Mãe Bernadete, líder quilombola, é homenageada pela multidão, com samba, ritual religioso e caminhada
Ialorixá foi enterrada no mesmo cemitério onde foi sepultado o filho mais novo há seis anos. Ele também foi assassinado e, até hoje, o crime permanece sem solução. As Nações Unidas cobram agilidade nas investigações.
Uma multidão participou da despedida de Mãe Bernadete, uma das mais importantes líderes quilombolas do país. Ela foi assassinada na última quinta-feira (17), na Bahia.
Mãe Bernadete foi homenageada com uma caminhada pelas ruas da cidade de Simões Filho e com um ritual do candomblé. No fim da manhã, o corpo dela foi levado para Salvador.
Vestidos de branco, representantes de comunidades quilombolas de várias partes do país, amigos e parentes lotaram o cemitério Ordem Terceira de São Francisco para a última homenagem à ialorixá. Sob forte comoção, eles pediram justiça pelo assassinato da líder quilombola.
“Eu peço a todas as autoridades presentes, eu não quero que essa atrocidade vire estatística”, bradou uma das presentes.
Na ultima quinta-feira (17), Mãe Benardete assistia à televisão com três netos, quando dois homens que usavam capacetes invadiram a casa, tiraram os adolescentes da sala e executaram a ialorixá com vários tiros, fugindo em seguida.
Ela vinha denunciando ameaças e violências contra a comunidade quilombola Pitanga dos Palmares e fazia parte do programa de proteção aos defensores de direitos humanos do governo federal.
Foto: Janaína Neri
A secretária de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia, Ângela Guimarães, disse neste sábado (19) que os familiares da Mãe Bernadete foram retirados da comunidade Quilombo Pitanga do Palmares como medida de proteção. De acordo com Ângela, equipes da pasta e policiais estão na comunidade para dar segurança aos moradores.
Mãe bernadete foi assassinada na quinta-feira (16) em sua casa, localizada no próprio quilombo, que fica no município de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. Segundo testemunhas, dois homens são os responsáveis por matar a idosa de 72 anos.
No sepultamento do corpo da Yalorixá Bernadete Pacífico, a líder quilombola foi homenageada com samba, caminhada pelas ruas de Simões Filho e com ritual candomblecista.
“Estamos dando todo o acolhimento. Obviamente a comunidade está assustada, porque ninguém esperava uma situação tão brutal e tão torpe. Estamos com a presença da Polícia Militar e retiramos os familiares para eles não ficarem na comunidade. Também estamos identificando as pessoas que necessitem dos programas de proteção a vítimas e de defensores de direitos humanos”, disse Ângela após o sepultamento.
A secretaria informou que as investigações estão em curso e que há uma determinação do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, para uma apuração rigorosa por parte das polícias Militar e Civil. O principal objetivo é descobrir os autores e possíveis mandantes do crime. A Polícia Federal também abriu inquérito para investigar o caso.
Mãe Bernadete era coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho. Ela foi morta a tiros em sua casa e terreiro religioso, enquanto assistia televisão com dois netos e mais duas crianças. Ela já vinha denunciando há algum tempo a diversas instâncias governamentais que estava sendo ameaçada de morte.
Para o coordenador da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) Denildo Rodrigues, conhecido como Biko, o cenário é preocupante, ainda mais na Bahia, estado que registrou, segundo a entidade, pelo menos 11 mortes de quilombolas nos últimos 10 anos.