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Temporais no RS matam 32, tem 70 desaparecidos, inundam cidades e isolam moradores

Em uma destruição considerada sem precedentes no Rio Grande do Sul, as fortes chuvas que atingem o estado deixaram ao menos 32 mortos desde segunda-feira (29), 70 desaparecidos, 36 feridos e quase 15 mil pessoas fora de suas casas. Os alagamentos arrastaram construções e isolaram moradores.

A falta de acesso, somada às condições climáticas, dificulta o resgate e o restabelecimento de energia elétrica para mais de 320 mil imóveis, segundo os balanços das concessionárias RGE e CEEE Equatorial. A concessionária Corsan diz que cerca de 542 mil clientes estão sem abastecimento de água.

O governador Eduardo Leite (PSDB) decretou calamidade pública no estado e fez um apelo para moradores de áreas de risco: “Saiam de suas casas e busquem locais seguros”, alertou, em vídeos oficiais.

A orientação para evacuação abrangia na madrugada de quarta (1º) cidades do vale do Taquari, como Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Arroio do Meio, Encantado e Lajeado. Nesta quinta (2), o aviso foi estendido para moradores das cidades serranas que estejam próximos ao rio Caí, como as turísticas Gramado e Canela, além de São Francisco de Paula, Nova Petrópolis, Vale Real e Feliz.

Em Estrela e Lajeado, o nível do rio Taquari passou, pela primeira vez, a marca dos 30 metros –o nível ultrapassa as enchentes de 2023 e 1941, segundo o MetSul.

Rodoviária de Porto Alegre (RS) ficou debaixo d’água – Crédito: Isadora Aires/CNN – 3.mai.2024

Uma das comportas do lago Guaíba –o portão 14– se rompeu nesta sexta-feira (3) e coloca em risco a população da zona norte de Porto Alegre (RS). A informação foi confirmada pelo diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss.

Segundo Loss, ainda não é possível mensurar as consequências do rompimento. O diretor afirmou que a água já está invadindo a avenida Sertório, podendo chegar ao shopping DC no bairro Navegantes e ao bairro Humaitá.

“Aquele portão é um pouco estreito. Não é um dos maiores portões que temos. Mas neste momento não conseguimos dimensionar até onde a água pode se estender. Ali é uma região plana: ele pode avançar Sertório adentro.. A gente ainda não consegue prever”, disse Loss.

O prefeito Sebastião Melo (MDB), afirmou que “parte do 4º Distrito já está sendo afetada”. “O tamanho do [estrago] vai depender, agora, com o rompimento deste portão. Eu não posso dizer se vai até a [avenida] Farrapos ou se não vai até a Farrapos”, acrescentou.

O chefe do Executivo citou locais que, segundo ele, requerem “atenção especial”. São eles: Guarujá, Ponta Grossa, Túnel Verde, Sarandi. O bairro Sarandi, inclusive, tem situação ainda mais delicada. Isso porque, de acordo com o prefeito, as casas de bombas para auxiliar no escoamento da água não estão mais funcionando.

Mesmo antes do rompimento, a situação do portão 14 já era motivo de preocupação. Segundo Maurício Loss, um tanque do Exército estava sendo direcionado ao local para ajudar a escorar o equipamento.

Loss acrescentou que, no momento, “não vê problema” no muro localizado no Cais Mauá. “Mas os portões podem ter problema. Tanto que tanques do Exército estão chegando para fazer o escoramento.”

Com transbordamento do Guaíba, ruas de Porto Alegre ficaram debaixo d’água – Crédito: Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo

Em Putinga, também na região do Taquari, uma casa foi arrastada pela força da enxurrada na quarta-feira. A cidade pode sofrer ainda mais inundações com o risco de rompimento da barragem de Santa Lúcia, capaz de alagar toda a área central.

A prefeitura anunciou que um duto extravasor foi ampliado para aumentar a vazão e não forçar a estrutura da barragem, que está no limite máximo de armazenamento.

A barragem 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves, às margens do rio das Antas, se rompeu parcialmente na tarde desta quinta. Como o nível do rio já estava elevado, os efeitos não devem ser de enxurrada, na avaliação do governo. “O nível do rio já estava muito elevado”, disse Leite. “Já tínhamos feito evacuação de pessoas em algumas localidades e ainda tentamos dar apoio aéreo.”

A estrutura pertence a um complexo de geração de energia. A Aneel e o ONS (Operador Nacional do Sistema) acompanham a situação de outras cinco barragens do tipo.

Por volta das 16h50, a Defesa Civil estadual emitiu um alerta à população de Bento Gonçalves e Pinto Bandeira para o risco de rompimento da represa de São Miguel.

Segundo Leite, as operações de resgate são dificultadas em muitos pontos em razão do clima. Durante a semana, aeronaves de Santa Catarina e São Paulo tiveram problemas para entrar no espaço aéreo gaúcho.

Em municípios como Putinga e Cotiporã, os ventos e chuvas prejudicaram a chegada de helicópteros. “[Há] Todo o esforço no sentido de levar aeronaves para esta região, mas infelizmente as condições climáticas não tem permitido que a gente acesse essa localidade”, disse o governador.

Na terça-feira (30), as primeiras operações aéreas foram feitas próximas a Sinimbu e Candelária, e a Defesa Civil havia pedido à população que se possível fizesse sinalizações luminosas para facilitar a identificação dos pontos de resgate. Militares da FAB (Força Aérea Brasileira) estão usando óculos de visão noturna para o resgate de vítimas das enchentes.

Ao menos 110 pessoas haviam sido resgatadas até a manhã de quinta-feira, dentre elas oito pacientes de hemodiálise, duas gestantes e uma criança de dois anos em estado crítico que estava hospitalizada em Faxinal do Soturno e foi encaminhada para Santa Maria.

Em São Sebastião do Caí, o aposentado Osmar dos Santos Tomás, 81, foi retirado pelos bombeiros após ficar ilhado no segundo andar de casa. O barco de resgate encostou em uma parte alta da cerca da casa para conseguir alcançar o idoso.

O resto da família havia deixado a casa na quarta, ele preferiu ficar, mas precisou sair após o aumento da inundação. “A gente ficou sem comida, porque está tudo fechado e a gente não se preveniu, porque quando nos demos conta os mercados já estavam recolhendo tudo.”

Agentes do exército na cidade fizeram a última leva de transporte de desabrigados no começo da tarde. O rio Caí atingiu a marca de 17,01 m às 16h30. Como o leito segue subindo, as operações agora vão ocorrer por via aérea ou embarcações.

De acordo com a Defesa Civil estadual, a chuva provoca danos em 154 municípios e afeta 71.306 pessoas. Às 18h desta quinta eram 139 trechos em 60 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.

Somente a TIM afirmou que há não consegue fornecer internet e telefonia para 84 municípios. Vivo e Claro dizem que o problema atinge 48 cidades.

Todas as 2.338 escolas estaduais do Rio Grande do Sul suspenderam as aulas. Ao todo, 494 unidades no estado foram afetadas (danificadas, servindo de abrigo, com problemas de transporte, de acesso e outros).

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