrubados deverá subir para 28 até o final de novembro.

Os aplicativos tinham cerca de 6,2 milhões de assinantes ativos, sendo 4,6 milhões no Brasil, segundo a Alianza. A associação diz que os serviços chegaram a 8 milhões de usuários em junho e suspeita que o Mundial de Clubes, realizado neste período, levou a um pico de contratações.

Clientes dos serviços de streaming pirata pagavam de US$ 3 a US$ 5 por mês cada um (entre R$ 16 e R$ 27 por mês) para ter acesso indevido a conteúdo como filmes, séries e transmissões esportivas.

A prática gerou um alerta em entidades como La Liga, que administra o campeonato espanhol e passou a contribuir com a investigação.

A estimativa é que o esquema teve faturamento anual entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões (de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão), segundo a Alianza. E foi derrubado após uma investigação que começou ainda em 2024.

A Anatel não participou dessa investigação, mas orienta usuários de TV boxes a comprarem apenas aparelhos certificados pela agência para “garantir a segurança do consumidor e evitar a prática de atividades ilícitas”.

Como foi a investigação?

A operação partiu de uma denúncia feita pela Alianza, que, em 2024, decidiu investigar por conta própria o aplicativo MagisTV (também conhecido como UniTV e HTV), que oferece acesso indevido a conteúdos protegidos por direitos autorais.

Representantes da associação compraram modelos de TV boxes com o MagisTV em diferentes revendedores para obter mais informações sobre essas plataformas.

Em setembro de 2024, a entidade apresentou uma denúncia para o departamento de investigação de crimes cibernéticos do Ministério Público Fiscal de Buenos Aires, que iniciou uma investigação formal.

Escritório na Argentina alvo de busca em operação contra serviços de streaming pirata — Foto: Reprodução

Escritório na Argentina alvo de busca em operação contra serviços de streaming pirata – Foto: Reprodução

Em agosto de 2025, a Justiça autorizou buscas em quatro escritórios de empresas que pareciam legítimas, mas funcionavam como centrais do esquema de conteúdo pirata.

Um desses escritórios tinha cerca de 100 funcionários contratados de acordo com a legislação trabalhista da Argentina e com apoio até mesmo de um setor de Recursos Humanos.

Policiais apreenderam 88 notebooks, 10 pen drives, 37 discos rígidos e 568 cartões de recarga para liberar conteúdo nas TV boxes.

Autoridades encontraram ainda 9,4 milhões de pesos argentinos (cerca de R$ 35 mil) e US$ 3.900 (R$ 21 mil), além de carteiras digitais com US$ 120 mil (R$ 640 mil) em criptomoedas.

Por que o esquema estava na Argentina?

Apesar de ser o centro desse esquema, a Argentina não é o principal destino das TV boxes ilegais. O país tem um mercado relativamente pequeno para as caixinhas de TV, que têm como público-alvo usuários em países como Brasil, México, Equador e África do Sul.

Mas o mercado restrito na Argentina também contribui para que o esquema seja levado para lá, avaliou Jorge Alberto Bacaloni, presidente do conselho da Alianza.

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