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Vídeo de suposta decapitação de soldado da Ucrânia choca até o Kremlin

Os vídeos estão circulando nas redes sociais e gerando onda de críticas contra a Rússia.

Dois vídeos que supostamente mostram soldados da Ucrânia degolados e que viralizaram em perfis pró-Rússia nas redes têm sido alvo de condenações pelo mundo -por parte de líderes ucranianos e até mesmo do Kremlin, que chamou um deles de “terrível” nesta quarta-feira (12).

Nenhum dos vídeos teve sua autenticidade confirmada. O mais chocante deles, que mostra um homem tendo sua cabeça cortada por outro, não aparenta ser recente, uma vez que tem ao fundo plantas de um verde intenso -ou seja, provavelmente não foi filmado nos últimos meses, de inverno. Já o outro exibe o chão coberto de folhagens, o que poderia indicar que foi gravado recentemente.

O site The Insider, especializado em jornalismo investigativo, destrinchou o conteúdo do primeiro vídeo. O veículo afirma que ele exibe um soldado uniformizado com uma braçadeira amarela, possivelmente um prisioneiro de guerra ucraniano, deitado no chão.

Outro homem, este usando uma braçadeira branca na perna -símbolo associado a combatentes russos- então decapita o suposto detido com uma faca, cujos gritos podem ser ouvidos. Outros homens cercam a dupla e incentivam o homem com a arma. “Vamos ao trabalho, parceiros! Corta isso! Quebra a espinha dele! Você nunca degolou uma pessoa antes? Tem que ir até o final”, afirmam, em russo. Eles também exibem para a câmera um colete à prova de balas com uma insígnia ucraniana que pertenceria à vítima.

Quando a cabeça é enfim separada do resto do corpo, a pessoa que filma o vídeo diz, também em russo: “Agora põe isso numa bolsa e envia para o comandante”.

O Insider afirma que a filmagem foi postada no canal do Telegram de Vladislav Pozdniakov, fundador de um grupo nacionalista Male State, conhecido por ameaçar virtualmente mulheres, negros, e membros da comunidade LGBTQIA+, e reproduzida por vários perfis pró-Rússia na plataforma.

Já o outro vídeo teria sido filmado por membros do Grupo Wagner, descrita por muitos como uma organização mercenária, de acordo com a CNN. Nele, corpos do que parecem ser dois soldados ucranianos sem cabeças ou mãos estão estirados no chão ao lado de um tanque completamente destruído.
Uma voz por trás da câmera, aparentemente distorcida para impedir sua identificação, então diz que o veículo tinha sido destruído por uma mina e ri dos mortos.

Ainda segundo a CNN, alguns russos afirmam nas redes sociais que o vídeo pode ter sido filmado perto de Bakhmut, no leste da Ucrânia, um dos principais fronts da guerra nos últimos meses e onde combatentes do Grupo Wagner estão profundamente envolvidos.

Ambos os governos russo e ucraniano comentaram apenas o primeiro vídeo. Apesar de ter admitido o horror da gravação, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, insistiu que é necessário verificar sua autenticidade em seu encontro regular com a imprensa na quarta-feira.

“É claro que são imagens terríveis. Isso deve ser a razão para checar se são verdadeiras ou não, se isso de fato aconteceu e, em caso afirmativo, onde e por parte de quem”, disse ele. A Rússia nega que suas tropas tenham cometido atrocidades durante a guerra, e alguns perfis pró-Moscou nas redes já sugeriram, sem apresentar evidências, que as forças ucranianas seriam as verdadeiras responsáveis pelas decapitações, em uma busca por impedir a identificação posterior dos corpos.

A alegação é semelhante à do fundador do Grupo Wagner, Ievguêni Prigojin, que em janeiro disse que suas tropas haviam encontrado corpos com as cabeças e mãos cortadas perto de Bakhmut.

Já o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, comparou o autor da decapitação no vídeo a um animal em uma mensagem em vídeo publicadas em suas redes. “Há algo que ninguém no mundo pode negar: o quão facilmente essas feras matam”, disse.

Seu chanceler, Dmitro Kuleba, optou por outra analogia. Ele declarou que os russos eram piores que o Estado Islâmico, organização terrorista conhecida por divulgar vídeos degolando prisioneiros seus no Iraque e na Síria entre 2014 e 2017, então parcialmente sob seu controle.

Kuleba também pediu que o Tribunal Penal Internacional -que recentemente emitiu um mandado de prisão para o presidente russo, Vladimir Putin- investigue o caso imediatamente. E criticou a suposta contradição entre Moscou assumir a presidência do Conselho de Segurança da ONU ao mesmo tempo em que supostamente emergem registros de atrocidades cometidos suas tropas. “Terroristas russos precisam ser expulsos da Ucrânia e da ONU e ser responsabilizados por seus crimes”, escreveu no Twitter.

Uma missão do Conselho de Direitos Humanos da ONU que monitora a situação no país invadido do afirmou estar em choque diante dos vídeos, descritos como “particularmente macabros”. “Infelizmente, este não foi um incidente isolado. Os últimos acontecimentos também precisam ser devidamente investigados e os agressores, responsabilizados”, declarou em comunicado.

Ao mesmo tempo em que a disputa retórica segue em frente, Moscou tenta avançar em matérias práticas. Nesta terça-feira, o Ministério de Defesa russo anunciou que realizou testes bem-sucedidos com um míssil balístico intercontinental (ICBM) descrito como “avançado” no Cazaquistão.

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