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Greta Thunberg é obrigada a beijar bandeira de Israel na prisão

Foto: Hasan Mrad/UCG/Universal Images Group via Getty Images

A sueca Greta Thunberg teria sido vítima de maus-tratos por parte das forças israelenses durante sua detenção. As alegações foram feitas por dois ativistas que integravam a Flotilha Global Sumud e que já foram deportados por Israel.

Cerca de 137 ativistas — turcos, norte-americanos, italianos, marroquinos, entre outros — desembarcaram no Aeroporto de Istambul no sábado, 4 de outubro, após serem deportados.

Em entrevista à Reuters, o ativista malaio Hazwani Helmi e o norte-americano Windfield Beaver relataram ter testemunhado os maus-tratos a Greta Thunberg, afirmando que a jovem foi empurrada e forçada a beijar a bandeira israelense.

“Foi um desastre. Eles nos trataram como animais”, disse Hazwani Helmi, de 28 anos, acrescentando que não receberam água potável nem comida, além de terem os medicamentos confiscados.

Já o ativista norte-americano, de 43 anos, contou que Greta foi “tratada de uma forma horrível” e “usada como propaganda”. Ele acrescentou que, quando o ministro israelense Itamar Ben-Gvir visitou o local onde os ativistas estavam detidos, Greta foi empurrada para dentro de uma sala.

Israel não comentou imediatamente as acusações. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores do país já havia afirmado que os relatos de maus-tratos eram “mentiras completas”.

Vale lembrar que, no sábado, a Suécia pediu a Israel que fornecesse imediatamente água potável, alimentos e tratamento médico aos cidadãos suecos detidos.

A declaração da diplomacia sueca veio horas depois de ativistas pró-palestinos denunciarem terem sido vítimas de violência e “tratados como animais” durante a interceptação da frota.

Por sua vez, o jornal britânico The Guardian informou que Greta disse às autoridades suecas que foi mantida em uma cela infestada de percevejos, com pouca comida e água.

As forças israelenses interceptaram, entre quarta e quinta-feira, a Flotilha Global Sumud, composta por cerca de 50 embarcações que seguiam para a Faixa de Gaza com o objetivo de entregar ajuda humanitária. Todos os participantes foram detidos, incluindo quatro cidadãos portugueses: a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e os ativistas Miguel Duarte e Diogo Chaves.

Também foram detidos 30 espanhóis, 22 italianos, 21 turcos, 12 malaios, 11 tunisianos, 15 brasileiros e 10 franceses, além de cidadãos dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, México, Colômbia e muitos outros países.

Os organizadores denunciaram a falta de informações sobre o paradeiro de 443 participantes da missão humanitária.

A descrição do ataque israelita no mar

Centenas de ativistas a bordo dos barcos foram detidos pelas forças israelenses e aguardam a deportação. Entre os detidos, encontravam-se os 137 cidadãos de 13 países, incluindo 36 turcos, que chegaram este sábado a Istambul.

“Fomos intercetados por um grande número de embarcações militares”, disse à AFP Paolo Romano, conselheiro regional da Lombardia, em Itália, no aeroporto de Istambul. “Todos os barcos foram atacados por agentes fortemente armados e trazidos para terra”, disse o jovem de 29 anos.

Obrigaram-nos a ajoelhar, de bruços. E se nos mexêssemos, espancavam-nos. Gozavam connosco, insultavam-nos e batiam-nos“, acrescentou Paolo Romano. “Usaram violência psicológica e física.”

Em Israel, foram levados para uma prisão, onde permaneceram presos sem permissão para sair e sem água, segundo o seu testemunho. “Abriam a porta à noite e gritavam connosco com armas para nos assustar”, acrescentou. “Éramos tratados como animais”.

O jornalista italiano Lorenzo D’Agostino, que também estava a bordo da flotilha, disse à AFP que “foram raptados em águas internacionais enquanto estavam a 55 milhas [pouco mais de 100Km] de Gaza”. “Passámos dois dias infernais na prisão. Agora estamos livres graças à pressão da opinião pública internacional que apoia a Palestina”, afirmou. “Espero sinceramente que esta situação termine em breve, porque a forma como fomos tratados é bárbara”, acrescentou.

Iylia Balais, uma ativista malaia de 28 anos, disse à AFP que a interceção dos barcos por Israel foi “a pior experiência” que já teve. “Fomos algemados com as mãos atrás das costas, não conseguíamos andar, alguns de nós foram obrigados a deitar-se de bruços, depois foi-nos negada água e alguns de nós não receberam medicação”, relatou.

Transporte para Istambul

Os ativistas foram levados para Istambul num avião fretado especialmente pela Turkish Airlines. Os familiares dos ativistas turcos aguardavam a sua chegada na sala VIP do aeroporto de Istambul, agitando bandeiras turcas e palestinianas e gritando “Israel, assassino”. Os ativistas turcos deveriam realizar exames médicos à chegada e comparecer no tribunal no domingo para prestar depoimento, disseram os seus advogados.

A Turquia denunciou a interceção da flotilha por Israel como “um ato de terrorismo” e anunciou na quinta-feira que tinha aberto uma investigação. Numa mensagem publicada no X, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, elogiou os ativistas como “pessoas corajosas que deram voz à consciência da humanidade” e disse que Ancara garantiria o repatriamento de todos os seus cidadãos, sem fornecer um número total.

O ativista líbio Malik Qutait disse não ter medo e prometeu continuar a tentar chegar a Gaza. “Reunirei o meu grupo, organizarei o fornecimento de medicamentos e ajuda humanitária, encontrarei um barco e tentarei novamente”, concluiu.

137 deportados de 12 países

Israel procedeu este sábado à deportação de 137 ativistas pró-palestinianos da Flotilha Global Sumud para a Turquia. De acordo com o Governo israelita, trata-se de cidadãos dos Estados Unidos, Itália, Reino Unido, Suíça, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Marrocos, Kuwait, Líbia, Malasia, Mauritania e Tunísia.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo português, contactado este sábado pela Lusa, disse que ainda não tem data nem hora previstas para o regresso dos quatro portugueses, participantes na flotilha.

A equipa jurídica da Flotilha Global Sumud em Israel, por seu lado, disse que se reuniu com 80 participantes, de um total de mais de 400 detidos, adiantando que tinham sido realizadas 200 audiências judiciais, entre quinta e sexta-feira, “sem aviso prévio aos advogados” e, por isso, “sem a assistência da ONG Adalah, responsável pela defesa”.

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