Política

Santiago Peña é eleito presidente do Paraguai, confima hegemogia do Partido Colorado

O candidato governista Santiago Peña, do Partido Colorado, foi eleito presidente do Paraguai. A eleição no país vizinho ocorreu neste domingo (30). Diferentemente do que ocorre no Brasil, não há segundo turno no Paraguai.

Com 99,89 % das urnas apuradas, o resultado é o seguinte:

  • Santiago Peña: 42,74 %
  • Efraín Alegre: 27,48 %
  • Payo Cubas: 22,92 %

O cenário mostrou um erro nas pesquisas de intenção de voto. Um levantamento da AtlasIntel realizado neste domingo mostrava um empate técnico, com Efraín Alegre levemente à frente de Peña, com 37,6% a 36% (margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos).

Com o resultado, o Partido Colorado segue sua hegemonia na política paraguaia, com uma breve interrupção entre 2008 e 2012, quando o esquerdista Fernando Lugo ocupou a presidência do país vizinho. Ele deixou o cargo após um processo de impeachment.

Contexto internacional

As eleições no Paraguai são de grande interesse para o governo brasileiro, já que os dois países são proprietários da usina hidrelétrica de Itaipu. Durante a campanha eleitoral, Peña não foi muito explícito sobre qual seria sua postura em relação às negociações do tratado da binacional.

Historicamente, o Paraguai reivindica melhores pagamentos pela energia excedente que for gerada pela usina, mas Peña não foi claro sobre como pretende abordar esta questão neste ano, em que está prevista uma revisão de parte do tratado que calcula o custo da tarifa para ambos os países.

Outro detalhe importante é que o Paraguai é o único país da América do Sul que reconhece Taiwan como um país, e isso pode ser um impasse para os anseios do Mercosul.

Em janeiro, durante reunião bilateral, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, mencionaram a intenção de iniciar negociações entre o Mercosul e a China para o estabelecimento de um tratado de livre comércio.

Porém, com o Paraguai reconhecendo Taiwan como um país, isso impede a negociação. O governo paraguaio, inclusive, sofre pressão de produtores rurais para estabelecer relações com a China. Sem esse tipo de relação, as exportações para China são feitas via Brasil ou via Argentina, o que acaba acarretando em perda de dinheiro.

O agora presidente eleito Santiago Peña já disse que é possível manter um reconhecimento de Taiwan e, ao mesmo tempo, manter relações diplomáticas com a China.

O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, reforça que as negociações acerca da hidrelétrica de Itaipu “já resultaram em recente aumento do preço da energia que o Brasil paga para o Paraguai”.

“O presidente Lula tem definido a questão desta negociação envolvendo o Mercosul e a União Europeia como fundamental. Então, a definição do presidente do Paraguai obviamente acaba interferindo nisso, porque eventualmente o Paraguai pode até colocar isso como condição nesta negociação, do preço da energia de Itaipu”, avalia.

Noronha destaca que é preciso também analisar a conjuntura geopolítica, principalmente a questão envolvendo Taiwan. “O Paraguai cobra um investimento mais forte de Taiwan: havia uma promessa no começo do ano de um investimento de US$ 1 bilhão, que acabou não sendo efetivado até o momento.”

Segundo o analista, esse investimento é considerado como fundamental para os paraguaios. “O Paraguai, apesar de ter uma economia relativamente estável, tem uma questão social, com desempenho e pobreza elevados.”

Na opinião de Noronha, a busca pelos investimentos estrangeiros, “acaba colocando uma questão de influência regional importante entre Estados Unidos e China: quem vai manter um controle maior na América Latina?”

Hegemonia do Partido Colorado

Para Noronha, há uma “razão histórica” que justifica a hegemonia do Partido Colorado no Paraguai. “Porque o partido acaba controlando muito toda a máquina federal. Diga-se de passagem, um dos problemas que [o país enfrenta] é a questão da corrupção.”

“[Com] esse problema da corrupção, você acaba estendendo a influência do partido por muitos outros partidos, e essa perpetuação acaba ficando muito forte, muito nítida.”

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