Valdivino Braz: poeta goiano que rompe fronteiras
Tive e ainda tenho o privilégio de conviver com o jornalista, escritor e poeta Valdivino Braz, por isso posso afirmar de cátedra que ele é gente da melhor qualidade. Fomos contemporâneos na Universidade Federal de Goiás e trabalhamos juntos como revisores e repórteres-redatores
nos principais jornais de Goiás, inclusive neste conceituado e respeitado Jornal Universo On-line. Foram muitas as cervejas que tomamos juntos, e, na maioria das vezes, usufrui do privilégio desse grande poeta declamar versos apenas para este jornalista. Até algumas partidas de futebol jogamos juntos, simplesmente em chácaras de amigos, como no Estádio Serra Dourada, nas partidas envolvendo poetas, prosadores e convidados como
este aprendiz de articulista. Portanto, é com grande alegria que recebi a notícia, através da Coluna Café da Manhã, do guru Ulisses Aesse, dos novos prêmios conquistados por Valdivino Braz, aos 74 anos de idade. Sagrou-se duplamente vencedor na 23ª edição do Concurso Sesi
Arte e Criatividade, conquistando prêmios com o conto ‘Na linha do trem’ e o poema ‘A lua no milharal’.
Valdivino Braz também foi finalista no Prêmio Off Flip de Literatura 2017, evento paralelo e complementar à 15ª Festa Internacional Literária de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro, com o poema ‘Os bois do tempo’, que integra coletânea em e-book, com download gratuito aos
leitores. De outra parte, oito anos, esse estupendo escritor aguarda publicação da obra poética ‘Lepidópteros lambem o musgo dos paralelepípedos’, premiada, em 2014, pela Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da Prefeitura
de Goiânia.
Poeta contemporâneo, um dos mais significativos das nossas letras, Valdivino Braz já tem vários títulos publicados: “Cavaleiro do Sol” (contos, livro de estreia), “As Faces da Faca” (poemas), “A Palavra por Desígnio” (poemas), “O animal político de Aristóteles” (caderno satírico, ilustrado pelo cartunista Fróes) “As Lâminas de Zarb” (poemas), “Arabescos num Chão de Giz” (poemas), “A Trompa de Falópio” (poemas), “A dança do intelecto” (poemas), “Bazar do Braz – Poemas & Anzóis”, “Agora que os dias e as andorinhas se foram” (poemas), “O caos iluminado” (poemas). Os romances “O gado de Deus – Livro do ressentimento”, Prêmio Colemar Natal e Silva, em 2010, da Academia Goiana de Letras, para obra publicada) e “Redemoinho”, Prêmio da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, de 2011.
Agraciado com diversos troféus, entre eles o Troféu Tiokô, conferido pela União Brasileira de Escritores de Goiás; Troféu Leodegária de Jesus, da Academia Goiana de Letras; medalha de Mérito Cultural do Governo de Goiás/Conselho Estadual de Cultura; e Troféu Buriti, da Prefeitura de Goiânia/Secretaria Municipal de Cultura. Braz é um dos escritores mais premiados de Goiás, ao lado, por exemplo, de Delermando Vieira e Gabriel Nascente, aliás, conforme enfatizou Ulisses Aesse, “um tríduo que tem projetado a literatura goiana lá fora”. A obra de Braz, conhecido também por Zarb (inverso de Braz), se sobressai pela inventividade linguística e o alto teor crítico. Sua obra poética é riquíssima e passeia pela sátira, infância, historicidade, erotismo, sobrenatural, censura e a metalinguagem, sem falar naturalmente nos aspectos filosóficos, o que, com certeza, tem contribuído para as várias e importantes premiações conquistadas por ele, ao longo de sua rica carreira.
“Os vários aspectos levantados sobre a obra de Valdivino Braz, desde a sua inserção crítica no mundo em que vive, até os elementos de vanguarda que caracterizam sua obra poética, além
dos inúmeros livros que escreveu e as premiações que detém, valendo destacar o livro ‘Trompa de Falópio´, poemas (Prêmio Cidade de Belo Horizonte de Literatura, em 1992), apontam-no como um dos escritores mais significativos da Literatura Brasileira Contemporânea”, enfatiza reportagem da Revista Banzeiro, que se encontra a disposição dos internautas no site: banzeirotextual.blogspot.com.br. Ao todo, Valdivino Braz já publicou 16 livros, nove deles premiados em concursos literários. Em 2011, o autor visitou partes da Europa: Holanda (Amsterdã e outras localidades), Londres, Paris e Bruxelas (Bélgica).
Hoje aos 80 anos, Braz se dedica à conclusão de um prometido e sempre adiado meta-romance, um complexo mosaico. Segundo ele, “a obra é um misto de alegórica paródia, escrita a espaços esporádicos e já ao longo de quase seis décadas (desde 1966), e agora em processo de revisão, sendo reescrito e atualizado em alguns aspectos”. Braz acrescenta que até daria para publicar o livro em dois volumes, mas pretende que seja apenas em um só volume. “A criatura suplanta o criador. Então tenho que efetuar, pesarosamente, alguns cortes nos originais, e ver se consigo publicar o calhamaço, no tempo de vida que ainda me resta. Agora, é como se diz: urge, que a fera ruge”. Encerro este com um dos poemas de Zarb, um dos meus favoritos: “Os homens no Bar(co) / Os homens envelhecem no bar,/bebendo as palavras salobres da noite/e cuspindo o zinabre corrosivo do tédio./Na longa travessia das horas,/destiladas pelos copos,/sabem o cansaço dos corpos, os vincos nas faces vulneráveis/e a vida moída pela mó do inexorável./Sabem nesta hora o íntimo silêncio/em que os gestos se anulam,/os olhos no vazio vagam,/e cada homem diz a si mesmo coisas/uns aos outros indizíveis./Sabem agora a solidão sozinha/do lobo ferido no ermo do mundo,/e os inevitáveis borrões vermelhos da sangria/própria do que é vivo e dói./E morrem os homens, à mesa do bar,/barco de náufragos no mar de espuma/da última
cerveja.”
João Nascimento